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Exames que podem confirmar ou derrubar a tese do assassinato do ex-presidente ainda não têm data

A exumação do corpo do ex-presidente João Goulart começa na manhã desta quarta-feira (13) no Rio Grande do Sul, mas os exames que podem atestar se ele foi envenenado ou não serão realizados fora do Brasil em data ainda indefinida. Os laudos técnicos sobre a morte do ex-presidente devem ser divulgados dentro de seis meses.

Divulgação
Laudos técnicos sobre a morte do ex-presidente devem ser divulgados em 6 meses
Oficialmente, Jango morreu na Argentina em 1976, vítima de um ataque cardíaco. Mas a família do ex-presidente suspeita que ele tenha sido envenenado em uma ação da Operação Condor, parceria entre os órgãos repressores do Brasil e da Argentina entre os anos de 1976 e 1980.
Antes da exumação do corpo, será realizada nesta terça-feira uma audiência pública em São Borja, no Centro de Tradições Gaúchas Tropilha Crioula para explicar detalhes de como será o procedimento de investigação da morte do ex-presidente.
Na manhã de quarta-feira, cinco peritos da Polícia Federal e outros cinco peritos estrangeiros abrirão o caixão de Jango, tirarão os restos mortais do ex-presidente, colocando-os em um caixão especial para preservar ao máximo as características do corpo e trazê-lo a Brasília. Esse cuidado tem o intuito de evitar ao máximo a exposição do corpo ao calor e à umidade para que não ocorra a perda de características ou de elementos químicos que estão nos restos mortais de Jango durante o processo de investigação. A família do ex-presidente pretende acompanhar esse momento, menos a viúva de Jango, Maria Tereza Goulart.
Os restos mortais de Jango chegarão a Brasília na quinta-feira pela manhã e serão recebidos com honras de Estado pela presidente Dilma Rousseff na Base Aérea da capital federal. Somente depois dessa solenidade é que começam os trabalhos de investigação sobre a morte do ex-presidente.
Fases da investigação
No Brasil, a investigação será realizada na sede do Instituto Nacional de Criminalística (INC), no setor Policial, em Brasília. Serão realizados exames antropológicos, que visam obter características anatômicas que possam contribuir para a identificação do corpo. Nessa fase, também devem ser feitas radiografias e tomografias do ex-presidente para ajudar na identificação dos seus restos mortais. Esses exames serão comparados a características de Jango informadas previamente pela família, os chamados dados ante-mortem (como cirurgias, implantes ou outras características corporais do ex-presidente).
A segunda fase de investigação no Brasil constituirá na coleta de amostras (possivelmente cabelo dependendo do estado de decomposição do corpo) para a realização da decodificação do DNA de Jango. Esse DNA será comparado a amostras de DNA colhidas de seus familiares. Também no Brasil serão retiradas as amostras para a realização dos exames toxicológicos, para a investigação da possibilidade de envenenamento do ex-presidente.
Os exames toxicológicos, no entanto, serão realizados em dois laboratórios internacionais cujos nomes são mantidos sob sigilo. A intenção é que não ocorra a intercomunicação entre os dois laboratórios. Assim como as amostras dos restos mortais de Jango, será encaminhada a esses laboratórios uma lista de pelo menos 10 substancias nocivas, entre as quais clorofórmio e escopolamina. Essas substancias foram listadas como as mais usadas pelos regimes repressores na América Latina para envenenamento de pessoas contrárias ao regime militar. Também haverá a busca por medicamentos normalmente utilizados por Jango, como Isodril e Adelfan.
Os próprios responsáveis pela investigação e a família de Jango admitem ser difícil a expedição de um laudo conclusivo sobre a morte do ex-presidente. Quase 37 anos após a sua morte, é muito provável que algumas substâncias nocivas supostamente utilizadas na morte de Jango não sejam encontradas. E mesmo que os exames indiquem vestígios de que Jango foi envenenado, os laudos também podem apontar alterações nas substâncias químicas no corpo apontando “falso exame positivo”.
“A ideia é se esgotar todos os meios de prova. Se existe uma possibilidade mínima (de se encontrar vestígios da morte de Jango), é importante ir atrás dela”, disse a procuradora da República Suzete Bragagnolo, do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF-RS), responsável pelo inquérito civil público que investiga a morte do ex-presidente.
“Estamos lutando por isso há uma década. Isso não é um capricho. Estamos falando de um presidente da república”, diz Christopher Goulart, neto do ex-presidente. “As homenagens, o fato dele ser recebido com honras de chefe de Estado é mais importante que um laudo conclusivo. A não existência de um laudo conclusivo, não isenta a ditatura de nada. Meu avô sempre foi rotulado como fraco, como despreparado. Isso foi uma mentira. Mas nós da família sempre tivemos que arcar com essa carga”, complementou.
Após a exumação de Jango, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o MPF-RS ainda decidirão se serão realizadas oitivas em busca de novos depoimentos. A princípio está sendo estudada a possibilidade de se ouvir uma testemunha que hoje mora nos Estados Unidos. As investigações sobre a morte de Jango devem ser concluídas no final do ano que vem.
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