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Como se formou a base eleitoral dos tucanos?



Para nós que vimos o surgimento do PSDB como partido que se pretendia à esquerda do PMDB, e iniciava sua organização com inserção num sindicalismo de cunho social democrata, até estas eleições, onde o partido caracterizou-se como o melhor representante das forças empresariais sulistas e do agronegócio, sem nenhuma representação formal no sindicalismo brasileiro, é de se perguntar, de onde vieram tantos votos?

No dia 1 de maio de 2010 já com as eleições em andamento Serra absolutamente evitou ir a qualquer uma das festas programadas pelas diversas centrais sindicais, que ocorriam em todo o território nacional. Neste dia, Serra visitava um culto evangélico em Santa Catarina, repleto de fiéis. Não preciso dizer que Serra foi bem votado em Santa Catarina.

Grosso modo, podemos dizer que ele trocou o trabalhador pelo fiel. Lógico, a sua ausência no dia do Trabalhador foi tão evidenciada, que ele foi obrigado a maquiar um evento dele com trabalhadores, com toda a proteção da Mídia, onde só aparecia ele, o Geraldo, e desconhecidos num palanque, mas sem foto de multidão. Foi muito engraçado o arranjo, mas mostra que o caminho para formar a base de apoio popular para sua campanha passou por fora deste setor.

Podemos perguntar o que influi mais em um trabalhador praticante de alguma religião, o sindicato ou a Igreja?

São linguagens bem diferentes: uma aborda a luta, a conquista por melhores salários e direitos; e outra, a paz, a harmonia, o amor fraterno.

Se formos radicalizar a questão, podemos lembrar-nos da existência de um sindicalismo de base atéia, ou de tradição atéia, avesso a uma vida religiosa, a linguagens religiosas, convivendo com um fundamentalismo que se propagou rapidamente no Brasil desde a segunda metade do século 20.

Esta a principal contradição que se encontra hoje nos trabalhadores sindicalizados. Muitas vezes vemos um trabalhador defendendo ardorosamente o sindicato em suas lutas, mas ao mesmo tempo professando uma fé umbilical e fundamentalista, sem nenhuma referência social e política.

Mantém dois diálogos antagônicos com naturalidade. Ao realizar um trabalho em uma empresa automotiva famosa na grande São Paulo, há uns 2 anos, deparei-me com cultos religiosos diários,e uma forte ação de proselitismo religioso no interior da mesma, competindo paralelamente com o sindicato, os corações e mentes dos trabalhadores.

Poderiam estar falando a mesma coisa, mas o fundamentalismo brasileiro estabelece linguagens bem diferentes, até contrárias, em certas circunstâncias.

Assim, a escolha que Serra acenou desde o início de sua campanha buscou atingir o eleitor “por fora”.

Este cenário levou a um desgaste de Dilma no primeiro turno, e a transferência de votos, que a alto custo estancou a perda, recuperando apenas parte destes eleitores.

2) O crescimento das classes médias no país, fruto do crescimento econômico das duas gestões Lula, paradoxalmente provocou uma aversão pelo estilo de vida voltado para o pobre, às políticas de bolsas para os mais pobres.

Vamos esclarecer: Dilma foi clara em desejar tornar o Brasil um país de classe média, mas foi exatamente nestes extratos que houveram resistências a um governo de cunho popular

-É preciso ensinar a pescar, e não dar o peixe – diziam.

Quando veio a campanha, parou-se com este estilo, par não dar na vista a posição contrária à Bolsa Família, mas já estava responsabilizado o governo pela “manutenção de um reduto eleitoral cativo e submisso”.

A passeata de final de campanha de Serra no segundo turno teve ares alegóricos, com madames e senhores no centro da cidade, além do uso de funcionários públicos convocados e trazidos em ônibus.

O mesmo se viu no Rio, com caravanas vindas de vários estados para “invadir a orla de Copacabana”. Não houve massa organizada, mas elite desesperada.

O pensamento dominante na classe média, não foi o de discussão de plataformas de governo, mas o de “se livrar da corrupção” em que o governo “estaria mergulhado”, e portanto “se livrar do governo”..

Daí a campanha ter enfatizado a todo instante que o candidato era “do bem”.

Tinha um nítido interesse em manter acesa a idéia moralizadora contra a corrupção.

3) O empresariado (principalmente o do sul, mas também no restante do país, excetuando talvez alguns estados do NE) que era flertado e aderia ao governo nestes 8 anos, deu uma guinada para a oposição, como oportunidade de exclusão do governo popular.

Quando se deu a partida para as eleições é que se viu com surpresa este descolamento do empresariado da cidade e do campo. Este setor deu o tom para a campanha, denegrindo, agindo via mídia, usando de todos os meios para impedir a continuidade do governo atual.

4) Diversas ONGs, instituições “independentes”(na verdade formadas com o objetivo explícito de ser base de apoio) e religiosas de ação social tiveram um papel imenso para a sustentação da oposição, envolvidas que estavam em políticas assistenciais dos governos estaduais e municipais.

Estas ONGs acabaram se tornando poderes paralelos ao longo destes 50 anos, concorrendo com o Governo, com o Congresso, e principalmente com os partidos políticos, que foram sendo cada vez mais transformados em poderes “podres e superados”.

A oposição não conseguiu mobilizar a massa, mas influiu na formação da opinião pública. Lembra muito a antiga “maioria silenciosa”, que não age, mas vota,

Ela se envergonhou por ser contra.

Nunca explicitou seu apoio ou encheu o carro de adesivos, mas incriminava o governo a todo instante.

Foi uma luta muito grande reverter esta tendência que, por sinal, está bem viva, esperando nova oportunidade.

Não tenho dúvida que novas crises serão fabricadas com esta intenção demonizadora.

Cabe ao Governo de Dilma ser uma gestão de grande iniciativa, nos vários campos exaustivamente divulgados em campanha.

Não mais irão amaciar. Preparem-se

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