sábado, 28 de dezembro de 2024

OCULTAS DORES

 


Guardo minhas dores, 

não as exponho, 

sigo com elas 

esta travessia.


As pessoas 

não as resolveriam, 

inútil contar, 

compreenderiam? 

Não as curam...


Dores nas vísceras,  

articulações, 

dores de todo tipo, 

de falta de gente,

mais tardios cansaços, 

sinalizam um poente...


Os caminhos 

sem saida 

ainda ecoam, 

lançam arrependimentos 

e tristezas 

de antigos becos 

inconscientes,

escondidos no passado.


Refletem nos olhos 

que a tudo desvendam 

em suas inutilidades, 

às poucas vozes, 

econômicas, 

de convencimento, 

na falsa estrutura 

que nos ocupa 

integralmente.


Dor completa, 

não compartilhada.


Este silêncio 

que tem fome, 

e não come; 

sede, 

e não bebe; 

sono, 

e não dorme, 

aumenta o tamanho 

da dor. 


Silêncio medido 

de energia declinante...


A esperança 

de que tudo 

pode ser melhor, 

faz vicejar 

este disfarce 

que atravessa o tempo.  


Por isso sigo calado,

com minhas dores.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

SE DEIXO...

 


Se deixo, 

tudo me ocupa, 

não sobra nada 

para mim.


Se deixo, 

as ocupações ocuparão 

os vazios de mim, 

enquanto não me encontro.


Se deixo, 

uma grande despedida estará 

sempre me esperando, 

enquanto não chega 

o fim.


 Se deixo, 

não encontrarei 

mais tempo, 

e tudo estará 

acabado de vez. 


Se deixo, 

a vida terá sido 

distraída e fugidia, 

repleta de nada. 


Deixo a mim 

este lapso de liberdade, 

apertado entre buscas vãs, 

e me despeço 

para nunca.


27/12/2024

João Paulo Naves Fernandes

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

CEIA SOLITÁRIA

 


O esquecimento é rápido, 

as lembranças demoradas.


O ontem desapareceu, 

mas as partidas

são longínquas,

eternas,

nunca morrem. 


Vem dia,

vai dia,

José 

nunca mais ligou, 

Pedro desapareceu.


Fico a pensar  

como o presente 

é duro e solitário,

só o passado 

é recheado de gente.


Cumprimento Ciça, 

ela vira a esquina e...

será que volta?


já os que partem, 

muitas vezes, 

sem despedida, 

sempre estão comigo

presença gotejante 

permanente.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Pequena Hermenêutica do Amor. ( a Vinicius de Morais)



Que o amor seja 

o do amanhã, 

mais do que 

do hoje, 

ainda que seja 

o mesmo.


Possa eu dizer 

um "te amo" 

que ultrapasse 

mantras, 

ressoe 

novas formas, 

sem perder 

o agora.


Amo-te 

num multiforme 

infinito, 

mais descoberto, 

do que amado.


Basta o gozo 

do agora,

e os méritos 

dos que vem 

de fora.


Deixe enlaçarem-se 

as línguas do tempo, 

vaginas de eras inteiras, 

enquanto abraçam 

novas formas, 

escondidas 

desde antes, 

quando se realizaram.


Por hora, 

entrega-me 

teu ser inteiro 

para eu inteiro, 

e sejam depois, 

escavações 

intermináveis.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

VERSOS SOLITÁRIOS

 

Escrevo com o povo
versos solitários.
Andam errantes
como quem não sabe
o dia em que come,
o lugar onde dorme.
São versos excluídos,
seus escritos
são proscritos.
São palavras
que não ecoam,
a maioria escuta apenas
suas próprias lamentações .
Versos expulsos
das praças,
gritam a surdos,
escapam pelos vãos
das incompreensões.
Quisera versos despertos
ouvidos atentos,
poemas engajados,
mas discriminado,
encontro apenas
versos solitários.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

POR FAZER

 


Tenho um abraço por dar...

eles estão esperando, 

mas a iniciativa é minha.


Um beijo por dar; 

não esperam, 

mas é minha a iniciativa.


Uma visita por fazer,

talvez esperem, 

talvez não, 

não importa. 

porque a iniciativa é minha.


Tenho uma estrada a percorrer, 

e existem muitos nela, 

ocupados consigo mesmos. 


Ocupar-se com o nós 

na estrada,

é minha iniciativa.


Abraçar, 

beijar, 

visitar, 

percorrer a estrada, 

não espera, 

se faz...

SINAIS SEM MAIS

 


O ponto é o fim.


As reticências são fins abertos.


O parênteses é uma incapacidade de se explicar.


A interrogação transfere dúvidas. 


A exclamação dá sustos. 


A vírgula é um pensamento  alongado. 


As aspas querem ser diferentes.


O acento é amigo do ritmo.


Os dois pontos são uma formalização. 


O hífen é uma velha bengala da palavra. 


A apóstrofe é uma arritmia respeitosa.


O travessão discrimina a letra.


O ponto e virgula quer parar, nas não consegue.

NA ESTRADA

 


Sempre estive 

na estrada, 

sempre 

caminhando.


Encontrei de tudo 

por onde andei, 

chupei frutas, 

colhi ervas amargas. 


Estavam todas na estrada. 


De vez em quando 

olhava o céu 

e respirava, 

tão grande estrada, 

mais longa 

que meus pequenos 

sonhos.


Optei pela realidade, 

vi a fome

vi o abandono,

encontrei no amor 

algo diferente de tudo, 

ultrapassava. 


Experimentei a dor, 

e vi o quão só 

ela nos deixa.


Ainda caminho 

nesta estrada.


A subida 

contorna o fim.


Ela nunca acaba.


Acabo eu, 

mas a estrada 

continua, 

nua, 

cruel, 

mel...

ONDE TE ESCONDES?

  Onde escondi  os versos  que não recitei,  o coração  que não guardei,  quando passavas  por mim? Explodiam  como loucos,  desordenados,  ...