Pular para o conteúdo principal

Mãe de Santo ocupa lugar na Academia de Letras da Bahia

Retirado do Portal CTB
Eleita por unanimidade, a mãe de santo baiana Stella de Oxossi foi empossada nesta quinta-feira (12) na ALB (Academia de Letras da Bahia). Ela passou a ocupar a cadeira 33, cujo patrono é o poeta abolicionista Castro Alves. “Levei um choque, pois é uma coisa que não é comum”, afirmou a primeira mãe de santo a entrar para uma Academia de Letras no país. “Depois vi que foi a comunidade que proporcionou isso e achei uma recompensa”, alegrou-se Mãe Stella. A escritora revela a felicidade de receber o título. “Somente no século 21 alguém teve a coragem de prestar esse reconhecimento, não a mim, mas à minha religião tão discriminada e aos afro-decendentes. Essa homenagem representa uma glória pessoal, mas também marca a vitória de uma causa, a causa da mulher brasileira”, reforça.
mae estella
O presidente da ALB desde 2011, Aramis Ribeiro Costa, confirma a importância da eleição de Mãe Stella, que agora é uma imortal das letras da Bahia. Ele acentua que é a primeira vez que uma mãe de santo ingressa em uma Academia de Letras. “Isso é absolutamente pioneiro, não tenho conhecimento disso em nenhuma outra parte do Brasil ou do mundo”, comemora. 
Ela é também a primeira mulher negra a conquistar uma vaga na academia. Fato importante num país que a cada ano mostra sua face racista. Mais recentemente, na implantação do Programa Mais Médicos, foram muitas as manifestações preconceituosa veiculada pela mídia comercial e na internet. "Minha mãe Stella tem uma particularidade: não necessitou sair de sua literatura pessoal, da sua experiência de sacerdotisa para galgar esta posição. Ela não precisou de articulações literárias complexas e inadequadas para ganhar o título com que representa todos nós", diz o historiador e religioso do candomblé, Jaime Sodré.
Maria Stella Azevedo dos Santos foi escolhida mãe de santo do Ilê Axé Opô Afonjá em 1976. Em 1983, Mãe Stella liderou a elaboração de um manifesto contra a prática do sincretismo religioso, muito forte na Bahia. A caçula de quatro irmãos, Mãe Stella é para muitos a sucessora de Mãe Menininha do Gantois, a mãe de santo mais famosa que o Brasil já conheceu. 
Nascida em 2 de maio de 1925, em Salvador, Mãe Stella exerceu a profissão de enfermeira sanitarista por 35 anos, formada pela Universidade Federal da Bahia. Em 2009, ela recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia.
A mãe de santo escritora continua atuante em questões sociais. Em seu terreiro, funciona a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, que atende 350 crianças do ensino fundamental. Além disso, 100 famílias vivem na área do Ilê Axé Opó Afonjá. Ela conta que escreve à mão e suas “filhas” digitam o texto. “Sou analfabeta em computador”, confessa a mãe de santo de 88 anos.
livro 3Mãe Stella tem seis livros publicados. E Daí Aconteceu o Encanto (1988),Lineamentos da Religião dos Orixás - Memória de ternura (2004), Òsósi - O Caçador de Alegrias (2006), Owé - Provérbios (2007), Epé Laiyé- terra viva (2009) e Meu Tempo é Agora (2010). Além da coletânea de artigosOpinião do jornal A Tarde em 2012.
A importância da escrita e da cultura oral foi destacada no discurso, sobretudo para a preservação da memória dos terreiros.  "Não sou uma escritora, sou uma ialorixá que escreve. Sou uma ialorixá que escreve com o objetivo primeiro de não deixar perder a herança de nossos orixás", anunciou a primeira mulher negra a integrar a ALB.
"É mais do que justa essa homenagem à escritora Maria Stella. É uma pessoa que tem um grande conhecimento e que vai nos trazer a visão de outra realidade", diz a escritora Myriam Fraga.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod