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Genoino: o "corrupto" que nunca lidou com dinheiro

23/11/2013



Ex-presidente do PT, deputado federal condenado na Ação
 Penal 470 relata suas primeiras impressões da vida na 
prisão; critica processo e reafirma inocência; questionado 
sobre o que pensa do futuro e qual expectativa tem sobre 
o pedido de aposentadoria feito à Câmara, Genoino afirma 
que jamais deixará a luta política; "Posso ter que mudar a 
forma, o local e o uniforme, mas o sentido da minha vida é 
lutar por sonhos e causas. Nunca lutei por questões pessoais. 
Não tenho patrimônio nem riqueza material. Quem quiser 
pode vascular meus dados bancários e fiscais. Até quando 
puder, lutarei pela minha inocência e por um Brasil justo, 
soberano e democrático", diz ele, em entrevista a Paulo 
Moreira Leite, da Istoé


"Mesmo com o tratamento digno e sério dos funcionários 
do sistema prisional, a sensação de estar preso injustamente 
é a mesma. Reafirmo que a tranquilidade da consciência dos
 inocentes é a mesma. Não cometi nenhum crime. Estou preso 
porque era presidente do PT. Isso faz de mim um preso político". 
A declaração é do José Genoino, concedida com exclusividade à
 revista Época, edição que chega nesta sexta-feira (22) às bancas. 
A entrevista foi feita na quinta-feira (21) pela manhã.

Questionado sobre o que pensa do futuro e que expectativa tem 
sobre o pedido de aposentadoria feito à Câmara, Genoino afirma 
que jamais deixará a luta política. "Posso ter que mudar a forma, 
o local e o uniforme, mas o sentido da minha vida é lutar por 
sonhos  e causas. Nunca lutei por questões pessoais. Não 
tenho patrimônio  nem riqueza material. Quem quiser pode 
vascular meus dados  bancários e fiscais. Até quando puder, 
lutarei pela minha inocência  e por um Brasil justo, soberano 
e democrático. Cumpro as decisões  da Justiça com
 indignação", afirmou.

Confira matéria, assinada pelo diretor da publicação,
Paulo Moreira Leite, na íntegra:

"Jamais deixarei a luta política"

Em entrevista à ISTOÉ, José Genoino fala sobre os momentos
 na cadeia. Com problemas de saúde, o deputado deve cumprir
 o restante da sentença em casa

Levado às pressas para o Incor de Brasília, na tarde da 
quinta-feira 21,  José Genoino recebeu duas notícias 
ao mesmo tempo. A primeira veio dos médicos.

 Ao contrário do que se temia no início, ele não havia sofrido 
um infarto do miocárdio. Enfrentava uma nova crise de pressão 
alta, igualmente preocupante, mas previsível num paciente em 
sua condição. A segunda novidade veio do Supremo Tribunal Federal. 
Como o próprio Genoino, seus advogados e a procuradora-geral
 da República em exercício, Ella Wiecko, solicitavam desde a 
segunda-feira 18, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do
 STF, concordou com o pedido de mudar seu regime prisional.

Em vez de cumprir seis anos e sete meses de pena em regime 
semiaberto, como ficou definido no julgamento da Ação Penal 470, 
Genoino foi autorizado a mudar-se para o regime de prisão chamado 
“domiciliar ou hospitalar”, considerado compatível com um estado 
de saúde classificado como “grave” ou “ gravíssimo” por todos os
 médicos que o examinaram nos últimos dias. Com a mudança, 
deixará de ser obrigado a dormir todas as noites na cela de uma 
prisão, com direito a sair apenas para trabalhar durante o dia, 
passando a viver internado num hospital ou mesmo em casa. 
Joaquim  Barbosa fez questão de ressalvar que sua decisão 
tem caráter “provisório”, esclarecendo que irá aguardar um
 novo laudo – o quarto
 em cinco dias – para anunciar uma resolução definitiva. Ao ser
 informado da mudança, Genoino reagiu em tom de alívio: “Então 
quer dizer que não vou voltar para a Papuda?”, perguntou à mulher,
 Rioko, referindo-se ao presídio de Brasília onde se encontrava
 internado desde o sábado 16. Horas antes de se dirigir ao Incor, 
ainda na Papuda, Genoino concedeu entrevista exclusiva à ISTOÉ, 
quando falou do drama de sua terceira prisão. 
“(Quando entrei na prisão)  Vieram à minha cabeça imagens 
terríveis de quando fui preso  durante a ditadura. Depois 
de uma viagem de um dia inteiro, totalmente desnecessária, 
ficamos quatro horas em um pátio  porque não sabiam 
onde nos colocar. Se não sabiam onde nos  colocar, 
por que nos fiz eram viajar?”, questionou.

Num país que acompanhava com apreensão a evolução da saúde 
de Genoino desde a noite da sexta-feira 15, quando ele se apresentou
 de punho erguido à sede da Polícia Federal, em São Paulo, numa 
cena que marcou o início das prisões de uma primeira leva de 11 
condenados na Ação Penal 470, a decisão de Barbosa teve caráter
 reconfortante. Não deve ser vista, porém, como sinal de que a
 condenação tenha sido amenizada. A pena continua igual. A menos 
que, como outros condenados, Genoino consiga livrar-se da 
condenação por “formação de quadrilha” no julgamento do STF 
sobre embargos infringentes, sua situação legal será a mesma 
de antes.

O novo regime de prisão é fruto da compreensão de que, diante de
 seu estado de saúde, as razões da medicina deveriam orientar a 
letra fria do Direito, pois uma vida humana estava em jogo. Fumante
 inveterado a ponto de consumir três maços de cigarro por dia até
 quatro meses atrás, hipertenso que há muitos anos toma 
medicamento  para controlar o mal, Genoino em julho foi 
vítima de uma dissecção  da aorta, patologia que costuma 
produzir hemorragias graves, infarto  e acidente vascular 
cerebral. Depois de uma cirurgia de oito horas, saiu do Sírio
 Libanês com uma prótese de 15 cm no tórax para substituir
 uma parte da aorta. “Nesta situação, é  preciso que o paciente 
tenha sua pressão arterial mantida nos níveis adequados”, explica 
o cardiologista Ricardo Miguel, da Sociedade de Cardiologia do 
Rio de Janeiro.

 Lembrando que a rotina da prisão pode “desencadear picos 
de hipertensão, que podem produzir um novo rompimento da 
aorta”, Ricardo Miguel acredita que “a melhor coisa para um 
paciente  como ele é ficar em casa.” Com pequenas variações, 
um diagnóstico  semelhante foi firmado por Roberto Kalil e
 Fabio Jatene, dois dos maiores cardiologistas do país, que 
atenderam Genoino no Sírio, e por Fábio Daniel, que o examinou, 
a pedido na família, a uma 
da madrugada de sábado, em Brasília. Os laudos deixaram claro 
que o deputado era um prisioneiro de risco – e a ninguém 
interessava a ocorrência de uma tragédia de conseqüências 
políticas imprevisíveis.

Verdadeira exceção numa sociedade polarizada e dividida, onde
 grande parte da população tem ojeriza por políticos profissionais, 
Genoino é um parlamentar de sete mandatos que colecionou um
 número imenso de admiradores nas várias fatias do espectro 
político, sejam aliados, sejam inimigos. O deputado do PT foi 
condenado a 6 anos e 11 meses de prisão, em regime semiaberto, 
por corrupção ativa e formação de quadrilha. Durante o julgamento
 do mensalão, três ministros que votaram por sua condenação – 
por ter, como presidente do PT, avalizado os empréstimos fictícios 
dos bancos BMG e Rural ao PT e participado de reuniões com 
dirigentes de partidos aliados em que se tratou de apoio político ao 
governo Lula em troca de vantagens financeiras – não deixaram
 de ressalvar o caráter admirável de Genoino e sua biografia com 
tantas passagens exemplares. Assinado por unanimidades da
literatura, como Antonio Candido, e da música, como Chico 
Buarque, circula pela internet, com apoio de 11 000 pessoas, 
um abaixo-assinado que diz que “José Genoino é um homem 
honesto, digno, no qual confiamos. José Genoino traduz a
 história de toda uma geração que ousa sonhar com 
liberdade, justiça e pão.”

Durante a semana, criticada pelos militantes do PT por manter um
 silêncio absoluto em relação ao destino dos condenados da Ação
 Penal 470, a presidenta Dilma Rousseff demonstrou preocupação 
com a saúde de Genoino por “razões humanitárias.” Na verdade, 
a presidenta tem uma afeição pessoal pelo deputado e por Rioko, 
guerrilheira do PC do B como o marido, quando as duas ficaram 
presas sob a ditadura militar. Quando, em função  da ação penal 
470, Genoino deixou o posto de assessor especial no ministério 
da Defesa, Dilma fez questão de receber o casal num jantar, no 
Alvorada. “É claro que a presidente se importa com o destino e 
o estado de vários condenados” afirma um assessor do Planalto. 
“Mas ela tem uma ligação com Genoino”, reforçou.

A melhor explicação para uma admiração com origens tão diversas
 encontra-se, provavelmente, numa ladeira no bairro paulistano do
 Butantã, endereço do maior patrimônio material do deputado. É um
 sobrado germinado, em formato de salsicha, comprado há três 
décadas com financiamento-padrão da Caixa Econômica. 
Os móveis são simples, mas acolhedores e confortáveis. 
O índice de luxo é zero e foi ali que o dono da casa criou um
 filho, uma filha. Uma outra filha de Genoino, nascida de
 uma relação fora do casamento, sempre morou com 
a mãe, em Brasília. De correspondentes estrangeiros 
a prestadores de pequenos serviços, todos visitantes
 se surpreendem ao descobrir a identidade do dono da casa. 
“Pensei que deputado só morava em mansão,” admitiu um 
funcionário de uma empresa de TV a cabo que, em função de 
uma política permanente de contenção de todas despesas que
podem ser eliminadas, fora chamado para desinstalar um ponto 
num quarto que a primogênita Miruna desocupou quando foi 
passar uma temporada na Espanha.

Normalmente, Genoino mostra-se constrangido quando o
 interlocutor ameaça fazer um elogio que no fundo é um
 diminutivo – falar bem de um sujeito pelo simples fato
 dele não ter-se tornado ladrão. 
Considera-se um lutador da política. “Jamais deixarei a luta política. 
Posso ter que mudar a forma, o local e o uniforme, mas o sentido 
da minha vida é lutar por sonhos e causas. Nunca lutei por questões
 pessoais”, disse à ISTOÉ. Sempre atuou à esquerda. Deixou a 
guerrilha do Araguaia fazendo a autocrítica da luta armada. 
Tornou-se um dos cérebros do Partido Revolucionário Comunista, 
uma organização efêmera, em sua existência, mas duradoura
 em militantes que fizeram boa história – como o governador
 do Rio Grande do Sul Tarso Genro e a ex-ministra e adversária
 Marina Silva, o mártir da ecologia Chico Mende

Incapaz de longas caminhadas, sem fôlego para a mesma oratória
 do passado, dias depois de deixar a mesa de cirurgia Genoino 
entrou com pedido de aposentadoria no Congresso, iniciativa que
 deu início a uma corrida contra o tempo nos bastidores de Brasília. 
Interessado em preservar seus direitos como parlamentar, 
Genoino quer aprovar a aposentadoria o quanto antes, encerrando
 a carreira no mesmo instante. Em busca de medidas que ajudam 
a agradar as ruas em ano pré-eleitoral, o presidente da Câmara, 
Henrique Eduardo Alves, quer votar a cassação dos parlamentares 
condenados pelo mensalão em prazo recorde. Se isso ocorrer, e 
Genoino for cassado, perderá o mandato e os direitos acumulados 
na carreira.  s. Mas na década de 1990 andava tão moderado entre 
os petistas que sentia-se mais à vontade para dialogar com estrelas
 do PSDB, inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso, e
 Luiz Eduardo Magalhães, nome em ascensão no PFL baiano até 
ser derrubado por um infarto fulminante.” 

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