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10 de agosto: 38 anos sem Frei Tito

10 DE AGOSTO DE 2012 - 19H40 

Frei Tito foi meu colega de faculdade. Fazíamos então Ciências Sociais na USP. Minha turma era de 1970, e penso que o frei Tito também, ou talvez um ano antes. Ele sempre me dizia:

- Cuidado João Paulo! Um dia, quando passar o ódio, contarei um segredo meu com o Frei Tito.


Jamais se vira um dominicano deixar o coro para ir matar-se, e não um dominicano qualquer, mas um que trazia dentro de si a história de uma pátria , e que vivera experiências universais em nosso século, tais como resistência, torturas, o exilio.

Por Stella Maris, no blog do Nassif


Frei Tito
Aniversário da morte de Frei Tito
Tito foi exposto a nu ( sua alma ficou totalmente nua perante seus algozes) estes tiveram uma espécie de intuição extremamente perversa, maléfica, e que os levaram imediatamente a conhecer as debilidades de sua vitima... Como sobreviver a uma degradação tão grave da imaginação de si mesmo? Através dos olhos de seu algoz Fleury . Existem olhares que são absolutamente mortais e monstruosos.

E o capitão Albenaz diz: “Você ficará conosco por dias, se não falar, será quebrado por dentro, porque nós sabemos fazer as coisas sem deixar traços visíveis ... se sobreviver.. jamais esquecerá o preço de sua audácia...”

Esta tortura ultrapassa o ato de intimidação, passa para o ato da posse da vitima, por isso o carrasco não quer que a vítima morra, quer sua posse, sua alma, romper a unidade do homem consigo mesmo.

E Tito, até tentou sobreviver... mas descobriu a imagem, monstruosa de seus algozes em seu caminho... o torturador que o perseguia feito a sua imagem e semelhança, teria que destruir esta imagem, destruindo a si mesmo.

No dia 10 de agosto de 1974, um estranho silêncio paira sob o céu azul do verão francês, envolvendo folhas, ventos, flores e pássaros. Nada se move. Entre o céu e a terra, sob a copa de um álamo, balança o corpo de Frei Tito, dependurado numa corda.

Alguns já disseram que foi loucura...

Não foi loucura, foi a mais plena lucidez, era a realidade que vivia, o que vivia não era louco, era sofrimento, sofrimento este que não podia cancelar, ele só podia viver de modo extraordinário, de forma profunda. Sua morte é um sinal da consciência muito profunda da complexidade da situação em que se encontrava , em que se encontrava os brasileiros, ele viveu até o âmago o drama de uma geração.

Como era norma da Igreja, não deveria haver sepultura religiosa para suicidas. Mas seus irmãos do convento quebram estas normas aliás nem cogitam e celebram o funeral com ritos e o sepultam na terra consagrada de seu cemitério no bosque.

Após sua morte, descobriram seus escritos em forma de poesias que manifestavam a grande lucidez diante da vida, do sentido da vida, das contradições da vida .

E Tito mostrou com sua morte que buscou ser homem, profundamente homem, pois viveu a condição humana de modo acentuadamente trágico.



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