Os corpos das inundações e a apresentação de Ronaldinho

Como o ser humano é estranho...

No mesmo Estado onde mais de 470 pessoas morreram(cada hora aumenta mais) em um só dia de chuva nas três cidades da região serrana do Rio de Janeiro, a torcida do flamengo exultou de alegria pela contratação do Ronaldinho, uma vez que o Ronaldão debandou para o Corinthians.

Luto e alegria. Dor e gozo.

Os corpos cobertos e colocados em plena rua, ou o que sobrou de rua, um lamaçal.

Enquanto isto a torcida do flamengo lá, feliz...

A tromba d'água atingiu a todos, pobres e ricos. Poucas vezes ocorre esta união. Esta foi uma delas.

Me fez lembrar da afirmação do Papa Bento XVI quando visitou o campo de concentração de  Auschwitz em 2006: "Senhor porque silenciaste? Porque toleraste tudo isto?"

São imensos os mistérios da vida, e do ser humano.

Não consigo ver a abrangência deste mistério e recolho-me, estupefato diante das desgraças que se abatem sobre o querido povo do Rio de Janeiro.

Choro ao ver o choro de pais que perderam esposas e filhos, de filhos que perderam pais, de esposas que perderam ambos.

Aprendi a chorar muito facilmente.

Chorei com Dilma quando ela se engasgou em seu discurso no Congresso, Trêmula ao falar que agora ela era "Presidenta de todos os brasileiros".

Meu filho questionou:

- Pai, o Senhor está chorando por causa da presidenta?

Os jovens ainda não sofreram o suficiente para aprender a chorar.

Chorei ao ver as pessoas que choravam por perderem seus bens nas inundações de São Paulo.

Choro a todo instante, que fico sem graça.

Há uma força desconhecida, vinda com o tempo, que anda amolecendo meu coração, e continua me fazendo cada vez mais sensível com tudo que acontece e com todos, parentes ou não, amigos ou não.

Observo o ódio à distância, já não me abate nem se aloja em meu coração. Às vezes, uma pequena recaída, logo rejeitada.

Tenho mais consciência quando escuto as pessoas falando, e falo menos, aproveitando as palavras.

A comunicação tem uma obviedade de concordância, que cansa.

Guardo mais silêncio, e comedidamente me ponho a serviço da inteligência, em se chegar a resultados.

Tenho uma consideração da importância de estar aqui, e de não desperdiçar a presença em ações inúteis.

Acabo, por conta disto , me tornando um pouco isolado.

Não faz mal.

Comentários

Dom Orvandil disse…
Parabéns, meu amigo, por tua crônica. Tive a impressão de que ao falares de ti falavas ao mesmo tempo de mim. Sou igualzinho a ti. Tentarei encaminhar teu blog para o meu. Abraços www.padreorvandil.blogspot.com

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