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O Brasil que sai das eleições



Algumas primeiras impressões podem ir sendo apuradas também, além dos votos que elegeram a primeira mulher e companheira Dilma Roussef Presidenta da República. Vou elencar uma série de percepções:

1) O voto classista, ainda embrionário, distinguindo os ricos (vale dizer as classes médias e empresáriado) de um lado e grandes parcelas do povo da cidade e do campo, de outro. Voto ainda imbuído de uma consciência que não se expressa num confronto, mas começa a mostrar quem é quem, para cada uma das partes na disputa. Esta característica eleitoral vem da redemocratização, e pela primeira vez na História do país, se descola das manipulações e dos antigos votos de cabresto, mostrando um novo horizonte de lutas pela frente.


2) O voto do NE foi decisivo para a vitória, mas é uma faca de dois gumes. Há um pedaço da revolução de 30, reeditado nas urnas, um pedaço de 32 insurgênte e reacionário, um pouco do café com leite conservador. Apresenta-se uma nova elite nordestina que disputa a hegemonia do processo de desenvolvimento, com apoio popular, que se expressa nacionalmente. E há um sul conservador, preterido, culturalmente diferenciado, que sai frustrado deste embate. Mas também há forças novas cheias de disposição para crescer. O país cindiu-se eleitoralmente. Este aspecto tem implicações nacionais futuras que devemos acompanhar de perto e com atenção.
 
3) Grande parte das mulheres não se sensibilizou em ter uma mulher na Presidência da República. Muitas votaram em Dilma, mas parcela significativa das mulheres não viu na candidatura Dilma uma forma de reafirmar e avançar os direitos femininos. Pode esconder-se por trás disso, o velho e carcomido patriarcalismo que ainda tem muita influência no voto feminino. Paradoxalmente, as mulheres podem representar mais o voto conservador que o voto de gênero.

4) O centro-oeste mostrou que o empresariado rural se opôs à continuidade, e influiu na vitória de Serra na região. Isto se deve, em parte à luta ambientalista, que confrontou a pecuária, a abertura de novas fronteiras , agrícolas, os problemas de escoamento de produção, os movimentos sociais no campo, a velha tradição reacionária do agro negócio, etc, tudo aberto aos discursos de direita.

5) A questão religiosa veio à tona, com um virulência nova, resultado do crescimento do fundamentalismo religioso católico e evangélico nas cinco últimas décadas. Agindo por fora da política e diretamente em proselitismo junto ao povo mais pobre, e por influência de seitas americanas pentecostais, mas também pelo pentecostalismo tupiniquim, ignorando à princípio a campanha, partiu depois agressivamente em acusações e em determinar o campo das discussões num âmbito absolutamente restrito, próprio para a manutenção da alienação de seus fiéis, e do voto de cabresto.

6) A oposição sai organizada da derrota e o governo sai fortalecido no Congresso Nacional para a realização de grandes mudanças. Pelas características da radicalização da campanha, é de se supor que haja uma continuidade de embates e que a eleição de fato não acabou.

7) A Mídia marcou presença significativa, expressando abertamente seu apoio à oposição.  A Mídia sai derrotada das urnas, já que participou do lado perdedor.

8) O Governo Dilma não pode considerar um céu de brigadeiro para sua gestão como o foi para Lula. Deve tomar medidas de ação fortes em infraestrutura, saneamento, educação, segurança, e principalmente saúde, pois estes pontos tem flancos abertos que precisam ser resolvidos e seu governo. Deve considerar avançar as conquistas sociais na economia.


Creio que o Brasil precisa do esforço de todos para alcançar mais poder para seu povo, e portanto é fundamental participar e influir no  governo Dilma

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