terça-feira, 25 de março de 2025

AMANHECER

 


Que nasça o dia e novamente pensamos tudo ser possível.

O Sol nos faz levantar.

Acendamos as esperanças que se apagaram no decorrer na noite.

Despertar com olhos novos, novas palavras, ouvidos atentos.

Uma brisa leve alegra pulmões compassados, acaricia o corpo, deus natural que interage através da natureza, Deus amplo.

Há uma tumba onde guardamos as descrenças.  As vezes vem nos assombrar com suas dores de sempre.

Que o dia siga com suas lutas e possamos ir colocando as descrencas, velório em vida, em seu devido lugar.

quarta-feira, 19 de março de 2025

CANTO SOLO

 


O poeta  canta 

e espera, 

depois chora. 


Acredita sempre no verso, 

como uma meia crença, 

criança perdida 

em meio ao mundo.


Plantei uma primavera amarela 

no canto da casa e já a vejo dar flores 

do outro lado do muro


O poeta é um ser só, 

canta para si mesmo, 

prepara o terreno

e se diverte,

eco interno.


O poeta é um 

palhaço mudo 

que escreve, 

cego que vê, 

antevê


Perdido no tempo 

vive a temporalidade,

está sempre 

abrindo as portas e alertando,

desperta a inconsciência...

CONFISSÕES NOTURNAS



O consolo dos meus erros 

está na multidão de pecados 

que se espraia pelo mundo.


Minha falhas 

tem muitas companhias,

guardadas a sete chaves.


Uma diz à outra: 

cala a boca! 

e assim vão vivendo 

escondidas,

a liberdade. 


Solto a voz 

como se alguém 

pudesse ouvir do nada 

e me amar. 


A quem resta apelar?


Meu corpo treme 

à beira da transcendência, 

viagem inusitada.


Desperto nas lentas badaladas 

do relógio, variando o pêndulo 

pra cá e pra lá, sem pressa.


Conto o tempo perdido em mim, 

que desperdiço em nada, 

enquanto lentamente 

a aurora aguarda eu meditar.

segunda-feira, 17 de março de 2025

NAO FAZER NADA

 


De vez em quando me dá uma vontade de não fazer nada.

Absolutamente nada.

Vontade e voltar à estaca zero de tudo.

Não digo a ninguém...não é segredo, nas sabe como são as pessoas, vão logo pondo explicações, teorias. 

Acontece que este nada não quer se expor...quer ser sorrateiro.

Afinal, chega o momento de se ter um cansaço de tudo, como se, de repente tudo perdesse a importância.

Então, já vou dizendo,  não questionem!

É assim mesmo, algo meio maluco que vai tomando conta de si, sem se materializar numa decisão formal.

Depois de um tempo passa...

POR DENTRO DA DOR



Por dentro da dor, 

há um caminho 

de impotência 

que obriga 

a compreensão 

adotar a humildade.


Por meio dor,  

que vem à tarde, 

grandes virtudes 

escorregam 

de seus pedestais.


Seremos então, 

simplesmente, 

José e João, 

Maria e Débora, 

com a simplicidade 

do parto.


Veremos então 

as grandes distâncias 

que nos pusemos, 

desnecessárias,

que  impedem  

o ermergir 

nas fontes 

cristalinas 

da naturalidade. 


No grito da dor 

ecoa também 

o sofrimento 

das estruturas,  

que aprisionam, 

sopram lençóis 

secando 

nos varais 

do esconde esconde, 

aplainam 

encostas 

retém desafios 

 matam os sonhos, 

familias inteiras.


Dor que não 

se compactua 

com a morte, 

resiste à morte, 

quer vida


Dor que sofre,  

tardia, 

lavando 

as cascas 

do tempo.


Por dentro da dor 

há um caminho 

de volta, 

redescobrindo rotas, 

perdidas, 

no emaranhado 

da vida, 

redesenhando novas

sexta-feira, 14 de março de 2025

DE REPENTE

 


Pode ser eu...

ser você, 

não sei.


Pode ser 

a qualquer hora, 

momento imprevisto.


Pode não haver avisos,  

enquanto tudo ocorre 

conforme o programado.


Pode ser até 

que nunca se pense 

nesta possibilidade, 

que acontece.


Porque o caminho 

traz um início 

e um fim 

em cada passo, 

relógio flutuante 

do tempo, 

vasto espaço 

de esperancas 

e descrenças. 


Pode não acontecer 

nada ainda, 

ter de esperar 

despreparada impaciência, 

olhando possibilidades 

e seguir desconhecendo 

aquele instante acontecer...

terça-feira, 11 de março de 2025

VIDA QUE SEGUE

 


Usar mais 

os olhos, 

os ouvidos não. 


Mais as mãos, 

não os pés. 


Silenciar  a boca, 

ouvindo o tempo, 

menos energia.


Guardar a mente 

das futilidades, 

refrescar a consciência, 

pesa sempre muito.


Não ser fechado, 

mas também 

evitar ser libertino 

em abrir.


Mais saber-se 

convencer 

que ter opinião.


Não esquecer 

de chorar junto 

com o coração. 


Estar por perto sempre, 

mas saber sair também. 


Ter pensamento aberto, 

pensar livre, 

é saudável.


Gostar de amar, 

brincar muito de amar.


Abraçar quando é necessário, 

e também gratuitamente, 

sem segundas intenções .


Descobrir cada momento 

em sua circunstância, 

entendendo sua frequência, 

grau de exigência. 


Despedir-se dos objetos 

antes da morte,  

ser simples, 

mas se quiser 

se cobrir de coroas 

em vida, deixe, 

mas permaneça 

em silêncio, 

e agradeça. 


Encontre um fim 

para todos 

os processos, 

e prepare-se 

você mesmo 

para seu fim

segunda-feira, 10 de março de 2025

MEDITANDO "A ARGILA" DE RAUL DE LEONI

 


 

Primeiramente vamos ao poema ARGILA, que me motivou a tentar conhecer melhor quem foi Raul de Leoni.

ARGILA

 

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs na carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

 

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranqüila...

 

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis),

 

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo,
E do teu ventre nasceriam deuses...

 

 

Raul de Leoni foi um poeta, e muito mais, do início do século XX, tendo vivido apenas 31 anos entre 1895 a 1926.

 Fechou-se em casa, nos últimos 3 anos de vida, por razões de tuberculose, acompanhado por solidão forçada e quem sabe desejada também. Transita entre o final do parnasianismo e o simbolismo.

Sua obra só veio a ser deveras divulgada 36 anos depois, fato natural para os poetas, de reconhecimento tardio.

Se fizer um resumo deste poema em uma só frase, afirmo que “o poema argila é um  amor platônico”, mas vamos ao texto.

Identificar-se com a outra numa argila, remete a mesma substância criada do Gênesis, talvez num reencontro desta mesma substância em uma outra forma de vida.

Chamar este reencontro de "substância rara", dá uma conotação única dentro do todo, o especial e o comum.

Raul de Leoni casou- se cedo, e certamente este amor retratado no poema não é o dele por sua esposa, num casamento onde perde o único filho com 4 anos de idade, mas uma projeção impossível. 

Podemos olhar o Rio de Janeiro de então com olhos mais libertinos, que extravasavam...”tenho a alma dos faunos na pupila”.

A beleza feminina o jogava na Grécia antiga, onde as palavras submergiam no corpo feminino...”tens legendas pagãs nas carnes claras. É visível o traço racista no verso, num Brasil recém  saído da escravidão, o que não é desculpa.

A projeção de uma Grécia ideal calma e ordeira no Brasil republicano e conflitante, remete talvez, a um saudosismo do império...”em mim a luz olímpica cintila”. Que os mais estudiosos retirem seivas disto...

O poeta dorme na porta do quarto, e não entra; sabe como transgredir, sabe que é melhor do que se encontra, mas não entra, porque é um prisioneiro da forte moralidade da época, em que ele fora deputado pelo Rio de Janeiro...”Se um dia eu fosse teu e fosses minha”.

É um poeta conservador pela ocultação do cadáver do amor, sem localizar socialmente sua origem, sua causalidade, “sem o amor que conceberia um mundo e nasceriam deuses”.

As grandes transformações esperarão, serão arrebentadas no modernismo...

Afora isso é um soneto lindissimo dos amantes e perdura como um desafio permanente. 

domingo, 9 de março de 2025

PROCURA TARDIA

 


Estou procurando alguém...


Ele se acha um pó.


Anda disperso por aí, 

pelas estradas da vida.


Pouco ou nada influi, 

apenas rega 

os jardins, 

observa muito 

as formigas

e retira as folhas 

caídas...


Constrói muros 

e os derruba 

a toda hora.


Quando vê 

o dia 

já se foi.


Deita-se insatisfeito 

por não ter feito 

a revolução, 

mas percebe 

legados de justiça 

plantados,

agora 

envelhecido. 


Conta o tempo 

devagar, 

nunca termina.


Passa o dia 

regando o jardim 

debaixo do Sol.

sábado, 8 de março de 2025

DELETADO

 


Tenho uma tecla 

que me faz 

perder tudo, 

traído 

pela tecnologia.


Sinto-me como 

terra arrasada, 

terem arrancado 

parte do corpo. 


Não recuperarei 

este pedaço 

de alguma 

coisa, 

presa 

num texto, 

contexto, 

deletado 

sem querer.


Vasculho onde passei, 

rastreando com os olhos 

para ver se encontro...


Qual nada!


Tudo perdido.


Sigo deixando 

partes úteis 

e inúteis 

de mim

na indiferença 

da vida, 

enquanto suspiro 

nos passos.


Se encontrarem 

me avisem, 

se for importante...

sexta-feira, 7 de março de 2025

AGUARDANDO

AGUARDANDO

Tenho espaço para você, 
veja como abro caminhos, 
rego desertos.

Quem sabe 
você descubra 
os mistérios 
que guardo, 
escondido 
de todos,
de mim...

Tenho tempo para ti, 
alertei a  fé, 
impede de ver 
espinhos e flores...

Sonhas perfeições divinas, 
amedrontam minhas dúvidas 
na realidade sufocante...

Tenho perguntas a fazer, 
martelam e martelam:

Porquê cruzas as pernas nas matas da cidade?

Porque despes pernoites de vigílias?
esvoaçam...

Estrelas vagam em êxtase silencioso?

Tenho tudo preparado, 
aguardando que venhas,  
passos escondidos 
por onde observo tudo, 
e não te encontro...


terça-feira, 4 de março de 2025

DISTRAÍ-ME

 


Distraí-me nas luas...

em qual me conheceste? 

Imprevisto, 

decifro nuvens fugidias 

antes que ventos cegos 

percam caminhos livres.


Andei invisível, 

hoje grito, 

não sei a hora


Distraí-me antes 

que os lírios 

despertassem 

as ânsias 

do perfeito.


Distraí-me 

enquanto andava nu, 

sem regras, 

revoltado com tudo...


Conheces minha luas?

ONDE TE ESCONDES?

  Onde escondi  os versos  que não recitei,  o coração  que não guardei,  quando passavas  por mim? Explodiam  como loucos,  desordenados,  ...