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Um mendigo chamado Custódio

Aqui no bairro onde moro, Barra funda, existem inúmeros mendigos.

Estes dias, vi um abrindo um lixo na calçada e comendo restos de comida com as mãos.

A cena chocante só não foi maior diante da indiferença de todos, na qual me incluo, que tratam este acontecimento como algo corriqueiro, não sem antes recriminar, silenciosamente, o indivíduo pela torpe condição a que chegou.

Mendigos de toda espécie transitam pela região, que é central na cidade de SP, geralmente mal vestidos.

Dormem na calçadas que não tem moradores por perto, ou em jardins públicos.

A Praça Princesa Isabel é pródiga em acolher esta população que dela faz um dormitório, depois de se refestelar de drogas na cracolândia.

Lá permanecem, mais caídos do que em repouso.

Os jardins que circundam está área cheiram a urina e fezes humanas, tornando-se banheiros públicos involuntários.

Conheci, neste turbilhão de gente disforme um que se vestia ao modo de Bob Marley, com aquela touca colorida, e um imenso óculos escuro, um violão ao lado, faltando duas cordas, e sempre escrevendo numa papeleta, como se estivesse compondo, sabe-se lá o quê.

Um dia, andando com minha esposa, o encontramos numa esquina próxima à avenida São João, naquela pose toda. Paramos e perguntamos o seu nome

"Custódio" - disse

À partir daí fizemos contato de terceiro grau, do tipo alienígena, pois as palavras que pronuncia, ou balbucia, são ininteligíveis.

A mim, chamou-me e chama, de "Altamente Mackenzie".

Procuro decifrar este significado até agora.

Penso que ele resolveu achar que sou um grande professor.

Qual nada, apenas um pequeno consultor de empresas, um mendigo da indústria, visto sob este aspecto.

Custódio não diz coisa com coisa.

Tudo o que ele faz é falar demais palavras sem sentido.

Os grandes comunicadores dirão que ele não é pior do que cada um de nós, que também passamos o dia dizendo bobagens sem significados para a vida, apenas ilustrações comunicativas.

Merleau-Ponty que o diga. 

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