Quero fazer memória deste poeta negro, de voz grossa e silêncio profundo.
De meter medo, e ao mesmo tempo um colibri, de manso.
Quando participava da diretoria da UBE, lá estava nas reuniões este amigo inesquecível.
Conheci Paulo Colina quando trabalhei no SESC Vila Nova, e lá formei, na biblioteca do Centro Social Carlos de Souza Nazareth, uma oficina literária.
Havia o Jorge Lescano, um argentino explodido de idéias, e um participante ilustre de nome Paulo Colina.
Só muito mais tarde reencontramo-nos, já na UBE.
Eu, um comunista, ele um trotskista, ambos em pleno centro literário.
Nunca nos digladiamos de nossas diferenças, porque havia uma amizade acimentada, granítica.
Morreu de uma hora para outra, sem escandalizar com sua ausência.
Na serenidade desta sexta-feira onde os tambores batem nos mais diversos rincões do país, anunciando ventos fortes, ponho à minha frente, na mesa, este poema do amigo Paulo Colina: "Nação"
NAÇÃO
Há este arfar gordo:
batidas pontuadas de pés no chão.
Não nos cabe agora o cão das salivas,
o fel que navega de tempos em tempos
por nosso território.
Não nos cabe agora o bisturi
das dúvidas
Este o momento de desatar nós internos
com nossas canções.
Onda negra de rostos contra o sol.
E essa cerca colorida de arcos
de berimbau
em movimento.
Resistir jamais será um equívoco.
(poema "Nação" do Livro "Todo o Fogo da Luta", de Paulo Colina).
Paulo Colina não assistiu a vinda da democracia, vislumbrou-a sereno à distância. Até um dia!
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