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Economista denuncia golpe ao entregar cargo no BID

11 de julho de 2016 - 18h49 


  
“Despeço-me deste Diretório num momento difícil para a região e, sobretudo para meu país. Após três décadas de aprofundamento da democracia e, nas últimas duas, de significativo avanço social, sobrevém uma tentativa de ruptura institucional. Nas discussões substantivas ora em curso no Senado, se está muito longe de provar um crime de responsabilidade da Presidenta, condição imprescindível para caracterizar uma violação da Constituição e, portanto, realizar legitimamente o impeachment”, escreveu Carneiro.

Seu pronunciamento não chegou a ser proferido, porque a sessão regular do diretório do BID em que o faria foi cancelada, mas o texto em que documentou suas críticas foi anexado em ata.

Nele, afirmou que retorna a seu país em um momento crítico, mas com uma certeza: “a sociedade brasileira não cabe num golpe, qualquer que seja a sua natureza. Ela é marcada por uma diversidade substantiva que se expressa em variados, profundos e robustos movimentos sociais e culturais. A legitimidade é um imperativo maior no ambiente social brasileiro e este Governo muito dificilmente se tornará legítimo. Ainda mais porque tem como agenda principal o desmonte do nosso incipiente Estado do Bem-Estar Social”.

Segundo ele, que é professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp, se faltam argumentos jurídicos para o impeachment, sobram motivações políticas. Na sua avaliação, na investida contra o mandato presidencial de Dilma Rousseff estaria embutida a aplicação de “agendas econômicas e políticas que foram derrotadas nas urnas e que estão se impondo de forma ilegítima”.

O economista avalia que, no plano econômico, Temer anunciou um programa “intensamente pró-mercado”. Segundo ele, a base parlamentar do governo é marcada por “elevado conservadorismo e um fisiologismo inusitado”. De acordo com Carneiro, para aprovar medidas como a nova meta fiscal, “que criaram um espaço elástico para ampliar gastos”, ou a nova desvinculação de receitas, a coesão foi elevada.

“Até o momento e, no curto prazo, funcionou esta espécie de keynesianismo fisiológico”, classificou, em oposição ao discurso da austeridade repetido à exaustão pela equipe econômica.

Carneiro condenou a plataforma de Temer, amparada na nova regra fiscal e nas privatizações. Para ele, a proposta de limitar o crescimento dos gastos públicos à variação da inflação do ano anterior é muito dura e não dará o resultado e.

“Se é certo que as despesas primárias vinham crescendo acima do PIB por um longo período, nada justifica estabelecer uma meta tão draconiana. Fazê-la crescer em linha com o PIB seria bem mais razoável. A disputa por recursos no âmbito do orçamento será exacerbada e a pressão para romper a regra será permanente. Por último, mas não menos importante, a nova regra fiscal, ao implicar a redução progressiva da participação dos gastos públicos no PIB, deverá atuar como um fator de contração da demanda agregada.”

Para o economista, reduzir o papel do BNDES, como anunciado pela gestão provisória, tornará ainda mais difícil a retomada do crescimento.

Ele encerrou seu discurso defendendo que “somente eleições diretas gerais serão capazes de corrigir o déficit de legitimidade que hoje tem o governo interino, da mesma maneira que somente elas corrigirão a baixa popularidade de Dilma, caso ela retorne ao poder”.

Carneiro enviou seu pedido de desligamento em meados de maio, pouco após a aprovação do processo de impeachment da presidente no Senado. "Ajustei a minha saída no menor tempo possível para não ficar representando um governo ilegítimo", disse Carneiro em entrevista à Folha de São Paulo, pouco antes de deixar o cargo, na semana passada. "É uma irresponsabilidade histórica da elite brasileira, vai fazer muito mal ao Brasil e vai durar muito tempo", completou, na ocasião, em referência ao golpe. 


Do Portal Vermelho

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