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O FRIO DA MADRUGADA E O POVO DE RUA

Quem ouve os clamores do povo de rua, em suas dificuldades?

As autoridades? 

Prefeitura, Câmara, Judiciário? 

Estão todos entretidos com "suas imensas responsabilidades".

O comércio? 

O povo de rua não compra roupas, nem comida, nem sapatos, nem casas... ao contrário, consideram que o povo de rua lhes prejudica a imagem de atração para seus pontos de comércio.

Os moradores? 

Acham que eles não são confiáveis, que ali tem muitos que roubam e são drogados, ou pertencem a facções criminosas...

Hoje, saindo para a missa da 07H00 , no frio forte que fez esta noite, vi um morador de rua dormindo sobre um papelão, sem nenhuma coberta, apenas uma camisa leve e uma calça que ia até o joelho, eu que dormira com cobertas, e até o meu cachorro dormiu bem protegido.

Mais tarde, entreguei os sanduiches que a Margarida fez para eles, 8 no total. 

Coincidentemente eram 8 pessoas ali presentes na praça próxima a rodoviária. 

A matemática divina já prepara a quantidade antes,

Ali entreguei o pouco alimento que tinha.

Estavam bebendo pinga 51, naquelas garrafinhas pequenas, de plástico.

Como posso recriminar alguém por beber uma pinga, num frio destes?

Um deles me abordou e perguntou quando eu traria de novo comida? 

Respondi que fazia sanduiches umas três vezes por semana, e que me considerava um limitado, que poderia fazer mais. 

Reclamaram que o pior para eles era aos domingos, porque no domingo tudo está fechado e eles não conseguem nada por ali, nestes dias.

Outro, de nome Claiton, chegou perto e me disse que ontem, dia 15/ 07 fora seu aniversário. 

Tinha feito 41 anos. Com a voz embargada, quase chorando disse:

Meus amigos fizeram uma pequena festa para mim ontem, pelo meu aniversário. 

Minha família não fazia isto para mim.

Muito triste.

Coloquei uma reflexão do evangelho de João, sobre a mulher adúltera. 

Coincidentemente haviam 2 mulheres no grupo. 

Lembrei-as do machismo judaico, que Jesus repele, e exalta as mulheres:

Quem te condena? Ela não vê mais ninguém por ali e diz:

Ninguém. 

Jesus complementa:

Nem eu.

As duas mulheres prestaram muita atenção

Refletimos como Jesus quebra o machismo dos fariseus e restaura a dignidade da mulher. 

Depois de conversarmos, vi como são mais cheios de fé do que muitos fiéis que frequentam as igrejas, eles que quase não vão a estes lugares, principalmente por discriminação, por não serem bem recebidos.

Voltei para casa de bike, meditando as palavras deles, com a importância dos evangelhos.

Jesus Cristo era como eles, um errante, que percorria os vilarejos da Galileia.

Sigamos na luta pelos pequenos, os esquecidos deste mundo.


 

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