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Império quer hambúrgueres e facebook para o povo da Coréia do Norte

A construção do socialismo no mundo passa pelo combate constante do capitalismo, a bem da verdade, do imperialismo, sua etapa superior. Sem considerar o contexto em que vive, a construção do socialismo pode malograr e desaparecer.

O movimento de Cuba em direção a uma abertura do mercado econômico, vem, para alguns, um pouco tardiamente, uma vez que a experiência de socialismo de mercado já é uma realidade desde a queda da União Soviética. Antes, o Vietnã, o Laos, a própria China, vêm implementando a construção do socialismo, reconhecendo a necessidade de uma convivência com o capitalismo por um tempo que não é curto.

O isolamento econômico de Cuba levou a liderança da ilha a buscar em Fidel, o respaldo político ideológico que precisavam. A situação da Coréia do Norte, país de cultura e geografia muito diferentes de Cuba, não é muito diferente. Sofrendo bloqueio econômico, e por décadas suportada pela União soviética, como foi Cuba, enfrenta dificuldades econômicas decorrentes hoje, e busca de alguma forma sobreviver ao bloqueio. Conta com o apoio da China e da Rússia. Igualmente a Cuba, recorrem às suas maiores lideranças o esteio para a sua sobrevivência.

Imagino o socialismo construindo o comunismo: o poder político sendo progressivamente descentralizado a passando para as mãos da população, que por seu turno vai se organizando mais e mais. Isto, entretanto, imagino, deve fazer parte de uma fase ainda posterior, quando a influência do capital estiver, de fato, bastante reduzida.

Não é o que se passa hoje, onde o capital está bastante entremeado à construção socialista, que por sua vez, abdica de uma luta ideológica, pois não há uma separação clara dos sistemas que convivem no novo contexto.

O cerco capitalista, e a convivência do socialismo de mercado não tem permitido, portanto, a distribuição do poder para o povo, ao contrário, tem enfatizado o papel  de timoneiro de suas lideranças.

Os estudos de liderança tendem a fazer uma separação entre concentração de poder e pouca autonomia social de um lado, e e diminuição do poder do líder com maior autonomia social. Até a desaparição do Estado.

O problema se coloca quando, em meio a um bloqueio do império, a solução que se busca vai de encontro a um sistema híbrido de uma fé na figura do estado e do líder, como resposta ao bloqueio. Esta´fé deveria estar na base da pirâmide.

Por isso não me surpreendeu a quantidade de lágrimas derramadas pelo povo norte coreano. O império logo divulgou tratar-se uma propaganda organizada pelo próprio governo. Não creio. São lágrimas sinceras, de um povo que depositou todas as suas esperanças naquela liderança.

Ocorre que ela morreu. Já não existe mais nesta terra.

Acaso Lenin soubesse que para ele seria erguido um mausoléu, e seu corpo seria embalsamado,concordaria com isto? Creio que não concordaria. Mas também não é difícil entender porque isto aconteceu. Tratou-se de um contexto igualmente de bloqueio econômico e de graves disputas internas.

Choro assim compulsivo reflete alta dependência da liderança. Encarar a morte e a perda com esta contundência também denota pouca auto gestão da sua vida social. Se o poder estivesse mais distribuído, provavelmente a dor não seria tanta.

Pode haver uma idolatria de estado? Creio que sim

A idolatria não é um fenômeno exclusivamente religioso, mas atinge todas as esferas da vida,  significando uma dependência das pessoas ao dinheiro, ao sexo, ao poder, ao corpo, ao estado. A rigor, eu posso idolatrar tudo o que quiser.

Na Grécia antiga, Narciso amou a sua imagem e morreu. Era um fenômeno já conhecido desde a antiguidade.

O inverso da idolatria é o reconhecimento de nossa limitação, e a consciência de nossa dependência das outras pessoas, fato que nos leva a nos organizarmos para resolver os problemas. O socialismo será construído por uma humilde consciência de que somente a organização social será melhor. O papel do líder  será colocado como lixo da história, quando a humanidade superar esta sua pré-história capitalista.

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