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Por debaixo da política oficial a homenagem a um fiandeiro dos grandes movimentos sociais: Vital Nolasco

Quero somar-me à matéria que homenageia Vital Nolasco por 50 anos de militância no PC do B, postada abaixo desta consideração inicial. 

Quando fazia faculdade de Ciências Sociais na USP, em 1972, aproximadamente, enquanto namorava minha atual esposa, que estudava na PUC, um grupo de estudantes desta, convidou-me para ajudá-los a erguer uma casa para a viúva de operário militante, que ficará só, com seus filhos pequenos, e um terreno vazio. 

Íamos para o Campo Limpo, nos fins de semana e ajudáva-mos no trabalho de erguer muros da casa e até poço ajudei a fazer, cavando um profundo buraco que afundava cada vez mais. 

Foi nesta experiência onde construía também em mim uma moral socialista, que conheci Vital Nolasco e Ester, sua esposa. 

Por sua sugestão montamos em seguida um grupo de compras, onde moradores daquela rua reuniam-se para comprar juntos em atacadistas, e em grande quantidade, os alimentos necessários e os produtos para casa de cada um. Com isso víamos como tudo que era caro podia ser comprado mais barato.

Estava começando o Movimento do Custo de Vida, logo renomeado para Movimento contra a Carestia. Aquela experiência lançou-me além da política estudantil, e abriu-me a visão de que era no movimento popular a grande saída para a situação de opressão por que passava o povo brasileiro.

E Vital fez parte deste início, eu vindo dos dominicanos, com uma forte formação libertária e religiosa, onde o padre Giorgio Callegari era meu grande orientador espiritual de vida.

A amizade que fiz com Vital e Ester foi grande e atravessou todo o período de militância. Mesmo distantes, nas raras ocasiões em que nos víamos, era como se nunca estivéssemos nos distanciados. Continuávamos com  as mesmas alegrias e disposição.

Vital tem uma alegria  permanente, e uma visão política acurada. Sabe enxergar aonde um movimento irá desembocar.

Participamos em outras situações importantes, às vezes como atores, outras vezes como coadjuvantes; não importa. Importa a grandeza do alcance do trabalho diuturno por ampliar os direitos do povo.

Não mais milito. Há anos aderi ao caminho dos doentes e sofridos através da Igreja, mas reconheço este personagem ímpar, corresponsável pela democracia brasileira alcançada. 

Hoje não se dá a devida importância à nossa democracia. Há até um escracho a respeito dela e saudosos dos velhos tempos já saem às ruas desejosos das trevas.

Vital Nolasco! 

Grande lutador do povo brasileiro! 

Seu valor ultrapassa a fronteira partidária, e protege-se sob o manto sagrado da bandeira brasileira!

É uma honra tê-lo conhecido e compartilhado em um momento juntos a expeirência da liberdade!

Até a vitória!










3 de junho de 2014 - 10h48 

PCdoB presta homenagem aos 50 anos de militância de Vital Nolasco


O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) realizou na última sexta-feira (30) uma cerimônia de homenagem ao camarada Eustáquio Vital Nolasco pelos seus 50 anos de vida dedicada à militância partidária. Participaram do evento, no auditório da sede nacional do Comitê Central, na capital paulista, familiares, amigos e camaradas de luta que renderam homenagem à trajetória do militante.


Vital Nolasco.Vital Nolasco.
A abertura da cerimônia teve início com a exibição de um vídeo (abaixo) sobre a história de vida do militante comunista, decorrente de depoimentos de lideranças como o primeiro deputado federal eleito pelo PCdoB na vigência do regime militar em 1978, Aurélio Peres; a ex-deputada estadual pelo PCdoB-SP e atual presidente da União Brasileira de Mulheres no estado, Ana Martins; Wagner Gomes, secretário-geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e em seguida o pronunciamento do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, e do homenageado.

A solenidade, que ocorreu concomitante ao Encontro Nacional de Finanças do PCdoB, foi conduzida pelo atual secretário nacional de Finanças, Fábio Tokarski. O homenageado, Vital Nolasco, recebeu de presente um quadro com a foto do prédio da sede nacional do Partido, adquido em sua gestão como secretário nacional de Finanças.



Além dos depoentes, compuseram a mesa da solenidade o presidente do PCdoB paulistano, Jamil Murad; Liège Rocha, secretária nacional da Mulher do PCdoB; Padre Luiz, militante em favor dos perseguidos políticos na ditadura, e João Carlos Gonçalves, o “Juruna”, secretário-geral da Força Sindical.

Ana Martins (foto abaixo) foi a primeira a fazer o uso da palavra. “Conheci Vital quando veio de Belo Horizonte depois da greve de Contagem, em 1978”, relembrou. Ana Martins contou sobre outros episódios de sua militância em conjunto com Vital. “Operário combativo e comunista sério, com forte vínculo com a classe operária. Pode ser exemplo para muitos militantes novos, por sua persistência, dedicação e compromisso”, resumiu.



O ex-deputado federal Aurélio Peres também prestou sua homenagem: “Vital vinha de Minas Gerais fugido da polícia, e uma pessoa dessas a gente não pensa duas vezes. Fomos falar com o Padre Fernando: ‘Padre, neste aqui a gente pode acreditar. Ele não tem medo de bicho feio’. Começava ali uma parceria de 44 anos. Nunca nos separamos: na oposição sindical, nas lutas do partido, nas lutas políticas. É uma vida de dedicação à causa dos trabalhadores, e nos últimos anos eu sei da luta que ele travou cuidando das finanças do partido. Uma homenagem ao Vital é uma homenagem merecida”, concluiu Peres.


O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo (foto abaixo), destacou a trajetória de Vital desde o período das greves de Contagem, “primeira greve operária de expressão de nosso país, no período da ditadura”. Segundo Rabelo, por sua atuação destacada nas lutas operárias Vital logo foi eleito para a direção nacional da JOC. “Assim era o Vital. O caminho dos militantes mais destacados das juventudes católicas era o ingresso na Ação Popular. Por sua militância de compromisso crescente, no contexto de uma ditadura cada vez mais feroz, Vital passou a sofrer como muitos outros uma vida de perseguição e clandestinidade. A solidariedade e a generosidade era o grande preceito nessa época. Como morar, viver e atuar sem essa solidariedade expressiva? Era o risco da prisão, da tortura e da morte!”, explicou o presidente do PCdoB.

“Por isso essa é uma justa iniciativa que nós, da direção nacional, participamos e apoiamos”, completou Rabelo. “Vital foi militante com ação nesses momentos que exigiam grande abnegação. Ele e sua esposa, Esther, sempre foram marcas de elevada generosidade.” Ao recordar o período mais recente, Rabelo destacou a grande contribuição de Vital à frente da Secretaria de Finanças do Partido. “Vital elevou seu papel de dirigente político na condução desse decisivo trabalho para o partido: a conquista dos meios e dos recursos financeiros para a edificação e o fortalecimento do PCdoB. Na conquista da sede própria teve grande desempenho. Temos afirmado que, definida a política, a questão central passa a ser a dos meios e dos recursos para cumpri-los. Daí a importância central da política de finanças, que Vital soube como ninguém conduzir. Vital, sei que você continuará sua militância. Estará em outra frente, entusiasmado e cheio de paixão. Você está entre os quadros imprescindíveis. Saudações comunistas!”, finalizou Renato.

Ao final do ato, o público presente pôde ouvir as palavras do próprio homenageado, Vital Nolasco. Ele iniciou sua fala lembrando “todos aqueles que não estão mais entre nós, mas fizeram parte dessa luta. Evoco essas pessoas na figura de dois expoentes: João amazonas, ideólogo e construtor do PCdoB, e Santo Dias da Silva, operário metalúrgico assassinado pela ditadura”.

O veterano dirigente partidário reverenciou também a figura dos padres José Miranda, “que me engajou na Juventude Operária Católica”, e Michel, que, “junto aos padres dominicanos e carmelitas, forneceram importante apoio à nossa luta, quer no movimento operário, quer na solidariedade em meio aos embates contra a ditadura”. Vital citou ainda lideranças nacionais da JOC, como Luizinho e Euripes, e demais companheiros e amigos. Fez menção especial “ao grande camarada Rogério Lustosa”.

Ao lembrar suas origens, Vital destacou: “Minha trajetória é a de um filho da classe operária, vindo de uma família de onze irmãos que, como a maioria de nosso povo, enfrentou dificuldades para sobreviver. Meu pai dizia que não tinha herança para deixar aos filhos: tudo o que podia fazer era nos incentivar a estudar. De fato, aprendi muito seja nos bancos escolares, seja na escola da vida”.

Vital lembrou cronologicamente diversos fatos marcantes de sua trajetória militante, como as grandes greves operárias de Contagem em 1968 – “e suas grandes lideranças, como Enio Seabra, Mário Bento, Mário de Castro e tantos outros” –, a experiência com os operários do ABC, no mesmo período em que Lula entrou na diretoria do sindicato, as madrugadas preparando pichações e panfletagens, as torturas sofridas nas dependências do DOI-Codi, a Chacina da Lapa, a participação no Movimento contra a Carestia, a contribuição inestimável às eleições de Irma Passoni e Aurélio Peres, as grandes greves operárias de 1979, o assassinato do operário Santo Dias, a luta pela anistia, as duas eleições para vereador em São Paulo, ambas “baseadas no apoio dos operários, tendo como base principal os trabalhadores da Metal Leve”.

Referindo-se ao período mais recente, Vital comentou a vinda para o secretariado nacional do PCdoB, primeiro como secretário de Movimentos Sociais, depois como secretário de Finanças. Nesse período, destacou a grande batalha, “que envolveu todo o coletivo partidário”, voltada à aquisição de recursos para a compra da sede própria. “Para um revolucionário a luta não termina nunca, nem depois de morto. Tenho a convicção de que nosso povo, que foi capaz de derrotar a ditadura e impor importantes derrotas ao neoliberalismo, será capaz de construir uma nova sociedade. De nossa parte continuaremos a construir esse importante instrumento das lutas dos trabalhadores: o Partido Comunista do Brasil”, finalizou Vital.

Segundo Fábio Tokarski, atual secretário nacional de Finanças do PCdoB e idealizador do evento, Vital é um operário que teve uma trajetória sofrida e digna no enfrentamento do regime militar. “Tortura é algo deplorável, mas assistir a uma irmã ser torturada apenas porque morava na mesma casa é algo que expressa a trajetória de alguém que sofreu com a tortura e teve os familiares torturados. O PCdoB, pela história, pela densidade das relações sociais construídas pelo Vital – o que, aliás, ficou expresso no ato –, teve muito brilho ao trazer para os dias atuais a trajetória de um construtor do Partido. Foi um evento cheio de significados. Os indivíduos também jogam papel na construção das lutas coletivas, e isso deve ser destacado, ainda mais no caso de um militante como Vital”, afirmou.

Trajetória de Vital Nolasco
Eustáquio Vital Nolasco nasceu na cidade de Belo Horizonte em 16 de dezembro de 1946, segundo dos onze filhos (um deles adotivo) do padeiro Orlando e da lavadeira Diva. Já aos dez anos começava a trabalhar. Caminhava dez quilômetros para levar leite até a vila onde morava. Aos doze anos vendia legumes e verduras durante o dia e estudava à noite. Durante a juventude, participou do movimento secundarista em Belo Horizonte. Em 1964, ano do golpe militar, entrou decididamente para a militância política através da Juventude Operária Católica. Após o endurecimento do regime, em 1968, foi eleito para a Direção Nacional da JOC. Nessa mesma época entra para o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem. Apesar da dura repressão, esta seria uma época de acirramento das lutas operárias. Muitas greves agitam a capital mineira e Vital Nolasco participa de todas elas.

Pouco após, Vital adere à Ação Popular e muda-se para São Paulo por causa da perseguição dos militares. Em 1971 casa-se com sua companheira Esther, também uma abnegada militante comunista. No mesmo ano entra para a direção da AP. Mais tarde, em 12 de março de 1974, já como militante do PCdoB, é preso e levado para o DOI-Codi. Durante 20 dias seria barbaramente torturado, sem nada revelar aos algozes do povo. Após ser inocentado, procurou a direção do PCdoB, mas em 16 de dezembro de 1976 ocorreria a Queda da Lapa, que impediria esse contato até 1978. Mesmo assim, Vital mantém a sua militância no movimento sindical.

Nos princípios da década de 1980 participa ativamente, com sua companheira Esther, da campanha de filiação para legalizar o PCdoB. Na mesma época preside o Centro de Cultura Operária, entidade criada para dar voz ao pensamento do partido que continuava na ilegalidade.

De 1983 a 1987 Vital foi segundo secretário da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Em 1988 foi eleito vereador na chapa encabeçada por Luiza Erundina, e em 1992 seria reeleito. No 8º Congresso do PCdoB, em 1992, é eleito membro do Comitê Central, cumprindo diversas funções. Em 2001 participa da comissão de busca dos desaparecidos do Araguaia. No mesmo ano é indicado secretário nacional de Finanças do PCdoB. Durante sua gestão à frente da Secretaria, o Partido adquire sua primeira sede própria.

Em 2013, Vital é eleito para mais um mandato no Comitê Central do PCdoB.

Da Redação,
Com informações da Fundação Maurício Grabois
Fotos: Clécio de Almeida

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