Pular para o conteúdo principal

As relações entre o movimento sindical com os partidos e o governo

Esta é uma boa questão, porque sabemos que entre estas três instituições sociais, o desenvolvimento do papel da cada uma se evidencia mais em um momento, ou se distancia mais ou menos em outro momento.

Há situações de convergência e situações de divergência.

O desenvolvimento do processo histórico vai desnudando quem é quem, isto é, o que cada um de fato defende, por detrás das palavras, em sua ambiguidade política.

Karl Marx em seus manuscritos econômico-filosóficos dizia, que as "pessoas e as instituições não são aquilo que dizem que são, mas o que são".

Referia-se à grande distância existente entre o dizer e o agir.

Colocava a discussão no terreno da ideologia, e da propaganda.

Cada qual faz sua propaganda, com o intuito de arrastar os demais para si, e depois faz a sua política particular, quando já é tarde para os demais fazerem correções.

É o que obervamos com as relações do movimento sindical e o Governo Dilma, entremeado pela ação dos partidos políticos.

Com o governo Lula inaugurou-se uma nova fase da República brasileira, com a introdução do caráter de participação popular.

Alguns poderão objetar, e lembrar que participação popular houve desde Getúlio Vargas, e é verdade.

Creio que esta participação popular pertence ao mesmo DNA da Segunda República, com o diferencial que na Segunda República não houve participação no governo dos chamados partidos de esquerda, o que levou parte do movimento sindical para a oposição ao governo.

Já ouvi histórias que dizem ter sido Luiz Carlos Prestes convidado por Getúlio Vargas para fazer parte do movimento da Revolução de 1930, tendo Prestes recusado, por esta não ser uma revolução socialista propriamente dita.

A situação atual, desde quando Lula esteve no governo, emergindo de duas décadas de ditadura, onde cresceu o movimento social, mudou qualitativamente esta relação, e houve uma forte inserção de partidos de esquerda no governo, dividindo as fatias de poder com as elites, e disputando políticas populares.

Alguns setores de esquerda se afastaram, por convite das elites nas chamada campanhas do mensalão, e permanecem nesta posição até hoje, sem exercer maior influência na vida política nacional.

O desenvolvimento do processo histórico, com o recrudescimento da crise mundial está jogando governo, partidos e sindicatos para posições diferentes.

Agora está surgindo uma nova onda de movimentos sociais, com greves estalando aqui e ali.

Não é atoa que a CUT vem sangrando desde que o PT chegou à Presidência do país.

Porque a agenda de governo vai convergindo interesses e buscando tempo para realizar suas políticas, desgastando a sua Central Sindical, já não mais Única, em concessões contínuas.

O reajuste do salário mínimo colocou sindicatos e governo em posições opostas, e o que é pior, sindicatos e partidos políticos em posições discrepantes.

Dilma exigiu fidelidade dos partidos, uma vez feitas as composições na formação do governo, e com isso colocou as Centrais Sindicais que a apoiaram, para fora.

Agora com o retorno da inflação, os sindicatos voltam à carga, e o Governo mantém a mesma postura, de ignorar o movimento sindical.

Só que, agora, os sindicatos não estão sós; têm as categorias com outras categorias, juntas defendendo-se mutuamente.

Não se trata de um movimento isolado, mas tudo leva a crer que há o surgimento de uma onda de greves à caminho.

Os carteiros receberam o chamado "fogo amigo", isto é, a total desconsideração da parte do governo.

Os Bancários, vinculados aos bancos particulares e públicos, estão em plena campanha e passam pelo mesmo ostracismo.

Juntaram-se aos carteiros em alguns estados.

Os metalúrgicos estão despertando no Rio de Janeiro.

A conjuntura econômica do país e do mundo está qualitativamente outra.

As notícias mostram que uma mudança da crise imobiliária de 2008, agora para uma crise de  governos, e por fim a crise começa a ser transferida para a população, como já observamos na Grécia, na Itália, em Portugal.

Um governo progressista como o de Dilma não poderá virar as costas àqueles que a apoiaram, sob o risco de se isolar, e render-se aos grandes interesses.

Aos sindicatos não resta outra saída senão lutar, para não perder direitos conquistados.

Os partidos continuarão pressionados por ambos os lados, e terão que decidir exigir um melhor posicionamento do governo, defendendo os sindicatos, ou submeter-se ao Governo e ignorar a luta social.

Creio que deve haver clara opção do governo pelo apoio popular ao governo, e iniciar um novo patamar de governo com participação popular.

O mometo exige análise e convencimento de setores para um correto posicionamento nas lutas sociais, que passam para o apoio aos setores mais atingidos pela crise.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Soneto de Dom Pedro Casaldáliga

Será uma paz armada, amigos, Será uma vida inteira este combate; Porque a cratera da ... carne só se cala Quando a morte fizer calar seus braseiros. Sem fogo no lar e com o sonho mudo, Sem filhos nos joelhos a quem beijar, Sentireis o gelo a cercar-vos E, muitas vezes, sereis beijados pela solidão. Não deveis ter um coração sem núpcias Deveis amar tudo, todos, todas Como discípulos D'Aquele que amou primeiro. Perdida para o Reino e conquistada, Será uma paz tão livre quanto armada, Será o Amor amado a corpo inteiro. Dom Pedro Casaldáliga

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO

 Acabo de vir do Largo de Pinheiro. Ali, na Igreja de Nossa Senhora de M Montserrat, atravessa  a Cardeal Arcoverde que vai até a Rebouças,  na altura do Shopping Eldorado.   Bem, logo na esquina da igreja com a Cardeal,  hoje, 15/03/2024, um caminhão atropelou e matou um entregador de pão, de bike, que trabalhava numa padaria da região.  Ó corpo ficou estendido no chão,  coberto com uma manta de alumínio.   Um frentista do posto com quem conversei alegou que estes entregadores são muito abusados e que atravessam na frente dos carros,  arriscando-se diariamente. Perguntei-lhe, porque correm tanto? Logo alguém respondeu que eles tem um horário apertado para cumprir. Imagino como deve estar a cabeça do caminhoneiro, independente dele estar certo ou errado. Ele certamente deve estar sentindo -se angustiado.  E a vítima fatal, um jovem de uns 25 anos, trabalhador, dedicado,  talvez casado e com filhos. Como qualquer entregador, não tem direito algum.  Esta é minha cidade...esse o meu povo

Homenagem a frei Giorgio Callegari, o "Pippo".

Hoje quero fazer memória a um grande herói da Históra do Brasil, o frei Giorgio Callegari. Gosto muito do monumento ao soldado desconhecido, porque muitos heróis brasileiros estão no anonimato, com suas tarefas realizadas na conquista da democracia que experimentamos. Mas é preciso exaltar estas personalidades cheias de vida e disposição em transformar o nosso país numa verdadeira nação livre. Posso dizer, pela convivência que tive, que hoje certamente ele estaria incomodado com as condições em que se encontra grande parte da população brasileira,  pressionando dirigentes e organizando movimentos para alcançar conquistas ainda maiores, para melhorar suas condições de vida. Não me lembro bem o ano em que nos conhecemos, deve ter sido entre 1968 e 1970, talvez um pouco antes. Eu era estudante secundarista, e já participava do movimento estudantil em Pinheiros (Casa do estudante pinheirense - hoje extinta), e diretamente no movimento de massa, sem estar organizado em alguma escola,