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Mostrando postagens de dezembro, 2024

OCULTAS DORES

  Guardo minhas dores,  não as exponho,  sigo com elas  esta travessia. As pessoas  não as resolveriam,  inútil contar,  compreenderiam?  Não as curam... Dores nas vísceras,   articulações,  dores de todo tipo,  de falta de gente, mais tardios cansaços,  sinalizam um poente... Os caminhos  sem saida  ainda ecoam,  lançam arrependimentos  e tristezas  de antigos becos  inconscientes, escondidos no passado. Refletem nos olhos  que a tudo desvendam  em suas inutilidades,  às poucas vozes,  econômicas,  de convencimento,  na falsa estrutura  que nos ocupa  integralmente. Dor completa,  não compartilhada. Este silêncio  que tem fome,  e não come;  sede,  e não bebe;  sono,  e não dorme,  aumenta o tamanho  da dor.  Silêncio medido  de energia declinante... A esperança  de que tudo  pode ser melh...

SE DEIXO...

  Se deixo,  tudo me ocupa,  não sobra nada  para mim. Se deixo,  as ocupações ocuparão  os vazios de mim,  enquanto não me encontro. Se deixo,  uma grande despedida estará  sempre me esperando,  enquanto não chega  o fim.  Se deixo,  não encontrarei  mais tempo,  e tudo estará  acabado de vez.  Se deixo,  a vida terá sido  distraída e fugidia,  repleta de nada.  Deixo a mim  este lapso de liberdade,  apertado entre buscas vãs,  e me despeço  para nunca. 27/12/2024 João Paulo Naves Fernandes

CEIA SOLITÁRIA

  O esquecimento é rápido,  as lembranças demoradas. O ontem desapareceu,  mas as partidas são longínquas, eternas, nunca morrem.  Vem dia, vai dia, José  nunca mais ligou,  Pedro desapareceu. Fico a pensar   como o presente  é duro e solitário, só o passado  é recheado de gente. Cumprimento Ciça,  ela vira a esquina e... será que volta? já os que partem,  muitas vezes,  sem despedida,  sempre estão comigo presença gotejante  permanente.

Pequena Hermenêutica do Amor. ( a Vinicius de Morais)

Que o amor seja  o do amanhã,  mais do que  do hoje,  ainda que seja  o mesmo. Possa eu dizer  um "te amo"  que ultrapasse  mantras,  ressoe  novas formas,  sem perder  o agora. Amo-te  num multiforme  infinito,  mais descoberto,  do que amado. Basta o gozo  do agora, e os méritos  dos que vem  de fora. Deixe enlaçarem-se  as línguas do tempo,  vaginas de eras inteiras,  enquanto abraçam  novas formas,  escondidas  desde antes,  quando se realizaram. Por hora,  entrega-me  teu ser inteiro  para eu inteiro,  e sejam depois,  escavações  intermináveis.

VERSOS SOLITÁRIOS

  Escrevo com o povo versos solitários. Andam errantes como quem não sabe o dia em que come, o lugar onde dorme. São versos excluídos, seus escritos são proscritos. São palavras que não ecoam, a maioria escuta apenas suas próprias lamentações . Versos expulsos das praças, gritam a surdos, escapam pelos vãos das incompreensões. Quisera versos despertos ouvidos atentos, poemas engajados, mas discriminado, encontro apenas versos solitários.

POR FAZER

  Tenho um abraço por dar... eles estão esperando,  mas a iniciativa é minha. Um beijo por dar;  não esperam,  mas é minha a iniciativa. Uma visita por fazer, talvez esperem,  talvez não,  não importa.  porque a iniciativa é minha. Tenho uma estrada a percorrer,  e existem muitos nela,  ocupados consigo mesmos.  Ocupar-se com o nós  na estrada, é minha iniciativa. Abraçar,  beijar,  visitar,  percorrer a estrada,  não espera,  se faz...

SINAIS SEM MAIS

  O ponto é o fim. As reticências são fins abertos. O parênteses é uma incapacidade de se explicar. A interrogação transfere dúvidas.  A exclamação dá sustos.  A vírgula é um pensamento  alongado.  As aspas querem ser diferentes. O acento é amigo do ritmo. Os dois pontos são uma formalização.  O hífen é uma velha bengala da palavra.  A apóstrofe é uma arritmia respeitosa. O travessão discrimina a letra. O ponto e virgula quer parar, nas não consegue.

NA ESTRADA

  Sempre estive  na estrada,  sempre  caminhando. Encontrei de tudo  por onde andei,  chupei frutas,  colhi ervas amargas.  Estavam todas na estrada.  De vez em quando  olhava o céu  e respirava,  tão grande estrada,  mais longa  que meus pequenos  sonhos. Optei pela realidade,  vi a fome vi o abandono, encontrei no amor  algo diferente de tudo,  ultrapassava.  Experimentei a dor,  e vi o quão só  ela nos deixa. Ainda caminho  nesta estrada. A subida  contorna o fim. Ela nunca acaba. Acabo eu,  mas a estrada  continua,  nua,  cruel,  mel...

PONTO DE ENCONTRO - Rádio Costa Azul FM - PROGRAMA 10/12/2024