CATARSE

 


Alguém me interpela 

pela noite...


Ouço o ruído 

das gotas de chuva...

formam ritmos  

no telhado 

esquecido.


Ouço o badalar do tempo 

fechando as horas, 

contagem regressiva 

de um novo dia.


Ouço o coração...

seus batimentos 

agora 

acalmam-se 

da realidade diária, 

exigência de sobrevivência.


Um silvo agudo ouço , 

constante, 

nos ouvidos...

só perceptível 

em meio a noite, 

assemelha-se a um chamado 

permanente


Ouço minhas indagações 

de vida, 

não encontram tempo 

em outros momentos,

justificam-se, 

sugerem novos caminhos.


Ouço também a voz 

do coração , 

busca o pensamento , 

não o encontra, 

descanso dos sorrisos fartos , 

lágrimas guardadas...


Só assim vou 

percebendo 

meus compartimentos, 

alguns bem visíveis , 

outros mais ocultos, 

até os guardados 

a sete chaves...

ocuparam lugar, 

com o tempo, 

em minhas expressões,  

quem me conhece,  

identifica-os. 


Minhas portas 

abrem-se às noites,

e sou visitado...

desejaria, 

às  vezes, 

que estivessem fechadas...

nunca sei quem vem


Aguardo sempre 

a vinda do amor oculto,

não tem hora para chegar...

passo o tempo no escuro 

esperando sua vinda.

 

Quando vem, 

traz consigo a timidez,  

raramente fala comigo...

sinto-lhe o toque, 

ao perceber que chegou...


Brinca de esconde esconde, 

faz o jogo do advinha, 

na maior parte das visitas

derrama sua imensa afeição 

gratuita, 

só para que note 

que não sou apenas 

carne e mundo.


Deixou-se um livro 

onde esconde 

seus segredos, 

até hoje os decifro.


A chuva já vai cedendo

e o galo desperta 

o relógio da natureza.


Hoje deixou-me a grafia...

quem sabe amanhã?

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