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INCOMPLETO

Trago uma sensação 

permanente 

de que há um vazio 

em mim 

a ser preenchido.  


Não me pergunte

Do quê?


Se soubesse 

seria mais fácil 

preenchê-lo.


Tem algo de mistério, 

incapacidade própria 

de discernir, 

abrasar-se,

satisfação 

com as rotinas,

falta 

de sensibildade, 

sutileza.


Questiona 

lentamente a Lua, 

suas fases,

não percebe

o trajeto das nuvens, 

nem o dia que se forma.


Não ouve o silêncio 

que precede 

o despertar, 

como grita.


Vazio mudo, 

incapaz de si, 

sonolento, 

indiferente. 


O mensageiro 

dos ventos 

lembra 

o invisível ar

que se move...


Onde está 

este preenchimento 

que desconheço?


Quem 

o retirou , 

deixou solto, 

vagando 

qual alma 

penada 

por aí?


Saio pelas manhãs 

atrás dele, 

dobro quarteirões,  

estico ruas, 

até que, cansado, 

retorno incompleto. 


Não tem cor, 

mas deixa a sensação 

de um colorido perfeito; 

não tem odor, 

mas fica a impressão 

de uma essência nova, 

dama da noite

ao alvorecer; 

não  está nos olhos 

acostumados a rotina.


Está ali, 

mudo, 

seguindo-me

pela vida.








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