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Ele tinha 15 anos de idade quando foi condenado, em 1992, por um assassinato múltiplo que não cometeu. Em sua última carta, ele escreve: "Eu sou inocente, mas não sei se isso vai fazer alguma diferença".
Roma, 11 de Junho de 2015
Mais sangue inocente foi derramado no Paquistão. Às 4h30 desta madrugada, no presídio de Kot Lakhpat, em Lahore, foi enforcado o católico Aftab Bahadur Masih, condenado à morte quando tinha 15 anos de idade, em 1992, pelo assassinato de três pessoas: ele não cometeu o crime, mas o confessou, segundo os advogados, porque foi torturado.
Os apelos lançados pela Igreja católica e pelos ativistas de direitos humanos foram inúteis. Dom Joseph Coutts, bispo de Karachi e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, tinha escrito ao presidente Himari Hussain pedindo que suspendesse a execução e ordenasse um novo inquérito.
Segundo a agência AsiaNews, Aftab foi condenado à morte em 5 de setembro de 1992 pelo assassinato de Sabiha Bari e seus dois filhos. No dia seguinte, Ghulam Mustafa, encanador de quem Aftab era aprendiz, foi preso por cumplicidade e torturado pela polícia para envolver Aftab no assassinato. Só recentemente é que Mustafa admitiu que o aprendiz não tivera relação alguma com o crime, do qual tinha sido apenas uma testemunha ocular. O homem também entregou um testemunho oficial a um líder religioso, declarando que havia mentido.
Aftab sempre se disse inocente. Ele contou que, quando foi preso, a polícia lhe pediu 50.000 rúpias (5.000 dólares) para liberá-lo. Como era apenas um jovem aprendiz, ele não podia pagar a quantia.
Pouco antes da execução, Aftab Bahadur Masih escreveu uma última carta para compartilhar seus sentimentos:
"Acabo de receber a minha sentença de morte. Ela diz que serei ‘pendurado pelo pescoço até a consumação da morte’ nesta quarta-feira, 10 de junho. Eu sou inocente, mas não sei se isso vai fazer alguma diferença. Durante os últimos 22 anos da minha prisão, recebi ordens de execução muitas vezes. É estranho, mas nem sei dizer quantas vezes já fui avisado de que estava prestes a morrer. É claro que dói cada vez. Eu começo a contar os dias de trás para frente, coisa dolorosa em si mesma, e descubro que os meus nervos estão acorrentados como o meu corpo.
Na verdade, já fui morto muitas vezes antes da minha morte. Suponho que a minha experiência de vida seja diferente da da maioria das pessoas, mas duvido que haja alguma coisa mais assustadora do que ouvir o aviso da própria morte e depois ficar sentado em uma cela esperando aquele momento.
Durante muitos anos – eu só tinha 15 – fiquei preso entre a vida e a morte. Foi um limbo absoluto, uma incerteza total do futuro. Eu sou cristão, e isto, às vezes, é difícil aqui. Infelizmente, há um preso em particular que tentou tornar a nossa vida ainda mais difícil. Eu não sei por que ele faz isso.
Andei muito triste com os ataques anticristãos em Peshawar. Eles me machucaram profundamente e eu gostaria que o povo paquistanês tivesse um senso de unidade nacional capaz de vencer o seu ódio religioso. Há um pequeno grupo, aqui, de cristãos, apenas quatro ou cinco, e agora estamos todos juntos na mesma cela. Isso melhorou a minha vida.
Faço tudo o que posso para escapar da minha miséria. Eu sou um amante da arte. Eu era artista – apenas ordinário – desde a infância, quando ainda não sabia nada. Mesmo assim, eu tinha uma inclinação à pintura e à poesia. Não tive nenhuma preparação; era apenas um dom de Deus. Mas, depois de ser levado para a prisão, eu não tive nenhuma outra forma de expressar os meus sentimentos, porque estava em completo isolamento e solidão.
Algum tempo atrás, comecei a pintar todos os cartazes da prisão de Kot Lakhpat, onde estou preso. Depois, me pediram para fazer também os cartazes dos outros presídios. Nada no mundo me dá mais alegria do que a sensação que eu tenho quando pinto alguma ideia ou sentimento sobre a tela. É a minha vida; sou feliz em fazer isso. A carga de trabalho é grande e eu fico exausto no final do dia, mas sou feliz, porque isso deixa a minha mente distante das outras coisas.
Eu não tenho família que venha me visitar; quando vem alguém, é uma experiência maravilhosa. Consigo recolher ideias do mundo exterior que, depois, posso colocar na tela. Ser questionado sobre o que senti quando fui torturado pela polícia me trouxe de volta lembranças terríveis, que traduzi em imagens. Talvez tivesse sido melhor não pensar no que os oficiais me fizeram para obter uma confissão falsa daquele crime.
Quando ouvimos a notícia do fim da moratória da pena de morte, em dezembro de 2014, o medo tomou conta de todas as celas da prisão. Houve um sentimento predominante de horror. A atmosfera estava pesada, escura, sobre todos nós. Depois, começaram as execuções aqui em Kot Lakhpat e todos passaram a sofrer a tortura mental. Os enforcados tinham sido nossos companheiros durante muitos anos, ao longo desta estrada rumo à morte, e é natural que a morte deles nos deixasse em estado de angústia.
Quando a moratória da pena de morte foi revogada com o pretexto de matar os terroristas, a maioria das pessoas aqui em Kot Lakhpat foi condenada por crimes comuns. De que maneira a morte vai acabar com a violência sectária no país eu não sei dizer. Espero não morrer nesta quarta-feira, mas não tenho nenhuma fonte de renda e, por isto, só posso me confiar a Deus e aos meus advogados voluntários. Eu não renunciei à esperança, apesar de que a noite seja tão escura".
Os apelos lançados pela Igreja católica e pelos ativistas de direitos humanos foram inúteis. Dom Joseph Coutts, bispo de Karachi e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, tinha escrito ao presidente Himari Hussain pedindo que suspendesse a execução e ordenasse um novo inquérito.
Segundo a agência AsiaNews, Aftab foi condenado à morte em 5 de setembro de 1992 pelo assassinato de Sabiha Bari e seus dois filhos. No dia seguinte, Ghulam Mustafa, encanador de quem Aftab era aprendiz, foi preso por cumplicidade e torturado pela polícia para envolver Aftab no assassinato. Só recentemente é que Mustafa admitiu que o aprendiz não tivera relação alguma com o crime, do qual tinha sido apenas uma testemunha ocular. O homem também entregou um testemunho oficial a um líder religioso, declarando que havia mentido.
Aftab sempre se disse inocente. Ele contou que, quando foi preso, a polícia lhe pediu 50.000 rúpias (5.000 dólares) para liberá-lo. Como era apenas um jovem aprendiz, ele não podia pagar a quantia.
Pouco antes da execução, Aftab Bahadur Masih escreveu uma última carta para compartilhar seus sentimentos:
"Acabo de receber a minha sentença de morte. Ela diz que serei ‘pendurado pelo pescoço até a consumação da morte’ nesta quarta-feira, 10 de junho. Eu sou inocente, mas não sei se isso vai fazer alguma diferença. Durante os últimos 22 anos da minha prisão, recebi ordens de execução muitas vezes. É estranho, mas nem sei dizer quantas vezes já fui avisado de que estava prestes a morrer. É claro que dói cada vez. Eu começo a contar os dias de trás para frente, coisa dolorosa em si mesma, e descubro que os meus nervos estão acorrentados como o meu corpo.
Na verdade, já fui morto muitas vezes antes da minha morte. Suponho que a minha experiência de vida seja diferente da da maioria das pessoas, mas duvido que haja alguma coisa mais assustadora do que ouvir o aviso da própria morte e depois ficar sentado em uma cela esperando aquele momento.
Durante muitos anos – eu só tinha 15 – fiquei preso entre a vida e a morte. Foi um limbo absoluto, uma incerteza total do futuro. Eu sou cristão, e isto, às vezes, é difícil aqui. Infelizmente, há um preso em particular que tentou tornar a nossa vida ainda mais difícil. Eu não sei por que ele faz isso.
Andei muito triste com os ataques anticristãos em Peshawar. Eles me machucaram profundamente e eu gostaria que o povo paquistanês tivesse um senso de unidade nacional capaz de vencer o seu ódio religioso. Há um pequeno grupo, aqui, de cristãos, apenas quatro ou cinco, e agora estamos todos juntos na mesma cela. Isso melhorou a minha vida.
Faço tudo o que posso para escapar da minha miséria. Eu sou um amante da arte. Eu era artista – apenas ordinário – desde a infância, quando ainda não sabia nada. Mesmo assim, eu tinha uma inclinação à pintura e à poesia. Não tive nenhuma preparação; era apenas um dom de Deus. Mas, depois de ser levado para a prisão, eu não tive nenhuma outra forma de expressar os meus sentimentos, porque estava em completo isolamento e solidão.
Algum tempo atrás, comecei a pintar todos os cartazes da prisão de Kot Lakhpat, onde estou preso. Depois, me pediram para fazer também os cartazes dos outros presídios. Nada no mundo me dá mais alegria do que a sensação que eu tenho quando pinto alguma ideia ou sentimento sobre a tela. É a minha vida; sou feliz em fazer isso. A carga de trabalho é grande e eu fico exausto no final do dia, mas sou feliz, porque isso deixa a minha mente distante das outras coisas.
Eu não tenho família que venha me visitar; quando vem alguém, é uma experiência maravilhosa. Consigo recolher ideias do mundo exterior que, depois, posso colocar na tela. Ser questionado sobre o que senti quando fui torturado pela polícia me trouxe de volta lembranças terríveis, que traduzi em imagens. Talvez tivesse sido melhor não pensar no que os oficiais me fizeram para obter uma confissão falsa daquele crime.
Quando ouvimos a notícia do fim da moratória da pena de morte, em dezembro de 2014, o medo tomou conta de todas as celas da prisão. Houve um sentimento predominante de horror. A atmosfera estava pesada, escura, sobre todos nós. Depois, começaram as execuções aqui em Kot Lakhpat e todos passaram a sofrer a tortura mental. Os enforcados tinham sido nossos companheiros durante muitos anos, ao longo desta estrada rumo à morte, e é natural que a morte deles nos deixasse em estado de angústia.
Quando a moratória da pena de morte foi revogada com o pretexto de matar os terroristas, a maioria das pessoas aqui em Kot Lakhpat foi condenada por crimes comuns. De que maneira a morte vai acabar com a violência sectária no país eu não sei dizer. Espero não morrer nesta quarta-feira, mas não tenho nenhuma fonte de renda e, por isto, só posso me confiar a Deus e aos meus advogados voluntários. Eu não renunciei à esperança, apesar de que a noite seja tão escura".
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