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OS SEM CANDIDATOS

Visitando o povo de rua que mora no centrão da cidade de São Paulo, percebemos sua condição de pré-cidadãos, pré-moradores, pré-vestidos, pré alimentados, pré-eleitores,..pré..pré...

Estão à margem de tudo. Hoje, 27/08/2010, saimos por várias ruas, para aprendermos com o povo de rua, tão esquecidos, abandonados mesmo.

Acompanho um grupo da Aliança da Misericórdia, católico, pelas ruas do centro. Um senhorzinho, de cabelos brancos, acompanhou-nos, por todo o trajeto, ensinando-nos como silenciar, como ser simples com os irmãos, nós tão faladores e cheios de tantas verdades.

Encontramos um rapaz que logo veio ver-nos. Chorou, porque fora discriminado e demitido por um chefe mau e desmoralizado por alguns funcionários maus. Lamentava estar na rua, logo agora que ia bem no serviço. Dizia não ter feito nada que prejudicasse no serviço. Encorajamo-lhe a não desistir, e a ter fé em Deus, e que alguma oportunidade nova surgirá, se ele não desistir.

Ao sair, veio uma moça, magra e mal vestida, cheia de alegria procurar-nos. Ao lhe perguntarmos sobre sua vida, confessou-nos ter perdido pai e mãe, estando totalmente órfã. E chorou às lágrimas. conformâmo-la com palavras de esperança.

Continuamos. Vimos um morador de rua ceder um cobertor para um outro morador, paralítico, e outro ainda carregando alimento para outro morador com problemas de locomoção. Pensei, como eles são tão solidários entre si e nós tão egoístas. como ainda falta tanta solidariedade entre o povo. Penso: O socialismo só virá quando, de fato, o povo for tão solidário entre si, que conseguirá superar o apêgo materialista de coisas, pelo amor aos seus vizinhos, mais necessitados.

Paramos junto ao Ricardo, um morador de rua que ajeitava os cordões de um par de tenis novo. Comprara o tenis por R$50,00. Dá para imaginar um morador de rua comprando um tenis de 50,00? Estava se preparando para trabalhar. Precisava de um paletó e de uma gravata para o serviço de vigilante, mas tudo era muito caro. Encorajamo-lhe também a buscar. Á propósito, o Ricardo voltara de Brasília onde fora num evento político. foi o único sinal de contato do Estado com alguém da rua que soubemos, hoje.

Durante a noite aparecem os espíritas, os evangélicos, nós católicos, enfim todo tipo de doutrinas. O povo de rua tem paciência para ouvir a todos, e às vezes é obrigado a rezar na cartilha desta ou daquela igreja, como moeda de troca de algum alimento recebido. São abertos às discussões, e sempre estão dispostos a conversar; lógico, tem aqueles que querem a sua privacidade, e respeitamos, mas sua abertura ao diálogo é infinitamente maior que entre as classes mais abastadas,acumuladoras, capitalizadoras.

Vimos gente cantando usando um pedaço de pau como microfone, muitos enroladors em panos e cobertas.  Pelas 22:00hs o frio veio chegando. Como estou saindo de uma fortíssima gripe fui retornando para casa, não sem antes agradecer a Deus a oportunidade de aprender com o povo de rua a ser simples, e solidário.

Tenho ainda muito para aprender e para crescer.

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