O Pó das Estradas
Antes que eu morra,
deixo o testamento
de minhas humanas
futilidades.
Para o comerciante, o lojista,
deixo a esperança
de hoje ser um dia melhor.
Quantas constantes lamúrias
provém deste setor,
que até acredito,
depois desconsidero.
Ao industrial
fica a humanidade
que perdeu-se
no perfeccionismo,
excesso de críticas
aos colaboradores,
os operários,
e a fé no sucesso.
Aos banqueiros
deixo a justiça divina
esquecida
atrás das prestações
atrasadas.
Aos que vivem de aluguel
o suor do meu trabalho
para que
se reedifiquem
de sua sobrevivência
preguiçosa.
Sobrevivam por vocês mesmos!
Aos mendigos
entrego o conforto
de ser,
a somar-se
`a sua dificuldade
de ter.
Aos ricos
fica minha auto-crítica
sabendo da dificuldade
que terão
em assimilá-la
eles tão exigentes
com os outros.
Ao povo proponho
a destruição dos líderes.
Que seja ele mesmo
seu único porta voz,
para quebra das idolatrias.
Aos pecadores
largo um pedaço
de meu coração perdido
e muitas súplicas
de perdão
porque sou também
um destes.
Aos políticos
não deixo nada.
Já têm tudo o que precisam.
Aos juízes
fica minha
auto condenação
que se vejam
diante do espelho
da vida,
cheios de vaidades.
Para a esposa
a minha permanência
como prêmio indigno
por ter me suportado
e a alegria da convivência.
Para as amantes
talvez nem as lembranças
fiquem como consolo,
perdidas no tempo,
mas aí estão.
Para os filhos
o ímpeto pela vida
como exemplo
do que não fui
em tudo
que poderia.
Aos amigos
deixo a verdade
de meus erros.
Quem sabe poderão
enfim compreender-me
sem deixarem de me amar.
A todos deixo o Pó,
do que realmente fui e serei
espremido ao lado
de uma estrada,
num trajeto
que leva a lugar nenhum
deste planeta,
preparando
um salvo-conduto
difícil de justificar-se.
Disto afirmo e atesto.
João Paulo Naves Fernandes.
26/05/2015
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