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ENTRE TEMPO E ESPAÇO

.Não tive tempo para ser poeta, os enfermos aguardam palavras nem sempre rimadas, mas compreensivas, e até o silêncio como companhia. Estive em inúmeras reuniões, às vezes inflamando mentes, outras vezes, apenas ouvindo, sem versos. Tenho um certo nojo, e me envergonho quando elogiado; bem antissocial, antiacadêmico. Meus recitais tem sido mais em praças públicas, quando são: expressam mais gritos de guerra, que o deleite de corações. Uma marca horrenda me prende ao mundo, e não me permite transcender. Tem o gosto de fome, o frio das ruas, as portas fechadas. Tem poderosos sorridentes, religiosos interesseiros, as forças das armas, e um povo mudo e ignorante. Como ter tempo para ser poeta? Não foi principal em minha caminhada ; ficou nas dobras das esquinas, nos beijos não revelados, declarações nunca feitas. Sim amo! Mas tenho amor maior a dar, sempre insatisfeito. Ando no escuro de tudo, tateando, nada inteiro, acabado. Quem me conhece, engana-se. Assim perdi o humor. Hoje, meu sorriso me envergonha. Também o ódio superei, deixo-o para os fascistas. Minha diversão é uma bicicleta e a curiosidade pura das crianças. O resto é um tédio convite ao suicídio. Mundo devorador e desumano. Mundo de morte e opressão. Como ser poeta? João Paulo Naves Fernandes, em mais uma incompreensão comigo mesmo, ou de mim, com o mundo, ou tudo isso junto, e mais alguma coisa. Meg atravessa tudo isso junto de mim.

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Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod