Despedida (em memória de Carlos Drumond de Andrade) - DIA D



No Dia D em que se comemora o aniversário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, não poderia deixar de reverenciá-lo pela grande contribuição que trouxe para a alma brasileira, desvendando-a em sua riqueza de detalhes, em sua naturalidade.

Como trouxe a poesia para uma linguagem fácil e acessível sem deixar sua profundidde e erudição.

Quando faleceu escrevi este poema "Despedida", no meu livro "Dito pelo não dito"de 1988, um ano após sua partida.

Tenho este registro como um selo gravado em meu ser, que me acompanha até hoje, já tantos anos depois.

Drummond fez várias gerações de poetas.

Mostrou que era possível escrever poemas saindo do racionalismo concretista, e do romantismo métrico, mostrando apenas a alma. Era suficiente e ele o fez.


Despedida

Tuas mãos não regem mais palavras.
Falta-te o ar,
sopro do verso.

Estás imóvel
sereno
 como sempre.

Não tens mais a pedra
o caminho findou.

Temos nós sós
órfãos da magia
de fazer a vida
simples e natural.

Nunca nos encontramos
para provar da afinidade
era redundante.

Tanto perseguíamos os destinos
e mais descobríamos o vulgar.

Voltava da guerra
com a ilusão do conquistador
e a consciência do vencido
e tu me acalmavas
acalmavas.

A noite não me descobre
os mundos mais.
Está silenciosa dos sonhos
compactuando-se com tua ausência.

Vai!
já que não posso impedir
mas lembra-te!
A alma do Brasil
maduro e calmo
que refletiste
que nos faz recordar
de nós mesmos
perdidos
nos emaranhados
sociais
a alma do é porque é
esta continua
com a gente

Bom sono, poeta
desperta com Deus.


   
Deixo um artigo de ana Clara Brant, retirado do Estado de Minas, para complementar as informações deste símbolo de nossa poesia

No poema O tempo passa? Não passa, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), há um verso que demonstra o quanto o escritor itabirano não dava importâncias às datas: “São mitos do calendário tanto o ontem como o agora, e o teu aniversário é um nascer toda a hora…”. E é exatamente o espírito dessa frase que os organizadores do Dia D, que será promovido amanhã, quando o mineiro completaria 109 anos, querem disseminar. “A intenção é esta: realizar esse evento todos os anos, não só aqui, já que é uma iniciativa do Instituto Moreira Salles (IMS). Queremos que a ideia se espalhe por todos os cantos e faça parte do calendário cultural do país, sem ser feriado. Que seja algo automático e corriqueiro para todos. Drummond merece ser sempre celebrado”, declara Eucanaã Ferraz, um dos curadores do projeto e consultor de literatura do IMS.
O Dia D Drummond é inspirado em iniciativa semelhante, quando não só os irlandeses mas gente de todo os cantos festejam o escritor James Joyce, anualmente, em 16 de junho, com o Bloomsday. Para Flávio Moura, outro curador do projeto, o objetivo do instituto é promover e difundir a obra do mineiro. E, para isso, está convocando parceiros e amigos para comemorar a data, em todo o Brasil, e até em Portugal, seja nas escolas, universidades, livrarias, museus ou até mesmo sozinho. “É mais uma oportunidade de reverenciar Carlos Drummond de Andrade. Este ano, o instituto servirá como difusor, para que, nos anos futuros, as pessoas possam organizar por conta própria suas comemorações. Vamos ter uma programação intensa em várias cidades, como Rio, São Paulo, principalmente, e também em Itabira e Belo Horizonte, com a exibição de filmes e documentários, recitais de poesia, debates. Temos despertado o interesse e a simpatia de muita gente e atraído muitos parceiros”, revela Flávio.
No começo do mês, foi lançado o site www.diadrummond.com.br, que traz todas as atividades ligadas ao evento e ainda oferece aos admiradores da obra do poeta oportunidade para enviar por e-mail seus próprios vídeos com leituras de poemas de Drummond. O material resultará em novo filme. “O interessante é que o que nos chegou até agora são declamações de poemas nada convencionais”, repara Flávio Moura. O site também terá conteúdo especial, como o filme Consideração do poema, produzido pelo IMS justamente para 31 de outubro, no qual nomes importantes da cultura brasileira leem poemas de Carlos Drummond de Andrade, entre eles Chico Buarque, Caetano Veloso, Fernanda Torres, Adriana Calcanhotto, Cacá Diegues, Antonio Cícero, Paulo Henriques Britto e Marília Pêra.Enquanto isso...
...em itabira
O projeto Caminhos drummondianos, nome do museu de território que resgata a história de Itabira por meio da poesia de Carlos Drummond de Andrade, está com placas novas revitalizadas pela Vale e deverá se expandir para outras cidades que têm ligação com a poesia drummondiana, como Belo Horizonte, Mariana, Rio de Janeiro e distritos de Itabira, como Senhora do Carmo e Ipoema. O projeto consiste em 44 placas com poemas de Drummond espalhadas por locais que inspiraram o poeta. “Fiz a pesquisa dos locais que tinham a ver com cada poema e alguns desses espaços como a praça onde fica a maria-fumaça, em Itabira, que tem a placa ‘O maior trem do mundo’, foi toda restaurada. Outros locais estão tendo melhorias também. A prefeitura da cidade está investindo nisso”, adianta a professora Dadá Lacerda.

110 anos
O ano de 2012 vai marcar os 110 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade e os 25 de sua morte, datas que prometem uma série de novidades. O poeta vai ganhar casa nova, ou seja, depois de 27 anos tendo seus livros publicados pela Record, a Companhia das Letras começa a reeditar toda a obra do escritor, com novo projeto gráfico e conselho editorial próprio. Drummond também será homenageado em Paraty, já que será o tema da Flip do próximo ano.
Por Ana Clara Brant, do Estado de Minas

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