TRAMA E TRAUMA

 


Hoje não trago nada...


Os caminhos, 

repletos de armadilhas 

ainda perduram,

circunscrevem a língua, 

modulam olhares, 

definem o percurso 


Precisei olhar ao lado

perceber mais, 

ser diferente, 

sem a trama, 

sem o trauma


A ditadura perdurou

muito após 

estar encerrada.


Ficou a difícil mudez 

das torturas 

o olhar em volta, 

rodear antes de chegar,

estar sendo vigiado,

desconfiado, 

encontros sem destinos, 

clandestinos


Ficou uma coragem 

mesclada com a morte 

consciência distante 

de esperança..


Ficou o sabor 

dos desertos

na boca seca

a areia comprimindo 

os passos, 

sonhando miragens 

de liberdade, 

fugidias.


Ficaram aplausos 

no estalar dos dedos, 

silenciosos, 

a desconfiança sentada 

na mesa ao lado.


Ficou longe, 

em casa,

cabelo cortado 

disfarce de terno, 

o longo tempo de espera, 

enquanto envelhecia.


A liberdade na barba 

as palavras medidas, 

cadenciadas, 

no velho caminho, 

que vai e volta.

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