DESPERDÍCIO



Vivo desperdiçando palavras


com muita facilidade.


Não trazem 


novidade


e cansam.


Porque José  não fez isso...


Porque Maria fez aquilo...


Ah, como gostaria 


de uma descoberta, 


uma ideia, 


uma novidade...


De repente, 


uma rejeição ontológica 


instiga para profundidades 


indecifráveis 


entremeadas 


na mansa escuridão.


Delas ninguém dá conta,


desconhecem, sequer indagam...


Concluo sobre 


a tediosa ambiguidade


de cuidar de roupas,  


ou deixar-me levar 


pelo inacessível.


Sou das vestimentas 


por obrigação, 


e pelo desafio 


do livre voar, 


por vocação. 


Reconheço 


a incapacidade cotidiana, 


rotineira,


enquanto aguardo


a irupção 


do profundo infinito.


Sou das visões inusitadas, 


dos beijos do tempo, 


encontro dos desencontros.


Sou do silêncio, 


tímido e escondido, 


de poucas palavras 


substanciosas.


Marco presença 


com ausência,  


enquanto pesco, 


admirando 


o trajeto humano.


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