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Juremir revela: quais jornalistas apoiaram militares em 64?



publicada segunda-feira, 10/03/2014 às 11:52 e atualizada segunda-feira, 10/03/2014 às 12:31
“Sem o trabalho da imprensa, não haveria legitimidade para a derrubada do presidente João Goulart”
Por Juremir Machado, no Facebook
Estou com livro novo. Escrevi “1964 golpe midiático-civil-militar” para me divertir. Trabalhei como um cão, mas senti prazer. De que trata realmente meu livro? De como jornalistas e escritores hoje cantados em prosa e verso apoiaram escancaradamente o golpe: Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resend, Otto Maria Carpeaux, Rubem Braga e outros.
Alguns, como Cony, arrependeram-se ainda na primeira semana de abril. Outros só mudaram depois de 1968 e do AI-5. Alguns permaneceram fiéis ao regime. Os mais espertos, como Alberto Dines, reescreveram-se.
Como sempre em meus livros, apresento as provas. O poeta Drummond, que deveria ser uma antena da aldeia, só captou o senso comum conservador do seu bairro: “No caso do Sr. Goulart a verdade é que ele pediu, reclamou, impôs sua própria deposição”.
A lógica do poeta, bom de verso e péssimo de reflexão social, era a do machista que culpa a minissaia da mulher pelo estupro. Jango provocou os militares com sua obsessão por reformas, como a agrária, que só fariam bem para o Brasil.
O caso mais impressionante de apoio ao golpismo foi o de Alberto Dines, diretor de redação, à época, do Jornal do Brasil. Dines, atualmente, dirige site Observatório de Imprensa, site de crítica de mídia. Jamais fez um bom mea-culpa.
O homem que agora posa de decano do jornalismo comprometido com a democracia era, em 1964, um golpista a serviço do pior do Brasil: “Só podíamos dedicar um único editorial contra cada ato ou falação de Goulart. No dia seguinte, já havia outros para atacar”.
Dines não pôde se conter: “Jango permitira que na vida brasileira se insuflassem tais ingredientes que, para extirpá-los, seriam necessários não mais o ‘jeitinho’. Desta vez, teriam de ser empregadas a força e a violência”. Alberto Dines apoiava a queda de Jango, ansiava pelos militares, tentava ajudá-los assustando cada vez mais a população.
Antonio Callado, que se tornaria um ícone da resistência à ditadura, foi um medíocre preparador da atmosfera para o golpe. Escreveu: “O triste, no episódio tão pífio e latrino-americano da deposição de Jango, é que realmente não se pode desejar que as Forças Armadas não o traíssem”. Callado praticou o sensacionalismo mais barato.
Tentou encontrar razões psicológicas para as atitudes de Jango em sua condição física: “Ao que se sabe, muitos cirurgiões lhe garantiram, através dos anos, que poderia corrigir o defeito que tem na perna esquerda. Mas o horror à ideia de dor física fez com que Jango jamais considerasse a sério o conselho. Talvez por isso tenha cometido o seu suicídio indolor na Páscoa”.
Já Carlos Heitor Cony ajudou a escrever os editorias “Basta!” e “Fora!”, publicados pelo Correio da Manhã, nos quais se clama pelo despeito à Constituição e pela deposição do presidente. Tudo porque Jango mexer nos muitos privilégios dos ricos. Dou essa palhinha. Deixo o essencial para quem ler o livro, que poderia se chamar também origens ou consolidação da imprensa golpista.
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