Pular para o conteúdo principal

Povo sem país

18 de setembro de 2017 - 19h16





Economia é escancarada ao exterior sem estratégia de proteção ao país





Ilustração: Mariano
 
 


Sob o governo Temer, a entrega do
Brasil tornou-se contínua, e o ingresso de investimentos estrangeiros
volta-se fundamentalmente à compra de ativos nacionais, públicos e
privados. É a terceira vez que a economia nacional se abre ao exterior, e
mais uma vez sem nenhuma estratégia prévia de desenvolvimento, conforme
observado anteriormente.



A primeira onda de internacionalização da economia brasileira desde a
Revolução de 1930 transcorreu na segunda metade da década de 1950, em
conformidade com o Plano de Metas de JK (1956–1961). Com o grande fluxo
de ingresso do capital estrangeiro, o país avançou significativamente a
sua industrialização, através da instalação de grandes grupos econômicos
inicialmente europeus e, posteriormente, estadunidenses.



Diante da coordenação do Estado, os investimentos externos se combinaram
à soma dos recursos internos derivados do capital privado nacional e
estatal. Assim a industrial automobilística, por exemplo, se instalou
sem trazer a sua autopeça, uma vez que esta seria ocupada por empresas
de capital nacional, enquanto outros componentes industriais seriam
ofertados por empresas estatais (siderurgias).



A segunda onda de internacionalização foi uma marca dos anos de 1990,
com o ingresso do Brasil na globalização. Com as reformas neoliberais em
concomitância com a estabilização monetária do Plano Real, a economia
nacional registrou 2,3 mil operações de fusões e transações de empresas,
sendo 61% de responsabilidade do capital estrangeiro.



A aquisição de grande quantidade de empresas nacionais por estrangeiras
não significou expansão da capacidade de produção, uma vez que parte
considerável dos investimentos voltou-se fundamentalmente apenas para a
troca de ativos de um grupo econômico para outro. Ou seja, certo
ingresso passivo e subordinado do Brasil na globalização.



Nos anos 2000, o país experimentou experiência inédita, com importante
ação de empresas nacionais no desenvolvimento de suas atividades no
exterior para diversos setores (como bebidas, alimentação, construção
civil, vestuário, bancos, ferramentas entre outros). Na primeira década
deste século, a internacionalização de grandes empresas brasileiras
alcançou a 17 países, enquanto entre 2010 e 2015, o crescimento foi de
50%, passando para 27 países no mundo.



Com a recessão, a Operação Lava Jato e as operações desconstitutivas do
governo Temer, diversos grupos brasileiros passaram a colocar seus
ativos à venda. Somente o movimento de fusões e aquisições cresceu 73,6%
no primeiro semestre de 2017.



Neste contexto, se expande no Brasil a terceira onda de
internacionalização deslocada de qualquer estratégia de desenvolvimento.
O recente anúncio de privatização do setor produtivo estatal pelo
governo Temer demonstra muito mais o despreparo e desespero para atrair
recursos externos numa economia frágil pela força da recessão.



A queda na taxa de investimento agregado não é ainda maior devido ao
ingresso de recursos estrangeiros que se aproximam de um quinto da
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF). Com as possibilidades de
aquisição de terras, a internacionalização dos ativos nacionais ganha
ainda mais atratividade, tornando o Brasil o país dos grandes negócios
desatrelados do bem-estar de sua população.



*Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do
Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da
Universidade Estadual de Campinas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod...

PLEBISCITO POPULAR

  Está sendo organizado em todos Brasil um Plebiscito Popular, para ouvir  população sobre a redução da atual jornada de trabalho, de 6×1, que não permite só trabalhador usufruir do seu lazer junto à família, por completa falta de tempo.  Também este Plebiscito quer saber a opinião do povo sobre aumentar os impostos dos mais ricos, principalmente dos que ganham mais de R$ 50.000,00 por mês.  Este Plebiscito irá até 07 setembro de 2025 e será entregue no Congresso Nacional.

Profeta Raul Seixas critica a sociedade do supérfluo

Dia 21/08/2011 fez 22 anos que perdemos este incrível músico, profeta de um tempo, com críticas profundas à sociedade de seu tempo e que mantém grande atualidade em suas análises da superficialidade do Homem que se perde do principal e se atém ao desnecessário. A música abaixo não é uma antecipação do Rap? Ouro de Tolo (1973) Eu devia estar contente Porque eu tenho um emprego Sou um dito cidadão respeitável E ganho quatro mil cruzeirosPor mês... Eu devia agradecer ao Senhor Por ter tido sucesso Na vida como artista Eu devia estar feliz Porque consegui comprar Um Corcel 73... Eu devia estar alegre E satisfeito Por morar em Ipanema Depois de ter passado Fome por dois anos Aqui na Cidade Maravilhosa... Ah!Eu devia estar sorrindo E orgulhoso Por ter finalmente vencido na vida Mas eu acho isso uma grande piada E um tanto quanto perigosa... Eu devia estar contente Por ter conseguido Tudo o que eu quis Mas confesso abestalhado Que eu estou decepcionado... Porque ...