10 DE AGOSTO DE 2012 - 19H40
Jamais se vira um dominicano deixar o coro para ir matar-se, e não um dominicano qualquer, mas um que trazia dentro de si a história de uma pátria , e que vivera experiências universais em nosso século, tais como resistência, torturas, o exilio.

Tito foi exposto a nu ( sua alma ficou totalmente nua perante seus algozes) estes tiveram uma espécie de intuição extremamente perversa, maléfica, e que os levaram imediatamente a conhecer as debilidades de sua vitima... Como sobreviver a uma degradação tão grave da imaginação de si mesmo? Através dos olhos de seu algoz Fleury . Existem olhares que são absolutamente mortais e monstruosos.
E o capitão Albenaz diz: “Você ficará conosco por dias, se não falar, será quebrado por dentro, porque nós sabemos fazer as coisas sem deixar traços visíveis ... se sobreviver.. jamais esquecerá o preço de sua audácia...”
Esta tortura ultrapassa o ato de intimidação, passa para o ato da posse da vitima, por isso o carrasco não quer que a vítima morra, quer sua posse, sua alma, romper a unidade do homem consigo mesmo.
E Tito, até tentou sobreviver... mas descobriu a imagem, monstruosa de seus algozes em seu caminho... o torturador que o perseguia feito a sua imagem e semelhança, teria que destruir esta imagem, destruindo a si mesmo.
No dia 10 de agosto de 1974, um estranho silêncio paira sob o céu azul do verão francês, envolvendo folhas, ventos, flores e pássaros. Nada se move. Entre o céu e a terra, sob a copa de um álamo, balança o corpo de Frei Tito, dependurado numa corda.
Alguns já disseram que foi loucura...
Não foi loucura, foi a mais plena lucidez, era a realidade que vivia, o que vivia não era louco, era sofrimento, sofrimento este que não podia cancelar, ele só podia viver de modo extraordinário, de forma profunda. Sua morte é um sinal da consciência muito profunda da complexidade da situação em que se encontrava , em que se encontrava os brasileiros, ele viveu até o âmago o drama de uma geração.
Como era norma da Igreja, não deveria haver sepultura religiosa para suicidas. Mas seus irmãos do convento quebram estas normas aliás nem cogitam e celebram o funeral com ritos e o sepultam na terra consagrada de seu cemitério no bosque.
Após sua morte, descobriram seus escritos em forma de poesias que manifestavam a grande lucidez diante da vida, do sentido da vida, das contradições da vida .
E Tito mostrou com sua morte que buscou ser homem, profundamente homem, pois viveu a condição humana de modo acentuadamente trágico.
Frei Tito foi meu colega de faculdade. Fazíamos então Ciências Sociais na USP. Minha turma era de 1970, e penso que o frei Tito também, ou talvez um ano antes. Ele sempre me dizia:
- Cuidado João Paulo! Um dia, quando passar o ódio, contarei um segredo meu com o Frei Tito.
Jamais se vira um dominicano deixar o coro para ir matar-se, e não um dominicano qualquer, mas um que trazia dentro de si a história de uma pátria , e que vivera experiências universais em nosso século, tais como resistência, torturas, o exilio.
Por Stella Maris, no blog do Nassif

Aniversário da morte de Frei Tito
E o capitão Albenaz diz: “Você ficará conosco por dias, se não falar, será quebrado por dentro, porque nós sabemos fazer as coisas sem deixar traços visíveis ... se sobreviver.. jamais esquecerá o preço de sua audácia...”
Esta tortura ultrapassa o ato de intimidação, passa para o ato da posse da vitima, por isso o carrasco não quer que a vítima morra, quer sua posse, sua alma, romper a unidade do homem consigo mesmo.
E Tito, até tentou sobreviver... mas descobriu a imagem, monstruosa de seus algozes em seu caminho... o torturador que o perseguia feito a sua imagem e semelhança, teria que destruir esta imagem, destruindo a si mesmo.
No dia 10 de agosto de 1974, um estranho silêncio paira sob o céu azul do verão francês, envolvendo folhas, ventos, flores e pássaros. Nada se move. Entre o céu e a terra, sob a copa de um álamo, balança o corpo de Frei Tito, dependurado numa corda.
Alguns já disseram que foi loucura...

Como era norma da Igreja, não deveria haver sepultura religiosa para suicidas. Mas seus irmãos do convento quebram estas normas aliás nem cogitam e celebram o funeral com ritos e o sepultam na terra consagrada de seu cemitério no bosque.
Após sua morte, descobriram seus escritos em forma de poesias que manifestavam a grande lucidez diante da vida, do sentido da vida, das contradições da vida .
E Tito mostrou com sua morte que buscou ser homem, profundamente homem, pois viveu a condição humana de modo acentuadamente trágico.
Comentários
Postar um comentário