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A ÓTICA RELIGIOSA DAS ELEIÇÕES


Quero abordar um tema tabu, mas arrisco-me em refletir, porque considero que se deva superar uma série de falsas visões, para se amadurecer a relação religião e estado laico. Vamos lá, sou um homem de fé.

Ao pensarmos em participação política geral, supomos o envolvimento pleno do cidadão, seja em termos de conhecimento da realidade que o envolve, seja em termos práticos, com sua inserção em atividades sociais,  associações, sindicatos, etc..

Não é bem assim, quando pensamos na participação política dos fiéis. Por estarem em uma relação fechada, blindada, em seu segmento religioso, não possuem a mesma visão do homem político, mas etnocêntrica, que recebem, seja de pastores ou sacerdotes, onde a verdade tem sua exclusividade, em um "mundo pecador", que não deixa de ter sua verdade.

 Exemplifico: o aborto é um exemplo forte de conotação político religiosa, a obscurecer todos os outros temas de cunho social e econômico. Muitas vezes não se consegue sair deste tema, e o tornam ponto básico e final.

Não importa se o país avançou, se houve distribuição de renda, desenvolvimento.

Ainda que o aborto seja um tema importante, que deva ser discutido por toda a sociedade, nada justifica fazer dele forma de desviar o fiel de outras discussões, ou de subordinar tudo a este tema.

Isto particulariza a política, e aprisiona o fiel eleitor em ideológias  conservadoras, que não precisam discutir os problemas com profundidade, sobrevivendo nesta dimensão de desconhecimento.

Os fiéis não são chamados a refletir as conquistas sociais, mas a seguir determinadas posições abraçadas pelos seus líderes.

Durante os períodos entre eleições, de maneira geral, abordam as leituras biblícas numa dimensão abstrata, e quando muito, fazem numa vinculação com aspectos pessoais dos fiéis, mas raramente relacionando com o universo político geral, identificando os personagens antigos com os atuais. Não, isto não. Não me cabe avaliar este aspecto, mas constatar.

A religião torna-se assim, intrauterina, isto é, verifica se o candidato é da mesma confissão religiosa e se a frequenta com alguma reularidade, secundarizando quais sejam suas posições, que eventualmente podem até ser mesmo contrárias a de seus fiéis.

Isto quando não é o próprio líder religioso que assume um novo papel político,  lançando-se na política, mas aí carregando também esta visão intimista para o parlamento.

Acabam tornando-se atores políticos em atividades de fundo moral, como pedofilia, aborto, uniões conjugais de mesmo sexo, ou o divórcio.

No fundo, exercem a função religiosa no parlamento, sem ampliar suas atuações além dos aspectos morais, imaginando-se  num país teocrático, onde suas confissões religiosas conseguirão impor-se sobre as demais.

Algo não tão natural para um estado laico, onde as religiões usam o espaço para a disseminação dos valores sociais, que o Estado laico não se considera capaz de elaborar, e omite.

Mas as pequenas experiências que realizam, como ao assumir uma prefeitura, ou um governo estadual, acabam tornando-se iguais a de todos, sem o purismo com que se auto-definem, mas com as mesmas mazelas do dia-a-dia: suspeita de desvios de verbas, favorecimento de parentes, de apadrinhados, e assim vai.

Muito facilmente mudam de partidos, quando não fundam um, tendo em vista oportunidades de crescimento de suas influências. Como se vê os aspectos morais não se aplicam às posições políticas, que podem ser bem flexíveis



Muito cedo frustram seus fiéis em seus sonhos de um governo "do Senhor Jesus". Daí em diante, há um revertério: a política, mais atraente, exerce uma influência de fazer a igreja base politica de candidatura religiosa, tudo com muita doutrinação e disfarce.


As instituiçõe religiosas, entretanto, não estão imunes às influências dos ventos sociais que sopram no país, e acabam sendo obrigadas a repensar seus papéis, e novas oportunidades aparecem tentando repor doutrina e ação social coerentes com as necessidades sociais.

Um novo país exige ação decidida dos fiéis, rompendo paradigmas velhos e sendo colaboradores do processo de melhoria das condições de vida do povo, como erradicar a pobreza. Isto é possível, mas exigirá diálogo e diálogo.

Jesus disse: "A VERDADE VOS LIBERTARÁ!"

Vamos buscá-la.

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