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O ultranacionalismo está em ascensão na Europa

28 DE MAIO DE 2013 - 10H25 

prensa latina


O ultranacionalismo avança na Europa como cupim em madeira, encontrando terreno fértil num continente que se vê incapacitado de procurar medidas eficazes para frear a expansão desse movimento. Paralelamente à crise econômica da União Europeia (UE) nos últimos quatro anos, que ataca com mais violência as 17 nações da zona do euro, as tendências preconceituosas dentro da própria população se sentem cada vez mais fortes, para além dos militantes políticos.


A falta de emprego, os salários precários, a insegurança sobre as garantias que o Estado deveria oferecer, a crise das famílias devastadas pelo desespero de não conseguir se manter, tudo isso coloca em risco valores humanos como a dignidade, a solidariedade ou a tolerância.

Além disso, a globalização a serviço dos interesses financeiros internacionais destrói conquistas sociais. Os valores democráticos são os que mais sofrem com o maior ataque vindo de diferentes fundamentalismos e uma violência neofascista começa a aparecer.

Quando a situação está como na Espanha ou na Grécia, com índices de desemprego acima de 26% da população economicamente ativa, sem perspectiva de melhora, ou quando a economia da União Europeia (UE) cai 0,1% só no primeiro trimestre, é difícil apelar aos valores mencionados.

Novos perigos rondam a condição humana como a intolerância, a indiferença, o ódio e a discriminação de outros, e servem como terreno fértil para organizações políticas neofascistas, antisemitas, racistas ou antiislâmicas.

Tudo isso levou ao aumento de grupos xenofóbicos que andavam há anos de forma silenciosa por toda a Europa e, no caso das antigas repúblicas soviéticas, aceleraram sua atividade depois das mudanças de sistema econômico, comentam analistas da UE.

O racismo e a xenofobia tiveram em alguns casos caráter de estado, como aconteceu em 2008, durante os governos de Silvio Berlusconi na Itália e Nicolas Sarkozy na França, com operações contra a comunidade cigana, uma das mais marginalizadas na Europa.

As origens do povo cigano rememtem ao início de 1300, quando várias comunidades indianas foram presas por sultãos árabes para serem levadas depois como escravos ao centro da Europa, principalmente ao atual território de Moldova e Romênia.

No entanto, os ciganos foram discriminados durante muito tempo, acusados de em vagabundos e ladrões, uma minoria cuja população chega a ser entre 10 a 16 milhões de pessoas em toda a Europa.

O problema desse povo na Europa levou à realização em 2011 do fórum Ciganos no século 21, em Lisboa, do qual participaram representantes de 23 países como Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Bulgária, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Suécia, Rússia e África do Sul, entre outros.

De acordo com Daniela Rodrigues, da organização SOS Racismo, as políticas de falsa defesa dos interesses da maioria da população aplicadas por Berlusconi e Sarkozy permitiram uma arremetida contra os ciganos em pleno século 21.

Mesmo assim, os marroquinos aparecem entre os mais marginalizados na Europa. Uma amostragem feita em nações europeias demonstrou que 23,1% dos estudantes interrogados dizem ter problemas em contar com colegas de classe que sejam ciganos.

Enquanto isso, o desemprego afeta sobretudo a juventude, que, ao mesmo tempo, é o setor mais vulnerável à propaganda de ódio, racismo e intolerância a estrangeiros, membros de outras religiões ou representantes de diferentes raças (negros, árabes).

Isso se deve, em parte, ao fácil acesso e habilidade dos jovens na Internet, onde se relacionam nas redes sociais e, em muitos casos, falta uma ideologia viável que evite tendências racistas ou xenófobas.

Muitas vezes o recrutamento de membros de organizações ultranacionalistas segue o seguinte esquema: ultra-fanáticos de clubes de futebol que são bombardeados com propaganda de ódio na Internet para depois ir a concertos neofascistas, destaca a agência IPS.

Talvez a fórmula manejada possa parecer um tanto simplista, mas se destaca como uma das maneiras mais usadas para coptar jovens às filas de grupos como a Frente Nacional da França, Jobbik na Hungria, ou o Partido Nacional-democrata Alemão.

A ultradireita no palanque

Já há alguns anos, a ultradireita europeia tem seu palanque em diferentes foros políticos, incluído o próprio Parlamento Europeu (PE), onde atualmente 30 cadeiras são ocupadas por partidos dessa tendência.

O PE conta com deputados da Aliança Europeia pela Liberdade, do Movimento Europeu de Liberdades e da Aliança Europeia de Movimentos Nacionais.

Mas no plano nacional, o que assusta ainda mais é o "sucesso" de grupos como o Partido Popular na Suíça, que chegou a 29% dos votos em eleições parlamentares, e na Holanda o Partido da Liberdade, com 15,5%.

O próprio Jobbik na Hungria, cujos membros, portadores de armas e uniformes escuros, são acusados de assassinar ciganos, contaram com 16,7% dos votos no ano passado.

Além disso, na Grécia, a ultradireita chegou ao gabinete, enquanto cresce o número de adeptos da Aurora Dourada neofascista, entre manifestações populares que exigem que o executivo impeça o crescimento das tendências xenofóbicas nessa nação afundada na crise. O Partido do Progresso Noruego, que em seu momento contou com 23% da preferência popular nas urnas, também se soma à lista dos "ultranacionalistas exitosos", como o movimento Verdadeiros Finlandeses, ou a extrema direita dinamarquesa, apoiada por 14% dos votantes.

Tudo isso levou à formação de alianças de ultradireita, como a de Movimentos Nacionalistas Europeus (AENM), que no total recebeu ao redor de 300 mil euros por conceito de ajuda a partidos parlamentares, estabelecida por lei em várias nações europeias.

Um dos perigos mais palpáveis dos grupos de ultradireita é que partidos historicamente apegados a preceitos democráticos chegam a incluir dentro de suas práticas ações com traços xenofóbicos, inclusive medidas exageradas de controle migratório.

Frente às diversas tendências racistas e xenofónicas da região, existem três grandes grupos considerados como os mais vulneráveis como o caso dos jovens imigrantes, usados como força de trabalho que a qualquer momento se elimina.

Outro grupo pode ser identificado entre os muçulmanos, cujas práticas religiosas e culturais são apresentadas como um perigo para a sociedade europeia e são responsabilizados por todos os problemas sociais.

Um terceiro setor vulnerável são os que podem ser facilmente considerados como indesejáveis, expulsos ou explorados, como é o caso dos ciganos.

Além disso, a exposição à propaganda neofascista cria os chamados lobos solitários que de forma individual podem causar muito dano, sobretudo, porque os serviços de inteligência baseados em estereótipos de muçulmanos terroristas poderiam deixá-los passar desapercebidos.

Isso ocorreu com o anglo-saxão Timothy McVeigh, que colocou um furgão carregado de explosivos em frente à sede do Escritório Federal de Investigações (FBI por sua sigla em inglês) no estado de Oklahoma, com saldo de dezenas de mortos.

Tal ação foi imitada depois por subversivos chechenos ou por outros grupos violentos no Afeganistão e outros países.

O mais recente caso é o do noruego Anders Breivick, que em julho de 2011 assassinou mais de 90 pessoas, em sua grande maioria jovens, para confirmar suas convicções de ultradireita.

Muitas de suas ações foram inspiradas por materiais como os Diários de Turner, do escritor nazista William Pierci, que já vendeu ao redor de cinco milhões de cópias.

A intolerância, imperceptível para os corpos de segurança e pela sociedade já que uma de suas marcas é seu caráter individual, pode desatar fenômenos muito negativos.

Dizia Elie Wiesel, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz e prêmio Nobel da Paz: "a intolerância não é apenas o instrumento do inimigo, mas o próprio inimigo" .

Fonte: Prensa Latina

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