O escândalo da comemoração do Natal

Meus pais se foram. 

Um irmão se foi. 

(sua viúva

também).

Outro irmão 

muito doente...


E o Natal chegando... 


Não posso deixar 

de ter uma solidão 

uma tristeza 

me acompanhando. 


Lágrimas 

tornam-se 

gratuitas 

nos cantos 

dos olhos 

a todo momento. 


Ao mesmo tempo 

vejo-me duro, 

para suportar tudo.


Às vezes

 é preciso ser duro 

com a dor  

a tristeza

para não 

sucumbir junto.



Passo em revista 

tantos anos 

de vida

caminhadas 

feitas junto 

a tantos 

parentes 

amigos

companheiros 

de luta 

que se foram.


Aumenta 

a sensação 

de solidão. 


Se o tempo  ficasse

em suspenção...


O mundo 

tornou-se 

mais violento 

endurecido...


Não consigo 

endurecer junto. 

embora

convidado 

a ser violento 

todo instante.



O tempo 

provoca 

um caminho 

inverso 

na vida, 

tornando-nos 

mais humanos, 

sem que assim 

desejemos. 



Por tudo 

por cada 

situação 

que se  

apresenta

invade 

o sentimento 



Os jovens 

que lavam 

a nosso contragosto 

os vidros dos carros,

os jovens

que morrem 

em uma festa

num bairro

pobre

responsabilizados 

por estarem lá. 



Os violentos aí estão!


Batem

matam 

torturam

exibem força 

bruta 

publicamente. 


Como organizar

a ceia de Natal

com a fome, 

os desempregados 

jogados 

pelos bairros 

periféricos,

escondidos

nos cômodos

das casas? 


Este foi 

o sentimento 

do Pai 

ao se despedir 

do Filho, 

ao envia-lo  

para encarnar-se 

entre nós.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

PLEBISCITO POPULAR

O que escondo no bolso do vestido - Poema de Betty Vidigal