quinta-feira, 29 de maio de 2025

RECOLHO EXPERIÊNCIAS

 


Recolho experiências 

como quem sempre nasce.

Tudo que é novo 

vai sendo guardado 

no alforje do coração. 


Gera domínio do tempo, 

novidades enfraquecidas 

no longo convívio.


Trazem 

lágrimas e dores, 

esperanças e sorrisos, 

e acasos.


Nunca tem 

a palavra final, 

continua aprendendo.


Recolho experiências 

como quem morre aos poucos... 

quem quer saber...

permanecem anônimas.


O mundo corre 

sem memórias, 

esbarra na mesma 

e repetida marola, 

lua nova 

oculta.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

MARÉ BAIXA



Maré baixa, mar distante...

há dias que de tudo 

me ausento, 

assento 

num ponto, 

e ali permaneço,  

hiberno...


O mundo que fique 

com seus problemas, 

eu com os meus, 

já bastam.


Não sinto 

a direção dos ventos, 

a correria do entorno, 

estorvo, estorno.


O Sol vem 

e já me basta 

o dia com seu calor, 

em ausentar-me, 

sem pudor, 

voz dissonante,  

vou calar-me.


E a Lua muda, 

esconde-se 

em suas ausências, 

inocente que se faz.

...e como tudo 

muda na vida, 

de repente, 

e uma ressaca 

esquecida, 

me faz voltar...


Assim vou... 

da proa à popa, 

definindo 

ritmos, 

compassos.. 


Minhas marés 

levam e trazem...


Lá vou eu ali, 

e outra vez, 

aqui...

segunda-feira, 19 de maio de 2025

CONFRATERNIZAÇÃO



Quero portas abertas,

sorrisos largos, 

abraços íntimos.


Quero o encontro 

da palavra 

com a carne, 

a expressão completa 

que nos torna um.


Quero o fim 

dos rótulos, 

das imensas ausências, 

partidas sem encontros.


Que a noite se despeça 

e o dia avance 

sem o sobressalto 

dos sonhos 

com as realidades, 

e possamos 

nos confraternizar 

com tudo, 

finalmente

INEXORÁVEL

 


Passou o tempo 

e esqueceste 

que os prados 

ate aguardam 

para mostrar 

sua incerteza de ventos, 

invisibilidade de ser....


Estavas às portas 

dos grandes umbrais 

e não bateste!


Como queres agora 

apoderar-se das vitórias?


O caminho 

é pleno de incertezas, 

temos que ir 

averiguando tudo 

tirando lições...


Não venhas 

com arroubos tardios, 

que não preenchem vazios. 


A vida é um constante desafio, 

e só os fortes vencem.


Bata a porta!


Bata!

SE ME FALTAM PALAVRAS

 


Se me faltam palavras, 

então os fatos 

falam mais alto, 

ainda recolhem elementos...


Também consideram 

as oportunidades, 

a surdez nos emudece.


Tenho ainda 

palavras prontas 

sem ouvintes, 

aguardam a virada 

do tempo.


Olho o horizonte, 

me pergunto 

se trago algo novo, 

ainda guardo a pepita 

que areja ambientes, 

luzidia.


Neste meio tempo, 

transito entre afazeres 

supérfluos, 

questionando 

suas extemporaneidades.


Persegue-me 

um ser completo, 

que nunca se realiza...

INCONTIDO

 


Não me contenho, 

sou um aluvião permanente, 

cheio de monções e vazantes.


Expilo substratos indesejáveis 

deste fim dos tempos, 

como alívio alvejante, 

e absorvo desejos 

tecnológicos de IA, 

que nenhum profeta sonharia.


Não sei 

se me entro, 

ou me saio


Extravaso milhares 

de símbolos inúteis 

e disperso o dia 

em rotinas viciantes, 

revoltado.


Adquiro álibis 

para tantas obviedades, 

que ao final do dia 

mal me encontro, 

me identifico.


Sinto-me no limiar do nada, 

entre imaginações 

fortuitas, 

e um germe 

que não rompe invólucros, 

insiste em permanecer ali,

latente.

terça-feira, 13 de maio de 2025

SE ME DEIXARES ENTRAR. (prólogo do mistério)

 


Se você deixar eu entrar, 

quem sabe o que poderá ocorrer?


Não peço muito, 

apenas um abaixar a guarda, 

um deixar fluir.


Somos mansos, 

e sofremos neste mundo, 

por isso,  

gritamos, 

choramos, 

sendo fortes 

e ao mesmo tempo, 

frágeis.


O Sol vem todos os dias, 

não pede licença, 

simplesmente vem.


Anoitece, 

e cansados 

tantas vezes 

desprezamos a Lua.


O mar está sempre à espera, 

nas praias, 

quer mostrar 

sua grande distância, 

à perder de vista, 

e perdermo-nos junto a ele 

nas imensidões.


Tudo passa ao largo, 

despercebido, 

se não me deixas entrar.


Tenho amor profundo, 

você nem desconfia. 


Quero lançar-te 

nos montes mais elevados 

onde possas contemplar 

a mais íntima observação, 

despertar teus sonhos seculares, 

já se transformaram em mantras, 

para não se apagarem.


Ando contigo 

na mais completa distração, 

preocupo-me com seus detalhes, 

não seus sistemas, 

suas estruturas. 


Basta-me teu sorriso gratuito.


Deixe...porque simplesmente te amo.


Estou muito mais perto de ti, que imaginas.


Não me ponhas nas alturas, 

nunca desejei isto, 

nem me faça de muleta, 

porque não sou.


Quero o voo, 

o mergulho, 

as profundidades, 

as descobertas constantes, 

a viva como ela é.... 


Caminhemos descobrindo 

a parte boa de nós mesmos, 

tão sofrida com o tempo.


Não é difícil, 

basta perguntar, 

e lhe virá toda a sabedoria.


Deixe.. 

pode ir sendo devagarinho, 

do seu jeito, 

veja, adapto-me a ti, 

singelo.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

PROCURO SAÍDAS



Procuro saídas 
para meu coração.

Ninguém conhece 
suas grandes prisões, 
nem onde 
estão enterradas 
suas partes...
nunca morrem, 
interrogam.

Há ali um braseiro 
sob as cinzas do tempo, 
preservam-se 
no inevitável passar...

O portão que dá à rua, 
preso a arames, 
e o desafio dos nós, 
demarca 
educação e comunidade, 
assim cresci.

Livros abrem-se e fecham 
nas brechas do cotidiano,
convidam a repensar sempre, 
a mesa e o mundo lá fora...

Braseiro oculto dos erros, 
becos dos retornos... 
neles deposito 
velhas ansiedades 
que ainda fumegam, 
espocam. 

A alegre 
dependência 
da infância, 
descobertas diárias, 
semore novas.

Ah...estes olhos 
experientes 
como doem 
ao ensinar, 
ao aprender,
preferia a ingênua 
estrada do belo, 
natural, 
inconsciente.

Assim vou, 
repartido 
nesta somatória 
desconexa 
que se metabolisa 
em identidade.

Até um dia 
reunir escombros 
com vicissitudes, 
e apaziguar-me 
enfim.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

INSERIDO

 


Estrelinhas saíam 

de meus olhos, 

viajavam 

até encontrarem lar. 


A boca 

amargava 

conforme 

segurava 

momentos,  

media, 

desaguava.


Depois, 

vinha um rio, 

onde as palavras 

se deleitavam, 

casavam, 

febris,

em oceano 

profundo.


Construíam o planeta.


A realidade 

mesclava 

dor e sonhos.


Os pés 

sobre o chão duro 

tinham o impacto 

de lençóis nos varais 

em dias de Sol, 

conectavam

terra e vento, 

eu no mastro.


Era preciso 

repor a vontade 

sobre a ordem, 

dar espaço 

às descobertas noturnas 

antes que tudo voltasse 

a ser pedra e pó. 


Por isso 

o tempo, 

a velha 

maturação 

curtida, 

diariamente, 

por fora 

dos significados, 

criando...


Observo, 

pela manhã 

a superfície 

do mar, 

em busca 

de um fino 

tapete, 

onde guarda 

meus sonhos.


Faço o mundo, 

e não me arrependo...

HORA EXTRA

 


Aprendi com a espera 

até vir a forma, 

nunca vem antes 

das tempestades. 


O tempo foi regando 

a caneta no papel. 


Letra sobre letra, 

ideias soltas 

desejando-se.


Vivem dimensões difusas, 

de quartos 

de fundos 

e janelas 

escancaradas.


Não tem pressa, 

provém 

de um eterno 

observar, 

antes de mim.

PARTE DE MIM

  Ó parte de mim,  que me deixaste,  por onde andas? Trazias as espumas,  arrebentação constante  de ondas, desprezavas  sua imensa contençã...