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Mostrando postagens de março, 2025

AMANHECER

  Que nasça o dia e novamente pensamos tudo ser possível. O Sol nos faz levantar. Acendamos as esperanças que se apagaram no decorrer na noite. Despertar com olhos novos, novas palavras, ouvidos atentos. Uma brisa leve alegra pulmões compassados, acaricia o corpo, deus natural que interage através da natureza, Deus amplo. Há uma tumba onde guardamos as descrenças.  As vezes vem nos assombrar com suas dores de sempre. Que o dia siga com suas lutas e possamos ir colocando as descrencas, velório em vida, em seu devido lugar.

QUEM SE IMPORTA?

  O poeta  canta  e espera,  depois chora.  Acredita sempre no verso,  como uma meia crença,  criança perdida  em meio ao mundo. Plantei uma primavera amarela  no canto da casa  e já a vejo dar flores  do outro lado do muro O poeta é um ser só,  canta para si mesmo,  prepara o terreno e se diverte, eco interno, poucos gostam. O poeta é um  palhaço mudo  que escreve,  cego que vê,  antevê Perdido no tempo  vive a temporalidade,  quem se importa? O poeta está sempre  abrindo as portas  e alertando. Gosta de despertar a inconsciência...

PECADOS NOTURNOS

O consolo dos meus erros  está na multidão de pecados  que se espraia pelo mundo. Minha falhas  tem muitas companhias  guardadas a sete chaves. Uma diz à outra:  cala a boca!  e assim vão vivendo  escondidas, a liberdade.  Solto a voz  como se alguém  pudesse ouvir do nada  e me amar.  A quem me resta apelar? Meu corpo treme  à beira da transcendência,  viagens inusitadas. Desperto  nas lentas badaladas  do relógio,  variando o pêndulo  pra cá e pra lá,  sem pressa. Conto o tempo  perdido em mim,  que desperdiço  em nada,  enquanto lentamente  a aurora aguarda  eu meditar.

NAO FAZER NADA

  De vez em quando me dá uma vontade de não fazer nada. Absolutamente nada. Vontade e voltar à estaca zero de tudo. Não digo a ninguém...não é segredo, nas sabe como são as pessoas, vão logo pondo explicações, teorias.  Acontece que este nada não quer se expor...quer ser sorrateiro. Afinal, chega o momento de se ter um cansaço de tudo, como se, de repente tudo perdesse a importância. Então, já vou dizendo,  não questionem! É assim mesmo, algo meio maluco que vai tomando conta de si, sem se materializar numa decisão formal. Depois de um tempo passa...

POR DENTRO DA DOR

Por dentro da dor,  há um caminho  de impotência  que obriga  a compreensão  adotar a humildade. Por meio dor,   que vem à tarde,  grandes virtudes  escorregam  de seus pedestais. Seremos então,  simplesmente,  José e João,  Maria e Débora,  com a simplicidade  do parto. Veremos então  as grandes distâncias  que nos pusemos,  desnecessárias, que  impedem   o ermergir  nas fontes  cristalinas  da naturalidade.  No grito da dor  ecoa também  o sofrimento  das estruturas,   que aprisionam,  sopram lençóis  secando  nos varais  do esconde esconde,  aplainam  encostas  retém desafios   matam os sonhos,  familias inteiras. Dor que não  se compactua  com a morte,  resiste à morte,  quer vida Dor que sofre,   tardia,  lavando  as cascas  do tempo. Por de...

DE REPENTE

  Pode ser eu... ser você,  não sei. Pode ser  a qualquer hora,  momento imprevisto. Pode não haver avisos,   enquanto tudo ocorre  conforme o programado. Pode haver até  que nunca se pense  nesta possibilidade,  que acontece. Porque o caminho  traz um início  e um fim  em cada passo  compasso,  relógio flutuante  do tempo,  vasto espaço  de esperancas  e descrenças.  Pode não acontecer  nada ainda  e ter de esperar  passar a despreparada  impaciência,  olhar as possibilidades  e seguir  desconhecendo  que a qualquer instante  pode acontecer...

VIDA QUE SEGUE

  Usar mais  os olhos,  os ouvidos não.  Mais as mãos,  não os pés.  Silenciar  a boca,  aproveitando o tempo,  menos energia. Guardar a cabeça  de tanta futilidade,  refrescar a consciência,  pesa sempre muito. Não ser fechado,  mas também  evitar ser libertino  em abrir. Mais saber  convencer  que ter opinião. Nao esquecer  de chorar junto  com o coração.  Estar por perto sempre,  mas saber sair também.  Ter pensamento aberto,  pensar livre,  é saudável. Gostar de amar,  brincar muito de amar. Abraçar quando é necessário,  e também gratuitamente,  sem segundas intenções . Descobrir cada momento  em sua circunstância,  entendendo sua frequência,  grau de exigência.  Despedir-se dos objetos  antes da morte,   ser simples,  mas se quiserem  te cobrir de coroas  em vida, deixe,  mas permaneça  em ...

MEDITANDO "A ARGILA" DE RAUL DE LEONI

    Primeiramente vamos ao poema ARGILA, que me motivou a tentar conhecer melhor quem foi Raul de Leoni. ARGILA   Nascemos um para o outro, dessa argila De que são feitas as criaturas raras; Tens legendas pagãs na carnes claras E eu tenho a alma dos faunos na pupila...   Às belezas heróicas te comparas E em mim a luz olímpica cintila, Gritam em nós todas as nobres taras Daquela Grécia esplêndida e tranqüila...   É tanta a glória que nos encaminha Em nosso amor de seleção, profundo, Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis),   Se um dia eu fosse teu e fosses minha, O nosso amor conceberia um mundo, E do teu ventre nasceriam deuses...     Raul de Leoni foi um poeta, e muito mais, do início do século XX, tendo vivido apenas 31 anos entre 1895 a 1926.   Fechou-se em casa, nos últimos 3 anos de vida, por razões de tuberculose, acompanhado por solidão forçada e quem sabe desejada também. Transita entre o final...

PROCURA TARDIA

  Estou procurando alguém... Ele se acha um pó. Anda disperso por aí,  pelas estradas da vida. Pouco ou nada influi,  apenas rega  os jardins,  observa muito  as formigas e retira as folhas  caídas... Constrói muros  e os derruba  a toda hora. Quando vê  o dia  já se foi. Deita-se insatisfeito  por não ter feito  a revolução,  mas percebe  legados de justiça  plantados, agora  envelhecido.  Conta o tempo  devagar,  nunca termina. Passa o dia  regando o jardim  debaixo do Sol.

DELETADO

  Tenho uma tecla  que me faz  perder tudo,  traído  pela tecnologia. Sinto-me como  terra arrasada,  terem arrancado  parte do corpo.  Não recuperarei  este pedaço  de alguma  coisa,  presa  num texto,  contexto,  deletado  sem querer. Vasculho onde passei,  rastreando com os olhos  para ver se encontro... Qual nada! Tudo perdido. Sigo deixando  partes úteis  e inúteis  de mim na indiferença  da vida,  enquanto suspiro  nos passos. Se encontrarem  me avisem,  se for importante...

AGUARDANDO

AGUARDANDO Tenho espaço para você,  veja como abro caminhos,  rego desertos. Quem sabe  você descubra  os mistérios  que guardo,  escondido  de todos, de mim... Tenho tempo para ti,  alertei a  fé,  impede de ver  espinhos e flores... Sonhas perfeicões divinas,  amedrontam minhas dúvidas  na realidade sufocante... Tenho perguntas a fazer,  martelam e martelam: Porquê cruzas as pernas nas matas da cidade? Porque vestes pernoites de vigílias? Esvoaçam... Estrelas vagam em êxtase silencioso? Tenho tudo preparado,  aguardando que venhas,   passos escondidos  por onde observo tudo,  e não te encontro... Sou uma sombra a busca de luz...

DISTRAÍ-ME

  Distraí-me nas luas... em qual me conheceste?  Imprevisto,  decifro nuvens fugidias  antes que ventos cegos  percam caminhos livres. Andei invisível,  hoje grito,  não sei a hora Distraí-me antes  que os lírios  despertassem  as ânsias  do perfeito. Distraí-me  enquanto andava nu,  sem regras,  revoltado com tudo... Conheces minha luas?