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POEMA TEIMOSO

Antes que morra
quem sabe ainda
publique um livro
falando de todas
as minhas despedidas.

As caminhadas pelas ruas
despercebido das moças...
(elas sempre passam
olhando para baixo),
e as pessoas,
voltadas a seus projetos
pessoais
formando uma multidão
perdida.

Todos...
aos próximos e os distantes,
nas concordâncias
muitas vezes fáceis
e tolerantes,
e nas divergências
verdadeiras provas
da amizade.

Antes que a morte
interrompa
este vil poeta
de suas constantes
iniquidades,
quem sabe sobre
o amor provado
no convívio,
pacientíssimo,
possa eu 
dizer que realizei-me
plenamente,
para que acreditem
nesta mentira.

Farei,
sem dúvida,
um balanço
geral,
descartando
crenças envelhecidas
fatos inconsequentes
esforçando-me,
em perdões
incontáveis
dos erros cometidos,
meus...
a maioria 
deles.

Permanecerão 
os que souberam
compreender
meus desatinos,
e ainda assim
gostaram de mim.

Não importa,
a terra come 
a todos
igualmente.

Do céu azul
não precisarei dizer,
muito menos
dos amores
de meu grande amor...
não cabem em letras
suplantam-nas.

Antes de fazer
minha última 
despedida
(e espero que 
esteja longe),
quero agradecer
a Deus
sem a jocosidade
dos beatos
(eu que sou
um desses),
mas considerando
tudo o que sou
e fui.

Sei de sua 
presença oculta
em todos 
os acontecimentos,
dos menores 
e particulares,
aos estruturais. 
Importa aqui 
o nascimento
casamento
filhos,
a vida
conforme
caminha.
Sei que me assombras
em sonhos,
e transpareces
nos rostos
e nos gestos
do povo simples.

Não esperem
grandes
despedidas.
De fato,
nunca se despede
porque não
há hora certa,
pertence ao 
imponderável.

Por isso 
tomo
estes
versos
crônicos
presente,
para que todos
saibam
deste Pó
esquecido
na margem
das estradas,
que apenas 
levanta-se
quando alguém
passa



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