Pular para o conteúdo principal

Domingo à tarde, nada a fazer...

Não há ocasião melhor para nada fazer, do que um domingo à tarde. 

É tão abundante este nada a fazer, que se acaba nem fazendo o que não se faria. 

Não durmo como quereria porque seria dormir demais, só dormir, e isto seria  muito nada por se fazer, quando se deve fazer pouco. 

Não como muito, porque é muito alimento para o nada do dia, muito exercício estomacal para nada de exercício. 

Visito parentes distantes, porque é um momento pouco comum, quase nada a ser feito. 

Beijo, mas beijo o suficiente, porque o sábado, a semana inteira beijei, e embora não canse de beijar, é beijo demais para o pouco a se fazer também no domingo. 

Vou à missa e rezo. 

Ali descubro o pouco que tenho feito a Deus durante os dias da vida, e rendo-lhe minha homenagem e gratidão, o pouco que faço, quase nada, para aquele que diuturnamente cuida de mim escondido. 

Faço no domingo este muito pouco por Ele, quase nada. 

Giro os canais da TV e nada satisfaz, tudo em desacordo com o nada em que estou.

Nada combina com o nada do domingo. 

Vou preparar-me para a semana, e penso no amanhã, mas penso pouco e a conta gotas, porque ainda não é amanhã, e me retiraria do nada em que estou submerso. 

Domingo é para a cama assim como a segunda é para o trabalho. 

Domingo não se trabalha, não se faz nada, quase nada, nada mesmo. 

Abro a geladeira em busca de algo, e não me satisfaço porque não há algo, há o nada para se comer e beber. 

Que estou fazendo, que alteração, que influxo, retardamento é este do domingo. 

Não sei, nem me interessa saber, para não pensar muito no nada que quase estou fazendo, de tão pouco.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como devia estar a cabeça de Mário de Andrade ao escrever este poema?

Eu que moro na Lopes Chaves , esquina com Dr.Sérgio Meira, bebendo atrasado do ambiente onde Mário de andrade viveu, e cuja casa é hoje um centro cultural fechado e protegido a sete chaves (que ironia) por "representantes" da cultura, administrada pela prefeitura... Uma ocasião ali estive, e uma "proprietária da cultura" reclamou que no passado a Diretoria da UBE - União Brasileira de Escritores, da qual fiz parte,  ali se reunia, atrapalhando as atividades daquele centro(sic). Não importa, existem muitos parasitas agarrados nas secretarias e subsecretarias da vida, e quero distância desta inoperância. Prefiro ser excluído; é mais digno. Mas vamos ao importante. O que será que se passava na cabeça do grande poeta Mário de Andrade ao escrever "Quando eu morrer quero ficar". Seria um balanço de vida? Balanço literário? Seria a constatação da subdivisão da personalidade na pós modernidade, ele visionário modernista? Seria perceber São Paulo em tod...

Profeta Raul Seixas critica a sociedade do supérfluo

Dia 21/08/2011 fez 22 anos que perdemos este incrível músico, profeta de um tempo, com críticas profundas à sociedade de seu tempo e que mantém grande atualidade em suas análises da superficialidade do Homem que se perde do principal e se atém ao desnecessário. A música abaixo não é uma antecipação do Rap? Ouro de Tolo (1973) Eu devia estar contente Porque eu tenho um emprego Sou um dito cidadão respeitável E ganho quatro mil cruzeirosPor mês... Eu devia agradecer ao Senhor Por ter tido sucesso Na vida como artista Eu devia estar feliz Porque consegui comprar Um Corcel 73... Eu devia estar alegre E satisfeito Por morar em Ipanema Depois de ter passado Fome por dois anos Aqui na Cidade Maravilhosa... Ah!Eu devia estar sorrindo E orgulhoso Por ter finalmente vencido na vida Mas eu acho isso uma grande piada E um tanto quanto perigosa... Eu devia estar contente Por ter conseguido Tudo o que eu quis Mas confesso abestalhado Que eu estou decepcionado... Porque ...

O que escondo no bolso do vestido - Poema de Betty Vidigal

Foi em uma conversa sobre a qualidade dos poemas, quais aqueles que se tornam mais significativos em nossa vida , diferentemente de outros que não sensibilizam tanto, nem atingem a universalidade, que Betty Vidigal foi buscar, de outros tempos este poema, "Escondido no Bolso do Vestido", que agora apresento ao leitor do Pó das Estradas, para o seu deleite. O que escondo no bolso do vestido  não é para ser visto por qualquer  um que ambicione compreender  ou que às vezes cobice esta mulher.  O que guardo no bolso do vestido  e que escondo assim, ciumentamente,  é como um terço de vidro  de contas incandescentes  que se toca com as pontas dos dedos  nos momentos de perigo,  para afastar o medo;  é como um rosário antigo  que um fiel fecha na palma da mão  para fazer fugir a tentação  quando um terremoto lhe ameaça a fé:  Jesus, Maria, José,  que meu micro-vestido esvoaçante  não v...