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Governo Dilma se ilude na erradicação da miséria.

Não se trata de um problema quantitativo, como o IPEA tem apresentado, e o governo embarcou nesta concepção economicista, mas eminentemente qualitativo, de cunho sociológico.

Dentro da perspectiva que Dilma apresenta, para a erradicação da miséria, ela não só não será erradicada, como aumentará, ao final de sua gestão de 4 anos.

E não é necessário ser nenhum gênio da lâmpada, ou ter uma bola de cristal.

Basta uma simples análise sociológica para se ver que grandes são as barreiras a serem vencidas para se atingir este objetivo.

É preciso, antes de mais nada, fazer uma clara distinção entre pobreza e miséria, no sentido clássico, que ocorrem devido às diversas crises econômicas, e se abate sobre famílias estruturadas, que perdem seus bens e se vêem, de uma hora para a outra no meio da rua, e a pobreza e a miséria crônicas, estáveis, que vivem e se satisfazem do submundo, de seus restos-ingestos.

O primeiro caso, é auto superável, bastando o próprio crescimento do país ocorrer, e aí pode-se aceitar os estudos do IPEA como satisfatórios, sendo que o Bolsa Família, neste caso, tem até mesmo influência pequena e complementar.

Mas no segundo caso, estes mesmos estudos não servem para nada.

É uma população que se acostumou com a miséria, uma sociedade paralela, com estratos de miserabilidade, complexidade de graus de pobreza, com variabilidade de hábitos, relações sociais particulares, espiritualidade multifusa, espaços definidos, etc, etc, etc...

Sua especificidade deve-se ao ambiente em que se encontra (portanto infinita), e sua idade define formas de relações. Há grupos de crianças, jovens, gays, mulheres, idosos, cada um com sua forma particular de sobreviver.

Eles não visualizam soluções fáceis para seus problemas, que são crônicos, sendo portanto a ação do Estado, e até das associações religiosas muito difíceis de obter resultados a curto prazo.

Neste caso, os 4 anos do governo Dilma serão insuficientes, porque estas ações de erradicação deverão contemplar uma realidade muito complexa, senão quase  impossível.

É o que o Marx chamava de Lumpen, uma sub camada social sem perspectivas, muito diferente do que ele definia por Exército Industria de Reserva, que tinha e tem um papel social claro na economia de mercado.

O termo lumpen, hoje, pode ter até uma certa conotação pejorativa, uma vez que os estudos desta população avançou significativamente neste século e meio.

Atualmente, e já há uns bons 50 anos há uma sociologia da marginalidade, que no Brasil desenvolveu muitos estudos de caso, para buscar generalizações que explicassem mais e mais este fenômeno.

Neste aspecto, as Assistente Sociais e os pedagogos podem ter uma leitura melhor do que a dos economistas, e quem sabe dos próprios sociólogos.

Estes dias a mídia norte-americana se deliciou com um morador de rua, descoberto por acaso num farol das muitas esquinas da vida nos EUA.

O cidadão era locutor no passado, e fazia deste passado frustrado, um meio de vida para angariar alguma esmola. Por razões que não foram totalmente divulgadas(sabe-se que perdeu o emprego), deixou sua casa, e uma vez na rua tornou-se um viciado (também não se sabe de quê).

Se o jornalista que o descobriu, de dentro de um carro o tivesse conhecido dois anos antes, ele provavelmente não seria resgatado desta condição, pois ainda vivia do vício, isto é, fazia de tudo para obter a droga, e não estava preparado para retomar sua vida social institucionalizada.

E este foi um exempo utilizado pela mídia, para esconder a sua incapacidade como  sociedade norte americana, em resolver este problema. Casos como este, são utilizados para justificar que todos podem superar suas dificuldades, o que é uma meia verdade.

Como se pode ver neste simples exemplo, a sociedade norte-americana convive com esta população marginal, certamente a contragosto, porque para os ricos e a classe média amercana (e também brasileira), o morador de rua é um destruidor de seu mundo ordeiro, idealizado.

Para esta população Dilma deve programar políticas de profissionalização bem específicas que não desalojem o morador de rua de seu ambiente em primerio lugar, mas o vá capacitando, pouco a pouco, em direção à sua emancipação.

Estou cansado de dizer que isto começa com a implantação das chamadas Casas do Povo, onde os moradores de rua possam se banhar, e descançar um pouco, ocasião em que podem, através de orientação social, irem redescobrindo suas habilidades inatas, que irão sendo desenvolvidas, em direção a uma ocupação e depois a uma profissão.

É preciso que se disponibilizem profissões possíveis e particulares, como por exemplo, a do afiador de facas, do jardineiro de Praças Públicas, a do vendedor de frutas ambulante, e outras milhares, cantores, músicos, pintores, poetas, tanto em formato individual como cooperativo.

Os moradores de rua estão, em geral, longe de uma empresa há muito tempo, sendo uma profissão autônoma o caminho melhor.
Devem ser incentivados festivais e exposições populares para este segmento social.

Como se vê o caminho é longo.

Para se atender o IPEA, basta trabalhar o crescimento econômico, que novos contingentes de pobres sairão desta condição e tornar-se-ão "classe média C"(vai entender isso?).

 Dar perspectiva para o povo da rua, entretanto, o caminho é outro e mais longo, de longa duração e de perseverança no trabalho.

Fico por aqui.

Comentários

Anônimo disse…
por o governo nao baixa uma lei que ponha fim nesta frase que e um dos maiores contribuintes do desemprego no brasil exige-se experiencia em carteira no maximo de 3 a 5 anos comprovada em carteira, e obrigar a empresa a dar a oportunidade para quem nao tem experiencia , pois empreguinhos existem milhoes no brasil
com certeza os empresarios tem maior parte de culpa no problema da miseria brasileira
Anônimo disse…
inclusive os jovens sao os mais afetados por essa imposiçao das empresas quando vao em busca de emprego, nessa porcaria de pais so viramos gente quando chega a idade de aposentadoria por idade por tempo de serviço so funcionario publico

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