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A bondade distraída

Estudei Ciências Sociais e Teologia.

Muito do que estudei busca modelar o homem a um padrão de justiça e equilíbrio que acaba por nos acompanhar durante nossa vida nos questionando se somos este ou nos desviamos aqui ou ali.

O problema é quando encontramos pessoas que fazem o bem, natural e discretamente, sem se tornarem exemplo para quem quer que seja.

Simplesmente fazem.

É o caso de uma mulher que conheci hoje, chamada Marluci.

Estávamos em campanha nas ruas, buscando colocar uns cartazes na frente de algumas residências quando conhecemos a Marluci.

Ela tem quatro filhos.

O maior deve ter por volta de uns 12 anos. Os demais são pequeninos.

A questão foi a extrema naturalidade com que nos recebeu, digo, a equipe toda, de uns 6 integrantes.

Deixou-nos entrar em sua casa, deu-nos água, café, e o uso do banheiro.

Pergunto a mim mesmo, se me lembro de alguma ocasião em que fiz isto. Não lembro.

Ela tem uma cadela que deu 4 filhotinhos.

A mãe com quatro filhinhos e uma cadela com 4 filhotinhos.

Em tudo elas são parecidas.

Na conversa Marluci deu um dos filhotes para um casal de amigas que tenho.

Alegraram-se muito.

De repente, entra o pai e pega uma das crianças e a põe no colo e levanta, jogando-a para o alto e pegando novamente. A criança divertia-se muito.

Havia também um filhotinho de marreco que andava, pequenino, no meio de tantas crianças descalças. De vez em quando escondia-se debaixo do fogão e depois saía para buscar algum farelo para comer.

Perguntei a Marluci se ela punha o marrequinho de vez em quando na água, e ela respondeu-me que põe água numa bacia e coloca o marrequinho para nadar.

Foi um momento de extrema e gratuita alegria.

Percebia o quanto a falta de uma filosofia ou Teologia faz bem às pessoas quando elas já encarnam a bondade sem limites.

Não preciso dizer que era uma mulher pobre.

 Os ricos dificilmente fariam algo assim tão nobre, para Deus, lógico.

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