Pular para o conteúdo principal

O suicídio corriqueiro.

É até estranho falar sobre um assunto tão pessoal, como algo comum e que nos passa despercebidos.

Senão vejamos, em São Paulo, aproximadamente, 1.100 pessoas suicidam-se por ano.

Nos EUA este número chega a 32.000 e no mundo a cifra atinge 1.000.000 por ano.

Ontem indo de ônibus para Pinheiros, e vindo do Terminal Barra Funda, vi um corpo estendido no chão, e coberto por um lençol. Era na Avenida Sumaré, na altura da Ponte da Dr. Arnaldo. Perguntei ao cobrador se fora acidente de moto, porque nossas cifras de morte envolvendo motos atinge 1,3 pessoas por dia.

Para minha surpresa o cobrador me respondeu:

-Não, ele saltou da ponte. Já é a segunda vez que faço este trajeto e o serviço funerário e a polícia técnica ainda não chegaram para documentar e recolher o corpo.

Para vocês imaginarem, aquela ida até Pinheiros demorou 1:30 horas, e cobrador reclamou muito que fica praticamente 3 horas antes de "esticar as pernas". Bem, esticar as pernas não é bem o termo exato para se usar numa matéria destas, mas vai lá.

O corpo estava lá estatelado no chão a pelos menos umas 3 horas.

Fico pensando porque uma pessoa põe fim à sua vida.

Nunca me passou pela cabeça o desejo de realizar um ato como este, mas posso imaginar o que pode ter levado um ser humano a esta auto-destruição.

Dívidas impagáveis? Crise amorosa? Perda de ente muito querido e próximo? Quem sabe pura e simples perda de interesse na vida?

Perdi uma colega da faculdade logo quando iniciava a Ciências Sociais. Era uma moça linda e de pouca conversa.

Existe um ditado de pára-choque de caminhão que me vem agora à memória:
 "Tá ruim, mas tá bom".

Penso em nosso país. O Brasil vai bem, a economia cresce, gerando oportunidades para muitos. Mas se eu pensar no contraditório, tenho que admitir que muitas coisas não vão bem.

Dizer que os valores morais do país vão mal, creio que não é nenhuma novidade. A família está perdendo a referência, os crimes, os adultérios, a perda da religiosidade, fruto de uma banalização desta dimensão,as separações, mostram que alguma coisa não cheira bem no reino da Dinamarca.

Matar-se significa assumir uma atitude radical consigo mesmo, ainda que se possa recriminar tal ato. Radical porque põe por terra tudo.

O que se pode questionar é se esta atitude radical foi tomada conscientemente ou a pessoa foi levada a isto pressionada pelas circunstâncias. Creio que este último fator é mais importante.

Se puder dizer-lhe algo, aconselho a que não se mate. Nada vale tanto quanto à gratuidade de se estar vivo.

E viver não tem preço, embora nos cobrem durante toda a vida, e até depois da morte.

Não aceitem as pressões como um fim, nem as separações como únicas. Iremos perceber que somos resistentes cada vez mais às pressões, e que amores vem, vão, e voltam.

Hoje o sol raiou forte.

Sonho para que ninguém se desfaleça e continue amando acordar, andar, ser feliz.

A felicidade é um dom a ser cultivado, e devemos cultivá-la.

Bom dia a todos.


Comentários

Anônimo disse…
ola sei q parece um pouco estranho depois ede um ano alguem querer saber mais sobre esse assunto,mas gostaria q c for possivel vc me relatar mas alguma coisa sobre esse dia.email cristinanbrito@yahoo.com.br
Eu estava trabalhando em Pinheiros, em uma editora de uma amigo que me convidou a fazer vendas de edições de livros. Como escritor e poeta para mim é relativamente fácil, não a venda mas o contato com escritores. Este dia era de sol forte e alguém decidiu por fim à vida. A banalização da vida chega ao ponto das pessoas perderem o próprio interesse em viver. O suicídio, longe de ser uma libertação é uma fuga, como o caso de Valmor Chagas. Viveu sob os holofotes, mas bastou entrar na rotina da velhice em seu sítio que teve angústia existencial misturada com a perda do sucesso. Um tipo de covardia, de mau exemplo. Antero de Quental também cometeu esta besteira. Dizem alguns que ele tinha uma dor de dente insuportável que o levou ao suicídio. Não acredito.

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,