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Fé em vida após a morte pode ajudar a superar tragédias?



Trago uma pesquisa que saiu no IG sobre a questão da fé na superação da dor da perda, feita por uma psicóloga.

Para ela quem tem fé em vida pós morte consegue superar melhor a perda do ente perdido, do que quem não tem fé.

Muitos questionamentos pode-se levantar a este estudo, o que é muito bom, como por exemplo, qual o conceito de fé que ela utilizou, ou que vida pós morte foi pensada por ela, ao utilizar este conceito.

Eu posso ter uma fé baseada na visão de que se um fato tem ocorrido de determinada forma, deverá continuar a acontecer desta maneira; ou ter uma fé subjetiva num Ser Superior que me garanta uma vida eterna junto a Ele; ou ainda acreditar que de certa forma continuarei, quando meu corpo se desintegrar, e for absorvido por alguma raíz, e estarei numa árvore, e servirei de alimento a outros.

O leque de conceitos de fé e de vida pós morte é enorme, e parece que esta psicóloga colocou tudo em duas cestas: uma para a fé, e outra para a concepção de vida pós morte. Parece-me simplista, pois daí derivam muitas concepções escatológicas diferentes.

Se ela quis com o seu estudo provar que os ateus sofrem mais a separação que os espirituais, penso que não seria necessário ter feito a pesquisa, pois isto é percebido no próprio senso comum.

As pessoas naturalmente identificam quem tem mais ou menos fé, e relacionam imediatamente com o sofrimento maior ou menor da pessoa.

O que considero uma infelicidade da autora, foi não perceber que a fé está muito mais ligada à vida do que a morte.

A fé está ligada aos aspectos da vida, no sentido de torná-la melhor, propiciando real felicidade, real entendimento de valores humanos.

Não sofrer tanto quanto um ateu uma perda, é apenas um pequeno aspecto da fé, que perde importância diante da grandeza da vida.

O racionalismo contemporâneo não propicia a discussão de valores éticos e morais, caso desta pesquisa, relegando a beleza, a felicidade, o amor, a solidariedade humana, a esperança, para segundo plano.

Ao contrário, carrega um certo pessimismo, e se circunscreve nos valores básicos do alimentar o homem, o vestir o homem, o habitar o homem, o ver o homem morrer.

A fé não, ela parte de uma reflexão e de um consentimento pessoal do indivíduo, que consegue relacionar os fatos de sua vida com a presença de um Deus que o acompanha.

Não é algo que o homem consiga explicar claramente, mas pertence à dimensão humana desde o princípio, em suas interrogações sobre o significado da vida, o porquê vive, porque o sofrimento e a dor. A razão por si só não satisfaz esta curiosidade interior.

Quando o homem busca, a fé se desenvolve ou se definha, conforme a disposição ou não de quem procura. Está no terreno das opções: posso ser um materialista ou posso ser um espiritual. O que não posso é usar de um falsa fé para ausentar-me da vida. Porque existe muita fé falsa por aí, travestida de grande fortaleza e de exemplo para muitos, quando na verdade, paradoxalmente, a fé é um alegre reconhecimento de fragilidade do homem diante do Criador.

A fé é uma descoberta que o homem faz de um Deus que o procura em seu interior.

Descoberta que faz o homem se dispor a continuar, através de um diálogo íntimo com este Deus.

Diálogo que às vezes pode ser um monólogo para um Deus surdo, ou monólogo de Deus para um homem surdo. Ou de ausência de diálogo, e às vezes até de despedida.

Diálogo no silêncio, em linguagens verbais e não verbais, diálogo de escuta, de sinais, diálogo de ausência e presença do homem que se afasta e se aproxima.

Por isto Deus não pode ser considerado Deus, para amainar minha dor pela morte de alguém querido, mas para assoprar vida aonde ela não existe.

É o contrário da pesquisa.

Por outro lado vejo um grande mérito nesta pesquisa, ao projetar toda uma discussão sobre este tema.

Vejam o artigo da psicóloga Denise Gimenz Ramos


Acreditar na possibilidade de rever entes queridos após a morte auxilia a reagir melhor a perdas e tragédias ao longo da vida

Danielle Nordi, iG São Paulo .21/05/2011 07:46

As pessoas que têm profunda religiosidade se dão melhor em situações críticas. A afirmação é da psicóloga clínica e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Denise Gimenez Ramos. Esperança e otimismo estão ligados diretamente a acreditar num reencontro pós-morte ou mesmo em uma recompensa em outro plano. Os que creem em algo dirigem suas vidas com mais tranqüilidade e bem-estar, de acordo com a psicóloga.

Segundo Denise, quando o ser humano vivencia uma experiência mais grave, precisa buscar algum significado. E quem consegue encontrá-lo vive melhor. “A religiosidade dá muito apoio em situações difíceis, mas não está presente em nossas vidas para nos tornar seres passivos, que não lutam para mudar os cenários desfavoráveis”, ensina.


É preciso esclarecer que o fato de acreditar que a separação entre quem morreu e os que vivem é momentânea não deve impedir a pessoa de viver o luto. A psicóloga clínica Daniela Mafra de Oliveira explica que essa vivência consiste, entre outras coisas, em chorar e ter momentos de revolta, desespero e questionamentos. “Ser religioso ou ter uma crença não vai fazer o sofrimento sumir. O que acontece é que a dor poderá ser abreviada e a pessoa se sentir confortada diante das explicações que encontra nos ensinamentos da sua religião.”

Daniela explica que esse período de luto é extremamente necessário. Sofrer faz parte de um processo de cura. “Quem se permite sentir a dor da perda ou da fatalidade tende a conseguir retomar sua vida. Aqueles que se recusam a fazê-lo, ou se enchem de atividades para não ter tempo de pensar no que aconteceu, podem ter que lidar com isso, de maneira mais intensa, no futuro. É o famoso ‘cair a ficha’.”

Existem pessoas que atribuem tudo que acontece a um ser supremo. Essa postura demonstra uma falta de discernimento. Daniela insiste na necessidade de fazer todos entenderem que todos precisam agir e ter iniciativa diante dos acontecimentos. “A pessoa que dá a Deus ou a outro ser supremo a função de realizar tarefas que deveriam ser suas, colocam-se numa posição de extrema acomodação diante da vida.”





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