Estou na Rodoviária de Sampa, segurem-se todos!

É incrível a quantidade de pessoas que chega e sai da cidade de São Paulo.

Estou aguardando o meu ônibus para Ubachuva, isto é Ubatuba, e por força das circunstâncias tive que aguardar na Rodoviária umas 3 horas aproximadamente.

Não preciso dizer que vasculhei canto por canto da Rodoviária e ainda tive tempo de dormir... sentado, é claro.

Entretanto, para chegar lá tive de vir de metrô.

O povo paulista perdeu aquela boa educação de ceder o lugar ou de deixar as damas passarem na frente, ou mesmo respeitar um idoso.

Tudo foi para o lixo.

Não existe mais.

Para entender esta mudança, as avessas, é preciso notar que adentramos em uma nova onda, competitiva, combinada com a esfacelação da chamada família tradicional. A nossa família de antigamente, agora, vista sob este ângulo. O tempo faz os conceitos mudarem de sentido.

Não é que ela acabou, ela foi submersa no oceano de divisões, novas formulações, disputas acirradas, onde os valores morais foram considerados obstáculos prejudiciais ao desenvolvimento. É preciso abrir espaços de qualquer jeito, não importa se tiver de remover este ou aquele. É lícito.

É o nosso "capitalismo socializado", com novos importantes segmentos sociais adentrando na chamada sociedade do futuro. Minhas teorias revolucionárias se flexibilizaram tanto que já nem sei de mais nada.

Sinto-me um peixe fora d'água nesta guerra, deste Big Brasil Brother.

Eu só queria um socialismo livre das amarras da competitividade.

Mais solidariedade. Mais conversa livre.

Mas não; na rodoviária só tem fila e gente quieta, olhando incriminadamente para os rostos que disputam espaços.

Tenho receio mesmo de dormir.

Gostaria um pouco de dirigíveis no céu,  no lugar dos aviões, e charretes com muitos cavalos pelas ruas.

Não sou bucólico.

Quero menos aço e mais naturalidade na vida.

As lojas de doces que oferecem os mesmos produtos, fazem dumping dos preços.

Recuso-me a comprar seja o que for.

O céu da cidade está acinzentado, bem paulistano, e um leve frio convida a uma malha fina.

Nada que não possa esperar por amanhã.

Bem, vou ficando por aqui.

Comi duas esfihas, que diminuíram significativamente no tamanho enquanto aumentaram razoavelmente no preço.

Dizem que é a tal lei do mercado,

A procura é muito grande.

Vai fazer o quê?

Comprar, né!

Estou aprendendo a ser paciente com a minha revolta.

A rodoviária de Sampa, meu povo brasileiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

PLEBISCITO POPULAR

O que escondo no bolso do vestido - Poema de Betty Vidigal