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Mostrando postagens de agosto, 2023

VIGÍLIA DE TI

  Peça tudo  o que quiseres! Eu te darei... Não sou rei,  aventureiro,  mas serei  capaz de subir   os montes  para  trazer  tesouros  descobrir o que ainda não tens. Já tens tudo,  mas tudo  também precisa  ser alimentado. Teu adormecer  acalma  grandes  fantasmas posso olhar  em volta  sem medo. Não digas nada! Não precisa. Basta  tua presença  sem filosofia. Há mais  verdades aí que reflexões  de escolas inteiras Amo-te  em tua  ausência,  em cada  lição mansa ,  na alegria  com que  abraças  a todos a ninguém. Durma  meu amor  o sono  que não  posso  te dar,  a paz  profunda  dos sonhos  esquecidos,  onde campos  se abrem  a seus pés.  Beijo  teus pés ,  beijo felino,  tuas pegadas  leves  nada alteram. És um pouco  deusa,  sem desejar,  um pouco  paz  neste mundo   violento. Dorme... estou   ao lado,  vá  lá   onde  o Criador  te desejou, espreguiça-te no útero divino e volte porque  acostumei-me a ti. Abençoados  sejam  teus pais,  abençoada  seja tu,  companheira  de viagem.

GRATIDÃO

    Sou-lhe grato,  meu Senhor,  por permitir  eu seja pecador,  assistir  tantas quedas,  fracassar  tantas vezes. Muito grato  por entender  o meu amor  complexo,   extravasado  pelos cantos,  até doentio. Sou-lhe agradecido  por suportar  arroubos  frequentes,  explosões  instantâneas,   a qualquer  gesto,  qualquer  notícia.  Obrigado  por substituir  a igreja  pelas ruas,  caminhar  a meu modo,  sua palavra  desaparecida. Obrigado  por lutar  a meu lado,  sem nada  receber ,  apenas  acompanhando,  confiante  em mim. Muito obrigado  pelo abandono  que me deste,  deserto  de paixões,  para,  sofrendo,  compreender  o mundo  e a profunda  solidão  do ser humano,   nas grandes  multidões. Acariciar-me  como um amigo,  retirando  de si mesmo  a pecha de rei, de seu reino. É inumerável  a gratidão   que tenho por ti,  parido  e entregue  ao mundo,  com pai e mãe,  companheira, filhos, órfão de ti,  sem vê-lo  tocá- lo,  tu que brincas  de esconde-esconde,  invisível. Obrigado  por deix

OLHOS DO MUNDO

  Fecho  os olhos.  Gostaria  de despedir-me  assim  da realidade,  um passe  de mágica.  Estendo  esta ilusão  ao dia  todo,  como se  houvesse  uma ordem  aceitável.  Engano  a consciência  por um tempo,  até que  as dificuldades  se somem  destruam esta falsa  imagem,  que sempre  tenta  enganar-me. Ligo a TV,  vou às  redes,   vejo  situações  que também  mantém  a ilusão  o maior  tempo  possível. Despertar  olhar  sem temer,  descobrir  a verdade  sempre  escondida   por trás  do noticiário  e dos milhões  de comentários. Decidir agir  junto  a muitos  despertos,  que também  abrem  os olhos.  Transformar!

POMAR DE LETRAS

  Vivo  de colher  palavras. Estão  por aí  em todos  os lugares. plantas,  terra,  água,  fogo,  ar. Aguardam  serem  desvendadas  das frias  hibernações, parecem  mortas. Voam  pelos céus,  claras nuvens,  pesadas chuvas, perdem-se  em mares  sem fim. Acasalam-se,  formam versos, voam. Saltam seus  estritos  significados,  explodem  transcendentes. Passeiam  pelas bocas  decoradas  dos loucos, libertam-se  nas crianças, pervertem  corações. Enfiam-se  nas pedras,  misturam-se  aos elementos,  incrustadas, provam  manjares  dormem  esfomeadas. Estão aí  perdidas pesquisando  corações. Aguardam  serem desalojadas de seus papéis.

ADERNANDO

  Peço perdão  pelos poemas  que não fiz.  Tinha impressões,   tornaram-se pressões,   por fim  expressões  não impressas. O cansaço  sobrepôs-se  ao aflorar  dos versos. Não saberiam sua beleza! As lâmpadas   apagavam acendiam e eu ia  adernando fazendo  água. Agora vou  Sonhar.  Boa noite.

ESCREVER?

 ESCREVER? Não  me deixem  escrever. Não  me tirem  do torpor,  vivência. Não  me permitam  relatar  algo  que suplante  O acontecimento.  Que eu viva  o beijo  o afago,  a ausência  o silêncio, costure  grandes  encontros , penetre  campos  virgens,  altas  montanhas,  onde  versos  esvoaçam  livres. Que o belo  reflita  amor,   ressuscite  mortos,  as abelhas  ensinem  o segredo  das flores,  e aromas  inspirem  virgens  pagãs . Escrever,  envergonhar-me  das limitações,  atraso  das sensações? Deixem  o sabiá  cantar  na noite  escura,  morcegos  guiarem-se  no Sol negro.   Mas  há queda  maior  de sentido. Multidões  andam  esquecidas  pelas calçadas. Escondem  dores  profundas  sofrimentos  imensos. Então  vergo-me  à  realidade  da vida,  pego  a caneta  e escrevo, porque  não há  beleza sem  vida.

SEM TEMPO

  Estou  procurando  um tempo.  Prisioneiro,  não  sobra  nada para mim. Tudo  acontece  ao mesmo  tempo. Nem bem  termino  de fazer  algo  e já sou  cobrado  de outra  atividade. Não há  segunda,  terça,  quarta,  quinta  sexta.  Principalmente  não há mais  sábados  domingos. Esqueci  o que é  ser dono  de mim, quem sou. Esqueci  o que é  decidir  meu destino. Esqueci  o que é  usufruir  um amor,  seja qual for. Estou  procurando  um tempo. Quem achar,  por favor,  avise. Estou  comprimido,  no meio  de tudo  para nada. O essencial  passa  por fora,  não está  na agenda. Procuro e procuro tanto um tempo, não consigo encontrá-lo.

Contemplação

 Silêncio.  Não diga nada. Deixe que os pensamentos repousem. Muitos ficam martelando, outros passeiam, a maior parte ajuda a nos dispersar de um encontro elevado. Vá se observando em sua incapacidade de varrer o entulho diário nas noites silenciosas. Abra a sua percepção interior. Muitos não conseguem. Estão  por demais presos ao mundo. Não se preocupe. A graça, se tiver de vir, virá.  Procure entender a linguagem de Deus, muito superiora à nossa. Ele afaga... Ele se mostra presente... Ele responde suas indagações... Está em todos os momentos contigo, sem impedir tua livre decisão de pensar e agir ou omitir. De preferência  guarde às  noites para Ele e principalmente para você. Com o tempo irá descobrindo que tudo o que você é e  faz passa por este tênue fio  de oração.  Reserve um tempo para Deus, e guarde silêncio.  Não é mais um terreno da filosofia, mas o da fé.  Toda tua racionalidade vai por terra nesta experiência.  Por isso, poucos põem a cabeça à prêmio ao contar este mistéri

MOTO CONTÍNUO

  Estou  me gerando. Não deixei  o parto, reparto épocas  inteiras  com cada  um de mim. Sussurram,  ascendem,  perdem-se. Mesmo  a idade  esconde  o tempo  no presente,  presenteia  o novo,  lança  anzóis futuros.  Quando cansa,  como a lua, dorme  solene,  esconde  camada  por camada,  o poente, anoitece.  Chora  pelo mundo,  as guerras,  as mortes  precoces  tardias. Olha montanhas  como deuses,  como elo. Permeia  o ódio místico dos ateus, desperta deuses extintos Descobre  os pedaços  soltos  que se colam  nas pessoas,  se diverte  dos encontros  impossíveis.   Quando  o sorriso  vier,  quem sabe  possamos  passear  nas esquinas  inocentes,  onde tudo  será   uma grande  surpresa. Ali  Apearemos os alforges amaremos entre nebulosas  desconhecidas  esquecidos de nós que continuamos  nos gerando.

O QUÊ OU QUEM?

  Mudo os canais da TV em busca de um novo programa...mas, o que eu procuro? Pesquiso livros, aprofundo conhecimento de povos, suas línguas, historias...e o que procuro? Novas amizades que se cruzam em experiência em variedades de atrações...e continuo procurando.  Amo, deleito-me nos prazeres do amor...e procuro. Experimento dos pratos mais excêntricos e bebidas de toda sorte, embriago-me...e procuro. Viajo, conheço lugares novos, culturas que confrontam procurando... Combato a fome e a pobreza, ergo a voz e grito, e quê procuro? Fecho-me no quarto, apago  a luz  e faço  silêncio...procurando o quê? Derramo lágrimas, sorrio, amo e sou indiferente...porque procuro.  Nunca haverei de me satisfazer por não encontrar o que  procuro. Está no escuro, na ausência, nas pessoas, nas plantas e animais mas não vejo o que procuro.  Passarei a vida de insatisfação em insatisfação por algo ou alguém maior, impossivel de se encontrar e que procuro? Ah...basta de tanta busca incessante e ineficiente,

PERGUNTAS INSÓLITAS

Onde adormecem as palavras antes que as frases as despertem? Aguardam na caixa de Pandora? O diálogo acena para a paz entre as trincheiras? O tempo não se cansa nunca? Os pavões admiram a simplicidade das pombas? As ondas se revoltam com o fim do mar? O amor fala? O que pensam os urubus no alto? Apenas buscam mortos? E os ditadores violentos, conseguem reclinar a cabeça e dormir?  Os pequenos pensarão grande? Serão sempre pequenos? Quando as crianças pescam estrelas, acendem os vagalumes? As rotinas sepultam em vida no trajeto de sempre?