Veio um novembro frio e chuvoso.
Quando não chove, deixa uma garoa constante relembrando os tempos da São Paulo do início do século XX, que tantos poetas matou de pneumonia e tuberculose.
O paulistano saiu encapotado e casmurro, fechado.
O tempo parece não fazer nenhum esforço por melhorar, deixar o sol sair.
Acostumou-se deste jeito, feio, frio, chuvoso.
Não há cobertores nos escritórios, nem lençóis nas ruas.
Mas realidade cai por cima de qualquer tempo.
"São Paulo não pode parar".
Martelaram tanto esta frase, que o paulistano acreditou.
O trânsito está congestionado, o metrô e trens lotados, a paciência esgotando-se.
Mas não irrompe uma rebelião, resmunga-se.
Guarda-se um sonho para depois, um encontro para outro dia, um gozo escondido da luz.
Quem acenderá as lâmpadas da natureza, e permitirá o desabrochar das flores?
Quem descerá aos lábios fechados e resgatará a boca para a palavra?
Quem formará a juventude independentemente de hoje?
As eleições?
As lideranças nacionais?
Os intelectuais?
É preciso ir no motor da vida, na fonte da sabedoria, no princípio, no antes do nada.
Resgatar o princípio de tudo incompreensível.
Uma garoa em Sampa...
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