Pular para o conteúdo principal

Keep calm and Papai Noel não existe!

Não vamos estragar a vida dos nossos filhos se desmitificarmos a magia do Natal, mas sim se os deixarmos crescer sem esperança e sem Deus
Por Robert Cheaib
24 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - O artigo seguinte foi publicado originalmente na edição árabe de ZENIT como resposta a algumas perguntas de leitores. A resposta é bem-humorada, mas aborda "a séria questão da fé em Cristo".
Um leitor nos perguntou: “Vou estragar a infância do meu filho se contar a ele que o Papai Noel não existe?”.
A resposta para esta pergunta não requer uma especialização em teologia, como vocês podem imaginar. Mas vale a pena respondê-la para refletirmos melhor sobre o significado do santo Natal, questionar alguns escrúpulos infundados e salvaguardar o que é essencial.
A minha resposta é sim, revelar que o Papai Noel não existe vai estragar a magia da infância dos seus filhos. Mas só se o Natal, para eles, for apenas uma questão de presentes e de contos e lendas. Vai estragar a infância dos seus filhos se o Papai Noel for "o único mediador" do afeto em família, o único elemento de surpresa e a única novidade que encerra o ano. Vai estragar a infância dos seus filhos se eles foram criados com a ideia de um deus carrasco, inquisidor, inspetor, que tudo vê (ou pior, que só vê os pecados). Um Jesus que vem castigar você de noite, etc. Neste caso, se você matar o “Bom Velhinho”, vai arruinar o último totem do Natal dos seus filhos.
Já se você quiser abrir para eles um "caminho melhor", a minha resposta é não, absolutamente não vai estragar a infância dos seus filhos se contar a eles que o Papai Noel não existe. Vamos imaginar um cenário alternativo: você pode conversar com eles, numa linguagem simples, compreensível e atraente, sobre a beleza de um Deus que amou tanto o mundo, mas tanto, que nos deu de presente não somente todas as coisas, mas também o nosso próprio ser e, acima de tudo, deu a Si mesmo como presente para nós! Nesta conversa, os evangelhos da infância são uma leitura extraordinária para fazer à noite com os filhos.
Há uma imensa magia em contar a verdade sobre o Amor e sobre a sua gratuidade, que não é um mito surreal, mas a "verdade do mundo" e o "coração do mundo". Este é "o amor que move o sol e as outras estrelas".
E por que não explicar aos filhos que os presentes colocados embaixo da árvore são um símbolo minúsculo do grande presente de Deus para a humanidade, o seu próprio Filho, Jesus Cristo?
Por que não explicar que, apesar da crise, os pais, tios e tias, avôs e avós se prodigalizam para dar presentes não tanto pelos presentes em si, mas porque aprendemos de Jesus que há mais alegria em dar do que em receber e porque a fé nos ensina a beleza de estar juntos sob o mesmo teto?
Por que não ajudar a entender que o Papai Noel é um conto útil para nos lembrar de uma realidade muito mais bonita do que a ficção, a dos santos (neste caso, São Nicolau), que abrem os corações à generosidade para com o próximo, porque eles foram visitados e tocados pelo amor de Jesus, que nos amou primeiro?
O santo bispo Nicolau amava as crianças gratuitamente, não como o Papai Noel do meu bairro, que anunciava num cartaz: "Agende no parque da cidade a distribuição dos seus presentes com o Papai Noel!". E completava, em letras menores: "A partir de 3 euros por presente".
Você não vai estragar a infância dos seus filhos se, no lugar do bonachão desconhecido e imaginário, sintonizar a imagem de Deus e a imagem do Menino do presépio, eliminando aquela imagem de Deus como o Grande Inquisidor. Lembre-se: quem vê Jesus, vê o Pai. E falar dessa Criança é usar a melhor palavra para apresentar Deus, que é a Palavra.
Você não vai estragar o Natal se ajudar os seus filhos a terem os sentimentos de uma Teresa de Lisieux, que, antes de se reunir com o Amor na eternidade, escreveu: "Não posso temer um Deus que se tornou tão pequeno por mim... Eu o amo... porque ele é o próprio amor e ternura".
O caso do Papai Noel é uma questão muito pessoal.
No ano passado, eu estava com meu filho de três anos fazendo compras de última hora para o Natal. O pequenino percebeu que havia muitos Papais Noéis por aí, de vários tamanhos e em vários estágios de dieta. Ele próprio ficou em dúvida. Foi uma boa oportunidade de explicar a ele as várias coisas que mencionei acima... E até agora eu não senti a necessidade de mandá-lo para o psicólogo.
Você não vai estragar a vida dos seus filhos se desmitificar o Papai Noel. Não são os mitos que nos dão a vida, a alegria e a serenidade. Vamos estragar a vida dos nossos filhos se os deixarmos viver sem amor, crescerem como se Deus não existisse, como se Cristo fosse apenas um acessório da sua própria festa de nascimento. Vamos estragar a vida dos nossos filhos se eles crescerem sem esperança e sem Deus neste mundo.
Um canto religioso libanês termina assim: "Sem você, a minha felicidade não é plena. Sem você, a minha mesa está vazia". O Pão do Céu, nascido na "Casa do Pão" (que é o significado literal da palavra “Belém”), é o centro e o sentido da festa. Sem ele, os “acompanhamentos” não saciam. Ele é o desejo de todos os nossos desejos. Percebemos a sua importância nestas palavras transbordantes de desejo de Isaías, 9: "O ​​povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam na terra da escuridão, uma luz começou a brilhar. Multiplicaste a alegria, aumentaste a felicidade. Alegram-se diante de ti como se alegram nas colheitas (...) Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (...), o príncipe da paz".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod...

Profeta Raul Seixas critica a sociedade do supérfluo

Dia 21/08/2011 fez 22 anos que perdemos este incrível músico, profeta de um tempo, com críticas profundas à sociedade de seu tempo e que mantém grande atualidade em suas análises da superficialidade do Homem que se perde do principal e se atém ao desnecessário. A música abaixo não é uma antecipação do Rap? Ouro de Tolo (1973) Eu devia estar contente Porque eu tenho um emprego Sou um dito cidadão respeitável E ganho quatro mil cruzeirosPor mês... Eu devia agradecer ao Senhor Por ter tido sucesso Na vida como artista Eu devia estar feliz Porque consegui comprar Um Corcel 73... Eu devia estar alegre E satisfeito Por morar em Ipanema Depois de ter passado Fome por dois anos Aqui na Cidade Maravilhosa... Ah!Eu devia estar sorrindo E orgulhoso Por ter finalmente vencido na vida Mas eu acho isso uma grande piada E um tanto quanto perigosa... Eu devia estar contente Por ter conseguido Tudo o que eu quis Mas confesso abestalhado Que eu estou decepcionado... Porque ...

O que escondo no bolso do vestido - Poema de Betty Vidigal

Foi em uma conversa sobre a qualidade dos poemas, quais aqueles que se tornam mais significativos em nossa vida , diferentemente de outros que não sensibilizam tanto, nem atingem a universalidade, que Betty Vidigal foi buscar, de outros tempos este poema, "Escondido no Bolso do Vestido", que agora apresento ao leitor do Pó das Estradas, para o seu deleite. O que escondo no bolso do vestido  não é para ser visto por qualquer  um que ambicione compreender  ou que às vezes cobice esta mulher.  O que guardo no bolso do vestido  e que escondo assim, ciumentamente,  é como um terço de vidro  de contas incandescentes  que se toca com as pontas dos dedos  nos momentos de perigo,  para afastar o medo;  é como um rosário antigo  que um fiel fecha na palma da mão  para fazer fugir a tentação  quando um terremoto lhe ameaça a fé:  Jesus, Maria, José,  que meu micro-vestido esvoaçante  não v...