FERIDO

Tenho com uma ferida 

aberta no corpo.


Não cicatriza, 

não  cura,

fica purgando...


Por vezes

Inflama,

incha,

e dói 

como dói.


Paradoxalmente

mantém 

boa relação 

comigo.


Está sempre 

a lembrar 

a transitoriedade,

rebaixa o orgulho

exalta a humildade.


Hoje 

esta ferida 

ocupa 

grande parte 

de mim.


Já não pode 

mais chamar-se 

ferida, 

inverte-se

torna-se corpo; 


Desdenha 

a incapacidade 

de corrigir-me 

deste aguilhão, 

diverte-se.


Passeia por lugares 

onde vou, 

dá pontadas 

quando desvio 

o olhar, 

finjo  não ver 

as dores expostas 

erros cometidos 

debaixo do Sol. 


Já não ando mais, 

arrasto-me.


Força-me a amar 

ser solidário 

dizer apenas

a verdade 

defender 

a justica, 

eu que não sei 

viver sem esta

ferida.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

PLEBISCITO POPULAR

O que escondo no bolso do vestido - Poema de Betty Vidigal