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Se a imortalidade da alma não existe, tudo é permitido!

As lições de Irmãos Karamázov
Por Edson Sampel
SãO PAULO, 07 de Março de 2014 (Zenit.org) - Todos nós conhecemos a célebre frase de Dostoiévski: se Deus não existe, tudo é permitido. Encontramo-la registrada no famoso livro Irmãos Karamázov.
Relendo a obra-prima acima citada, deparou-se-me esta outra pérola do grande escritor russo: se a imortalidade da alma não existe, tudo é permitido. Com efeito, uma das personagens advoga a tese de que a ética ou a moral está alicerçada na crença na   imortalidade da alma. O interlocutor revida, afirmando que é possível ser ético simplesmente amando a liberdade, a fraternidade e a igualdade.
O problema da possibilidade de uma ética sem Deus foi objeto de um célebre debate entre o saudoso cardeal Martini e o filósofo Humberto Ecco. Em uma das cartas dirigidas a Ecco, Martini o questiona a propósito da fonte de onde um ateu extrairia princípios éticos ou morais para pô-los em prática no quotidiano.
A questão ora arguida em Irmãos Karamázov é bem diferente, porquanto é possível crer em Deus, mas não acreditar na imortalidade da alma, como, aliás, procedem certas seitas contemporâneas. Sem embargo, segundo o livro em apreço, a permissão para o cometimento de toda sorte de pecados e crimes encontra-se atrelada à descrença na imortalidade da alma.
As duas premissas dostoieviskianas são verdadeiras: não há que se falar em ética, se Deus não existe e, outrossim, não há que se falar em ética, se a alma não for imortal, pois a vida passageira e tumultuada do homem seria um completo sem-sentido. O existencialismo de Sartre, estribado no ateísmo e, por conseguinte, no descrédito absoluto da imortalidade da alma, chegou às últimas consequências, asseverando que não vale a pena viver. 
Com arrimo nestas lucubrações inspiradas em Irmãos Karamázov, aquilata-se a relevância de o Estado salvaguardar a religião, fazendo-o na própria carta constitucional. O Estado deve ser laico, porém jamais ateu. Em suma, toda moral ou ética só é legítima, à medida que elaborada a partir de uma visão metafísica ou trans-histórica da criatura humana, em outras palavras, desde que considere a crença cristã na imortalidade da alma. A barbárie e o caos, consoante a personagem de Dostoiévski, derivam diretamente da descrença social na imortalidade da alma.

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