Pular para o conteúdo principal

“Deus não faz comércio. É uma mãe que canta canções de ninar”, diz o Papa Francisco

Sexta, 12 de dezembro de 2014
O Senhor ama os seres humanos como uma mãe, mas os mesmos seres humanos frequentemente coisificam-No e coisificam a graça deste amor, contabilizando-a. A afirmação é do Papa Francisco e feita durante a homilia na Capela da Casa Santa Marta, de acordo com a Rádio Vaticano.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada no sítio Vatican Insider, 11-12-2014. A tradução é de André Langer.
Deus salva o seu povo não de longe, mas se fazendo próximo de nós, com ternura. O Pontífice, inspirando-se no profeta Isaías, fez a seguinte comparação: “A proximidade é tão grande que Deus se apresenta aqui como uma mãe que conversa com o seu filho: uma mãe que quando canta a canção de ninar ao filho, faz voz de criança e se faz pequena como ela, fala no seu mesmo tom a ponto de se passar por ridícula se alguém não entendesse o que de grande há ali: ‘Nada de medo, Jacó, pobre vermezinho’. Mas quantas vezes uma mãe diz essas coisas ao filho enquanto o acaricia, eh? Eis que vou fazer de ti um trenó triturador, novinho… tu serás grande… E o acaricia, e o põe mais perto dela. E Deus faz assim. É a ternura de Deus. Está tão perto de nós que se expressa com esta ternura: a ternura de uma mãe”.
Deus nos ama gratuitamente – afirmou Bergoglio – como uma mãe ama o seu filho. E o filho “se deixa amar”: “esta é a graça de Deus”. Mas nós – observou o Pontífice argentino – “muitas vezes, para nos sentir seguros, queremos controlar a graça” e “na história e também na nossa vida, temos a tentação de coisificar a graça”, torná-la “como uma mercadoria ou uma coisa controlável”, talvez dizendo a nós mesmos: “Mas eu tenho tanta graça”. Ou: “Tenho a alma limpa, estou em estado de graça”.
“E assim esta verdade tão bela da proximidade de Deus escorrega numa contabilidade espiritual: ‘Não, eu faço isso porque me dará 300 dias de graça… Eu faço aquilo porque assim acumulo graça’. Mas – prosseguiu Bergoglio – o que é a graça? Uma mercadoria? E assim, parece que sim. Parece que sim. E na história esta proximidade de Deus ao seu povo foi traída por esta nossa atitude, egoísta, de querer controlar a graça, mercantilizá-la”.
O Papa recordou os grupos que no tempo de Jesus queriam controlar a graça: os fariseus, escravizados pelas leis que pesavam “nas costas do povo”. Os saduceus, com seus compromissos políticos; os essênios, “bons, muito bons, mas tinham medo, não arriscavam” e acabavam se isolando em seus mosteiros. Os zelotas, para quem a graça de Deus era a “guerra de libertação”, “outro modo de mercantilizar a graça”.
A graça de Deus – insistiu o Papaé outra coisa: é proximidade, é ternura… Esta regra vale sempre. Se em seu relacionamento com o Senhor você não sente que Ele lhe ama com ternura, então está lhe faltando alguma coisa; ainda não entendeu o que é a graça, ainda não recebeu a graça, esta proximidade”.
O Papa Francisco recordou uma confissão de muitos anos atrás, quando uma mulher questionava a validez de uma Missa em que havia ido sábado à noite, para um casamento, que tinha leituras diferentes da de domingo. Esta foi sua resposta: “Mas, senhora, o Senhor a ama tanto’. A senhora foi lá, recebeu a Comunhão, esteve com Jesus... Fique tranquila, o Senhor não é um comerciante, o Senhor lhe ama, lhe está próxima”.

São Paulo reage com força contra esta espiritualidade da lei. “Eu sou justo se fizer isso, isso e aquilo. Se não fizer, não sou justo”. Mas você é justo porque Deus se aproximou de você, o acariciou, porque Deus lhe diz coisas bonitas, com ternura: esta é a nossa justiça, esta proximidade de Deus, esta ternura, este amor. Mesmo arriscando parecer ridículo, nosso Deus é tão bom! Se nós tivéssemos a coragem de abrir o nosso coração a esta ternura de Deus, quanta liberdade espiritual teríamos, quanta! Hoje, se tiverem um tempo, em casa, peguem a Bíblia, Isaías, capítulo 41, versículos de 13 a 20, e leiam. Esta ternura de Deus, este Deus que canta para cada um de nós uma canção de ninar, como uma mãe”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,