Tenho um lado doce na boca.
Dele descem cavalos alados
das travessias outonais.
Está em conformidade
com a vida,
passeia palavras
sem receio
de esbarrar
em muros surdos.
Gafanhoto
de pequenos voos
entre arbustos e ervas,
balançando escolhas
de ramos e folhagens.
Vai, às vezes à relva,
só para revolver a terra,
recolher o oculto
que se dissolve
em canais.
Quando o Sol
anda alto,
assimila a aridez humana
com ternura
sem desfazer-se.
Abre o leque
das palavras
com a leveza
das brumas matinais,
em clima
de poucas palavras.
Possuo também um lado amargo e seco.
O que nunca encontra eco,
digladia-se internamente,
oponente de si mesmo.
Expõe cumes inescaláveis,
verdades proscritas,
afetos desafetos,
tudo que é rejeitado,
abominável.
Avesso a afazeres,
permanece mudo
no andar de cima,
observando crítico.
Rabugento,
resmunga,
consciente
do silêncio,
e cala-se.
Ambos regam as palavras
com a mesma saliva.
Pêndulos de circunstâncias
favorecem um ao outro.
Prisioneiros da convivência,
dialogam nas marés altas
até as tempestades,
quando urge buscar abrigos.
Sempre se estranham
em sua unidade.
Ferem a personalidade,
que anoitece.
Comentários
Postar um comentário