domingo, 30 de novembro de 2025

DISPERSO

 


Meus versos estão feridos 

não se expandem, 

sangram


Perguntam dos corações vazios

a calmaria dos varais, 

as marés eternas...


Buscam lugares distantes, 

longe da morte,

arrependem-se das palavras...


Querem  dividir espólios,  

aguardam suas partes, 

disputam...


Ardem pelo caminho

trânsito em transe, 

lêem...


Estão aí dispersos 

em simbolos, 

não colam...


Sonham por algo, 

sem saber o quê, 

persistem...

terça-feira, 25 de novembro de 2025

FINAL DE NOITE

 

Como temos

sobrevivido

meu amor...

um mundo
que não nos entende,
nos leva em mar
tempestuoso,
jogando o barco
de um lado ao outro.
Queria a mansidão
dos jardins dispersos
fora dos trajetos,
e só encontro
o tempo comprimido.
Sobrou o fim da noite
para nosso silêncio.
Sobrou a sobra,
quase nada para nós.
Sobraram sonhos perdidos
no desencontro diário.
Ainda assim
sobrevivemos
nas confidências
guardadas
no outro lado
dos montes
onde o Sol
descansa
extenuado
do homem
e da mulher.
Peço
não se perca
este pouco
que ainda resta
no pouco
que somos
do pouco
que temos.
Somos assim,
acamados
noturnos,
assim seguiremos...

domingo, 23 de novembro de 2025

LIMITES

 


Vivo de limites...


Estão por aí, 

em quase todos 

os lugares.


A eles me submeto, 

me adapto,  

confronto... 

a outros rejeito, 

e por fim, 

outros ainda estabeleço.

partes fundantes da vida.


Com os limites 

mantenho uma relação 

de paz e guerra.


De paz...

se andam de acordo 

como vejo e ajo; 

de guerra...

quando me obrigam  

a contragosto, 

guardar-me 

do que digo e faço. 


Grande parte destes limites 

não estão explícitos, 

fazem parte 

do subentendido, 

vigiando no silêncio. 


As palavras batem-se, 

constantemente, 

a contragosto, 

nos muros da convivência, 

diferentes olhares, 

até definirem 

o que deve ser dito, 

e o que deve calar-se.


Talvez o primeiro choro 

tenha passado por fora...

talvez o amor desconheça regras

é porque é...

por isto perseguido 


Se olho atento, 

percebo-me um prisioneiro 

social e individual, 

um catálogo 

com nome e registro.


Ai os horários 

que lembram 

nossos tempos 

todos delimitados.


Agora tenho 

que por um fim, 

um limite, 

e chega!

sábado, 22 de novembro de 2025

ALMA MINHA

 


Desperta-me, minha irmã, 

segure o tempo um pouco mais, 

enquanto pesquisamos 

conchinhas coloridas 

deixadas nas areias úmidas da praia. 


Percorramos este vasto campo 

onde se esvai o caminhar 

entre as margaridas, 

enamoradas da relva homogênea, 

destacam-nas...


Lembra-te? desaparecemos nelas...


Alça-me além 

dos escombros inevitáveis 

nestes teus beijos líquidos, 

pesquisam linguas extintas, 

adiam meu féretro. 


Querida irmã,  alma minha!


Tu és a marca 

formada em meu rosto, 

fotografia em que me revelo 

inteiramente em ti, 

passos de meus tropeços, 

tão constantes

imagem que me distrai, 

despenca no caminho. 


Leva-me junto a ti, 

incapaz de ti, 

carente de ti.


Amada irmã, 

enciuma-me o beijo 

matinal do Sol,  

o banho noturno 

de afagos 

da Lua...

te acompanham 

em minhas ausências, 

velho e pequeno


Lembra-te de como 

percorremos em silêncio 

as grandes distâncias 

dos ocasos, 

tudo se encaixava 

como azulejos azuis, 


 Tudo era possível!


Onde tocávamos 

encontrávamos vida, 

mesmo nas pedras, 

impecáveis 

disformes...


Agora a hora se despede...

mostra-me então a noite, 

sigamos este pouco juntos, 

sonâmbulos do amanhã, 

olhemos o entorno construído, 

como reagimos 

aos clamores que ouvimos, 

ainda ecoam, 

como choramos o mundo...

certos de não errarmos o destino.


Venha! 


Ainda temos história nas mãos...

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

ENJOO INTIMO



Chega de mim!


Entorto-me como gostam...


Chega que me cego, 

nublado do que descarrego 


Chega do novo asfixiado 

nas entonações previstas.


Busco o afago 

das montanhas 

ansiosas de visitas, 

lágrimas que sugam o mar


Que se vá o vil 

que sempre me precede, 

e perca-me no silêncio 

dos seios protegidos .


Fujo de tudo, 

quem sabe descubra 

o ponto onde esqueci 

o nada badalando o tempo.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

VAGO...

 

A margem estreita do rio 

retém censuras 

a muitas desventuras


O tempo entretém-se

em se olhar, 

antes de se atingir, 

diante do alto mar.


Desvendam-se fases, 

despedidas de andores, 

devidas medidas 

colocadas a amores.


A distância trás 

apurado olhar, 

sem a ânsia 

do momento, 

reflexão ao analisar. 


Minha nau 

vaga solta, 

vento a popa 

nas velas

sem escolta, 

sequelas...


Abre-se a mistérios, 

descobertas,  

busca por justiça, 

luta a impérios.


No mais, 

de tudo 

se desfaz, 

examina mapas, 

revê rotas, 

refaz

SOMATÓRIA

  


Como pode a vida 

somar história 

de todo um tempo 

no presente?


Emoções concentradas 

umas sobre as outras, 

como o coração suporta?


Batem a porta!

Recusam-se desaparecer, 

fazem parte.


Se deixo, 

sou invadido 

por uma integridade 

desaparecida.


Pergunta-me ainda 

se a sustento, 

se sofro, 

relego...


Quer saber 

quanto de mim 

está aqui, 

agora?


Se despedi-me, 

tornei-me outro, 

sobram derrotas, 

ou caminho 

confiante de mim...


Vou pelo caminho 

semi consciente 

da continuidade, 

embora sendo eu, 

muito me estranho

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

VARAIS

 


Coloco minhas roupas 

para secar no varal,

ao lado da jaboticabeira,

o sabiá alegra-me com o dia.


Aproveito que o Sol 

me invada também, 

secando a sujeira 

que ficou de ontem.


Prendo com grampos 

a rigidez na roupa úmida, 

certo que os ventos 

sacudam a rabugice 

para longe


Estico na roupa a ser presa,

essa lingua tagarela, 

para que possa calar-se, 

deixando os demônios enjaulados


No primeiro varal 

ficam as mãos erguidas 

com roupas 

tiradas dos ombros, 

pesam, 

clamando um despertar 

diante de tantas situações, 

eu tão omisso...


No último 

ficam as peças 

menos usadas , 

secam na sombra, 

demoradamente, 

estão cansadas 

do uso contínuo, 

torcem por novidades.


Dependuro a esperança 

no calor do dia, 

com a certeza 

de recolhê-la à tarde, 

guardá-la para o amanhã 

nem tudo é para hoje,

estarão preparadas.


Meus varais estão 

sempre à espera,

aproveitam a luz, 

o calor, 

os ventos

prendem a ordem 

seguram a vida 

que balança...

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

PARTE DE MIM

 


Ó parte de mim, 

que me deixaste, 

por onde andas?


Trazias as espumas, 

arrebentação constante 

de ondas,

desprezavas 

sua imensa contenção, 

mar indomado...


Tinhas palavras extraídas 

dos regatos cristalinos, 

antes que as águas  

se  ajuntassem caudalosas 

no afã diário.


Mantinhas a pureza 

da verdade, 

caminhavas altiva,, 

intocada presença 

divina de si.


Nada abalava 

seu lânguido percurso, 

pés seguros, 

fronte erguida,


Nada a amedrontava... 

admiravas os portões, 

guardavam segredos,

preferias os campos abertos, 

sua incursões 

eram sempre novas...


Parte de mim, onde andas?


Um dia, se me lembro, 

ou foi ao longo do tempo?

sem mais,  saistes, 

para não mais voltar, 

deixando-me,

de presente, 

a realidade.


Sua leve despedida 

foi percebida 

tardiamente...

retendo vida 

por onde passou, 

disfarçando a ausência.


Esforço-me por encontrá-la 

em meu cotidiano, 

sei que ainda anda 

a vagar por ai, 

dona de si, 

integrada. 


Alerta-me 

das grandes distâncias 

das teorias...

a simplicidade da vida


Deixa-me escritos, 

onde decifro 

seu belo labirinto 

de surpresas,  

desperta-me 

madrugada afora


Parte de mim, 

convida-me a percorrer 

novamente contigo 

os caminhos, 

nem que seja 

em versos 

despertos 

noturnos

sábado, 8 de novembro de 2025

DESAPEGO

  


Não procuro mais desafios, 

visito os jardins, 

possuem vida 

em terra firme, 

diluem as dores 

com flores, 

ensinam .


Evito ser encontrado, 

progressivamente me escondo 

nos escombros, 

interior a ser preservado 

das eternas rotinas, 

velórios de atividades.


Anseio pelas sínteses, 

poucas palavras, 

muitas compreensões 

dos caminhos, 

onde vão dar...


Perdoo os fracos, 

sempre em lágrimas, 

por não suportarem, 

como eu, 

os corações 

duros e secos.


Destes, conheço o olhar, 

não merecem consideração.


Descubro, 

no fundo do poço, 

a verdade, 

o sentido de tudo, 

desapego..

ERROS PERMANENTES

 


Fui poeta 

antes da gramática, 

versos inspirados 

ainda que errados.


Meu caminho 

seguiu a rua e a escola

o coração e a verdade, 

poucos simbolismos, 

mais realidades.


Depois, 

corrigi 

o incorrigível 

desconhecimento 

da lingua.


Vergonha

passei e passo, 

dos perfeitos de sempre, 

faço que me desfaço, 

para ser outro constantemente.


Sigo livre e solto, 

em pensamentos envolventes...

como parentes, 

veem-se constantemente.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

CORRENTEZA

 


Meu caminho 

não tem chegada, 

é uma continuidade 

de desafios.


Luta por sobrevivência...


Surpreendem-me 

as marés constantes, 

insurgentes,

desestabilizam...

terreno movediço  

da realidade 

sufocante.


Os dias percorrem 

travesseiros noturnos, 

vigílias inseguras 

do amanhã. 


A novela distrai,

o futebol distrai, 

o prazer distrai...


O silêncio do futuro 

são os ruídos 

permanentes 

do presente.


Nada muito explícito, 

sorrateiro, 

acompanha o féretro 

do destino.


Impossível acomodar-se!


O Sol esconde, 

com seu brilho 

a implacável vileza 

da realidade.


Vou assim, 

sonâmbulo, 

meio em mim, 

meio fora de mim, 

refletindo onde posso 

por os pés. 


Um mal sem rosto, 

imposto; 

uma fome guardada, 

escondida; 

um amor adiado, 

para quando?


Deixo um pensar 

inseguro, 

visitado pelo medo, 

enquanto o dia não vem...

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

LIXEIRA VIRTUAL

 


Aprendi a apagar o passado, 

jogando tudo no lixo, 

com um simples toque 

no celular. 


Observei como é fácil, 

eu que gosto de guardar...


De fato, 

guardar um passado 

morto, 

dá imenso trabalho, 

posterior,

em se livrar.


Ameaçou-me 

a caixa de recados,

repleta, 

deixar tudo 

o que faço suspenso, 

parado. 


Como sobreviver desantenado, 

eu maior que a tecnologia?


A contragosto, 

adaptei meus juízos 

às regras 

da sobrevivência 

mídiática,

vez por outra 

eliminando tempos, 

pessoas, 

elementos...


Estranha ética 

midiâtica, 

voraz e prática, 

indiferente, 

sem sentimento.


Algum dia 

estarei também 

lotando a caixa 

de recados de alguém, 

que me excluirá 

pela lixeira,  

e voltarei, 

desta vez eu,

a ser ninguém.

INERENTE

 


Antes de qualquer profissão, 

fui poeta...


Veio até no amor,  

acomodou-se

de alguma forma, 

seja como for...


Antes de me ver 

como gente

ja escrevia, 

extraia os versos 

da mente, 

a compreensão 

de quem seria.


Antes de mim, 

fui poesia...

aventurei palavras, 

vivia...

RECOLHENDO NO TEMPO



Sempre recolho 

algumas lágrimas 

do passado, 

pingam religiosamente...


Ultrapassam meus limites, 

a forma límpida 

com que busco 

regular as situações...

escorrem prisioneiras.


Outras ressecam, 

endurecem a cerviz 

como se fosse estátua, 

tornam a razão um deus.


Também recolho 

sorrisos fraternos, 

antídotos eficazes 

para toda sorte 

de problemas.


Deixam uma prevenção no agora, 

diante das contínuas surpresas.


Ai, se não houvessem 

as lágrimas 

os sorrisos, 

do que viveria?

VIRTUAL



O mundo digital  

me aproxima distante.


Distante aproximação, 

próxima e distante...


Digito só, 

a um digitado só, 

meço palavras gráficas 

coração na tela


Nunca me aproximarei 

verdadeiramente, 

nunca me distanciarei 

totalmente.


Viverei sempre por tocar 

apenas um teclado 

perdido em fotografias...

PARCIAL

 


Espere um pouco...

vamos ver se tudo 

se esclarece melhor.


Ninguém sabe antes... 

depois soma-se, 

tiram-se lições.


Só o amor é imprevisto, 

não escolhe hora, 

lugar...

imediato.


Então, a construção  

da vida 

combina 

observação contínua, 

com ímpetos, 

monções e vazantes .


A voz adapta-se, 

o coração navega, 

o pensamento abre velas...


Enquanto vivo 

carrego explicações 

incompletas, 

revelam uma 

humilde parcialidade.


Aceito resignado 

este caminho 

onde fui colocado.


Reconheço 

uma permanente 

surpresa 

a remodelar 

a personalidade.


Sou como muitos...

pé aqui, 

pé acolá

terça-feira, 4 de novembro de 2025

DESCOMPASSO

 


Às vezes vejo o dia ir, 

outras vezes não, 

ele teima em ficar


Muitas vezes produzo 

antes do dia acabar...

fico patinando 

o restante do tempo; 

em outras ocasiões 

não rendo nada, 

e o dia parece 

nunca terminar, 

lamento


Meu relógio 

não se acerta, 

acelera, 

atrasa,

aperta, 

vai e não vai.


Tenho um acordo 

com o tempo, 

ele passa 

desatento, 

ele fica, 

mulambento. 


Tenho o desejo de ir, 

e a preguiça de ficar, 

esforçar-me, 

sorrir, 

ou largar tudo, 

relaxar


Sei que nunca 

me acerto, 

aceito o defeito, 

ponho a cabeça 

no leito, 

e desperto tarde, 

insatisfeito.

sábado, 1 de novembro de 2025

ACONTECIMENTOS FORTUITOS.



Sou um acontecimento 

perdido na multidão. 


Tudo posso, 

mas acabo disperso  

em meio ao povo.


Descubro as verdades 

escondidas entre notícias, 

mas ficam restritas 

em comentários 

junto aos amigos. 


Passeio pelas praças, 

e quem sabe 

o quanto usufruo 

do aroma das flores, 

tão simples e perfeitas...

sabem do olfato 

em minhas narinas?


Sento diante do oratório, 

em viajem desconhecida,  

atrapalhada por ruídos 

de toda ordem...

quem sabe das graças 

que alcancei?


Abro livros,  

mergulho 

no desconhecido...

ignoram.


O café pela manhã 

na padaria, 

ocorreria 

acontecimento maior?


Aconteço 

em cada canto 

por onde passo, 

em particular encanto, 

e tudo me parece 

sempre um começo.

BEIRA MAR

  Sou o encontro  do espumar das ondas  na areia das praias,  meio perdido  do vasto mar,  meio absorvido  em terra profunda. Linguagem luna...