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E se as eleições fossem hoje?



Se, interferencial destruidora. Aquilo que poderia ter sido, mas não foi”.


Ouvia esta frase com muita atenção, nos meus 20 e alguns anos de idade de um vizinho e amigo, que acabou se tornando meu padrinho de casamento – o General Zerbini.

General Zerbini era um autêntico intelectual da velha geração de Generais do Exército brasileiro. Um legalista, na época, dirigia o quartel de Quitaúna em 64.

Quando estourou o golpe, ele saiu com suas tropas em direção ao Rio de Janeiro para defender o governo constituído, mas já em Resende, ele era um General sem tropas. Haviam debandado todos, deixando-o sozinho.

Esteve preso alguns anos.

Conhecemos sua esposa, a aguerrida Terezinha Zerbini, o “Dragão”, como a chamava o velho General em suas brincadeiras.

Minha esposa, Meg, ajudou-a a fundar o Movimento Feminino pela Anistia pelos idos de 1969, em diante (após a agitação estudantil de 68).

Éramos constantemente vigiados, sempre estavam à nossa espreita, mas Terezinha era corajosa e saía pelo Brasil todo, com Meg à tira colo, levantando a bandeira da anistia.

Depois, o movimento foi pegando no meio do povo, até haver, bem mais tarde, a conquista da Anistia, Ampla, Geral e Irrestrita (que ainda hoje tem suas lacunas - mas a reivindicação da época era muito clara).

Voltando à seqüência do pensamento, o General Zerbini, na verdade tornara-se um pai para mim, pois o meu pai falecera quando eu era ainda muito pequeno. Assim, eu ia a todo o fim de semana, para a casa dele para beber de seu conhecimento e de sua coragem.

-“SE”, João Paulo, só se usa para as coisas que não acontecem. Por isso não adianta discutir em cima desta conjunção condicional, porque não trata da realidade, mas de algo hipotético.

Grande a lembrança que tenho deste meu velho ídolo, colaborador da formação de minha visão de mundo.

Hoje, vou pedir licença à sua memória e distrair-me refletindo, caso as eleições tivessem que ser adiadas por qualquer razão.

Primeiramente, a criminalização de Dilma, como “assassina de criancinhas”, e de “defensora do casamento gay”, tão evocados há um mês aos quatro cantos, agora passariam tranqüilas sem sequer serem citadas em campanha.

Teria sido um assunto plantado artificialmente?

O erro na montagem das provas do ENEM, com a atual suspensão da divulgação do gabarito, colocando em tensão milhares de estudantes no Brasil inteiro, seria um verdadeiro desastre, pondo a perder milhares de votos entre a juventude. O Ministro da Educação seria afastado temporariamente, para auditoria no Ministério.

O Câmbio flutuante estaria sendo execrado por todos, sendo difícil o governo sustentar esta política, com exigências de diversos segmentos de produção em exigir proteção, com barreiras e taxas na importação de produtos, tornando a política cambial do país uma cocha de retalhos.

Outros, mais ousados estariam colocando a perspectiva de também desvalorizar nossa moeda, como forma de sobrevivência.

Até as propagandas de que o mercado de trabalho crescera, seriam igualmente criticadas, em vista das perdas atuais da indústria brasileira, na competição desigual diante da desvalorização das moedas dos EUA e China, e consequente redução dos postos de trabalho.

O agro-negócio não mudaria seu voto a Serra e nem o MST arredaria de sua posição aguerrida pela reforma agrária. Tenho uma amigo que me disse que o que ele mais odeia em seu inimigo é o fato de terem aspectos semelhantes, seram parecidos. Não é assim entre judeus e árabes? O ódio os torna iguais, e sustentam séculos de desentendimento. Mas não quero mexer neste vespeiro.

Alckmin iria para segundo turno, em disputa difícil e Dilma estaria também em situação difícil.

Mas nada disto aconteceu, como dizia o velho general.

Agora os escândalos voltam a ser triviais, as agressões tornam-se diálogos, e o trem da democracia brasileira retorna aos trilhos.

Tenho uma sensação mista de alívio e preocupação.

Alívio por termos os resultados garantidos. A nossa Presidenta está eleita, náufraga resgatada de confrontos bestiais.

Vivemos novamente uma paz. Dá-nos a impressão de que tudo foi fabricado, radicalizado artificialmente para provocar mudança na visão da população.

Preocupação, porque deveríamos, nós mesmos ser exigentes com nossas próprias mazelas, como se fôssemos os nossos oponentes.

Desta forma, estaríamos nos resguardados para o futuro, porque eles guardam tudo na memória, e despejam depois, como se fosse algo do momento.

Ah se o Brasil estivesse...

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