O DILEMA DA CLASSE MÉDIA PAULISTA



Andando por Sampa, percebo que quase nenhum carro tem adesivo do seu candidato para Presidente da República, ou para Governador do Estado.

E fico a pensar, mas porquê não estão colocando adesivos nos carros? Antigamente todos andavam garbosos, e cheios de vaidade por ter seu candidato, mas agora não. Porquê? Há uma decepção aí.

E não é sómente neste aspecto, mas há um silêncio estranho acompanhando a tradicional classe média paulistana, que mostra uma frustração com o resultado das pesquisas, estranhando o crescimento de Dilma. pPor isso, praticamente não discute as eleições. É como se não houvesse eleições, estão com vergonha.

Concluo que a classe média está com uma grande dúvida na mente. Ela não tem mais certeza em votar e Serra, e começa a se estrememecer com Geraldo Alkmin.

É porque o fenômeno Lula vem rompendo a influência que estes setores exerciam sobre as camadas mais pobres da população, e que se interagiam com ela, influenciando por extensão toda a periferia. Mas a sociedade paulistana é agora independente.

Posso estar errado, mas está surgindo um voto classista em São Paulo.

Ele já foi notado nas eleições presidenciais de Lula, num passado recente, e agora, ainda que sob influência da figura carismática de Lula, mais do que uma consciência política, este voto identifica um candidato como dos ricos, e outra como dos pobres, ou do povo.

Na atual eleição, em São Paulo, há um certo enjôo pela administração tucana, sempre com o mesmo discurso, enquanto se assiste uma realidade nova que não está sendo atendida. É aquele mal estar anterior ao vômito, por ter comido sempre da mesma coisa. Ficou sem sabor

O metrô, por exemplo, não dá para se falar em novos trens, ou na ampliação da rede, enquanto todos os passageiros se apertam diariamente nos trens apertados e sabem muito bem que o metrô, em algumas linhas está superado, não atende mais a demanda, e precisa ser modificado.
Não é mais uma questão de ampliação mas de reformulação.

Este discurso não entra no coração dos passageiros. E o Serra fazendo campanha andando de metrô, não combina com a realidade

Já o aspecto hipocondríaco, como lembrou Plínio, de só falar na saúde do país, uma coisa é o discurso, outro é o que a população vê e sofre diariamente, tentando ser atendida, marcar consulta, e ser tratada na rede hospitalar de São Paulo, que também está esgotadíssima.
O discurso de reformular a saúde no país pára na realidade paulistana.

Denunciam as estradas do país, mas todos sabem quanto custa viajar nas estradas paulistanas.

Dizem que a educação no país está ruim, mas as escolas, a situação dos professores do estado, enfim a realidade é outra daquela do discurso, pondo por terra, por si só, a propaganda eleitoral.

Não sensibiliza nem em São Paulo, quanto mais no Brasil.

A classe média paulista percebe que o Brasil pensa diferente dela, que  São Paulo não acompanha o restante do país.

Por fim, para seu espanto nota que até em seu terreiro está perdendo para a Dilma.

Aí o bicho pegou. Esta semi-elite, ou sub-ricos emplumados entrou em parafuso, e está com duas dúvidas:

1) Votar em alguém que está perdendo e está desesperado? As denúncias não mudaram as intenções de voto da população, que vê isto como um jogo eleitoral de quem está perdendo,  fazendo até um efeito boomerang contrário, de reforço de opinião de voto.

2) Votar em alguém que já conheço e tem o mesmo discurso, que não inovou, manteve-se fechado em seu gabinete? É "puro sangue", é verdade, mas não sensibiliza, e tem um aspecto antigo de gestão. Vê que São Paulo não usufruiu do desenvolvimento como nos outros estados, e sente um certo prejuízo nisto, um mea culpa.

Por isso a classe média está silenciosa, sem convicção. Quer o Serra, mas não tem prazer em apoiá-lo mais. Não quer Dilma, mas já a vê como vitoriosa.

Este dilema vai cair até o dia 3 e outubro, porque as pesquisas mostrarão um crescimento do voto classista em São Paulo, e inversamente assistirá também um segundo turno que porá em cheque 18 anos de gestão unilateral tucânica

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