Penas prescritas


Como se o tempo absolvesse
os crimes, os males,
como se um filho abortado
... retornasse ao ventre materno
e seios revigorados de leite
aguardasse ansiosos
o nascimento.

Mas não!
Ali estão eles.
Póstumos!
a inquirir
a justiça
e a paciência dos povos.

Porque não se foram
todos sabemos
não desapareceram.

Apenas vão sendo
transferidos
de uma vara a outra,
como batatas quentes
que ninguém deseja
segurar.

O roubo na previdência
a compra dos votos
o assassinato do lavrador
o desvio de verbas de obras
a indicação de parentes (perdão este não é)
a comissãozinha tradicional
a compra do juíz e dos jurados
o dinheiro nas cuecas
as licitações pré definidas
os mortos nas portas de hospitais
o governador ladrão
o político corrupto
o empresário corruptor
as famílias que abandonam os filhos
os partidos de aluguel
os que votam seus próprios aumentos
os que comprimem o salário mínimo
os políciais que roubam e matam inocentes
os padres pedófilos
e pastores adúlteros
os ladrões de alto nível
os que compram drogas
e mantém os traficantes
os que vivem de especulação
e não do trabalho
ahf....a lista é grande

Todos vão desaparecendo
pela erosão do tempo
e do esquecimento humano.

Todos vão se redimindo
tornando-se alvos
novamente.

Limite da justiça dos homens
purgatório terreno
sem arrependimento.

Roubar bem
hoje dá status
de inteligência
e de articulação.

Reforça a capacidade
de explicação
historicização
criação.

Estão sendo
absolvidos
impunes

Meus olhos
estão misturados
entre uma estupefação
e uma tristeza
sem esperança.

Só mesmo
a volta de Jesus,
concluo
fundamentalisticamente.

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